Os túmulos dos faraós sempre foram estruturas elaboradas, desde o início da I dinastia (c. 2920 a 2770 a.C.). Formados por câmaras funerá-rias subterrâneas sobrepostas por grandes construções retangulares de adobe, baixas em proporção aos seus compri-mentos e com um telhado convexo, são conhecidos modernamente como mastabas. Na ilustração acima uma visão artística de como seria uma delas. As laterais eram pintadas com padrões bem coloridos que representavam, provavelmente, os tecidos pendurados no exterior dos prédios seculares. Inicialmente tais estruturas apresentavam profundos recessos em todas as laterais, provavelmente para imitar as fachadas dos palácios da época.
Posteriormente os recessos foram reduzidos a dois, colocados nas extremidades norte e sul do lado leste. Esses recessos serviam como falsas-portas, um deles abrigando a capela para a prática do culto funerário. As partes subterrâneas das tumbas continham muitas câmaras dedicadas aos deuses funerários de menor importância. A pedra era usada de forma limitada, para revestir a câmara funerária, para umbrais de portais e como portas corrediças que bloqueavam as passagens. De modo geral a pedra servia para dar maior segurança à câmara funerária. Muitas das modificações nos projetos e nas técnicas do desenvolvimento da arquitetura tumular nesse período inicial foram resultado das tentativas de tornar o sepulcro menos vulnerável aos ladrões.
Dois cemitérios com muitos túmulos importantes do Período Dinástico Primitivo (c. 2920 a 2575 a.C.) foram encontrados em Abido e Saqqara. Antigamente os arqueólogos acreditavam, por algumas evidências, que os faraós da I dinastia houvessem construido dois túmulos, um em cada uma daquelas localidades, sendo um deles, obviamente, apenas um cenotáfio. Hoje sabemos que isso não é verdade. Na realidade as tumbas reais daquela dinastia estão em Abido, enquanto que as tumbas em Saqqara daquele período pertenceram àqueles que serviram o rei durante sua vida. Nos dois locais os túmulos continham muitos objetos pequenos que revelaram a habilidade técnica e o desenvolvimento artístico dos egípcios já no começo do período histórico. Nestas tumbas foram encontrados elementos arquitetônicos em pedra — os primeiros do Egito — e vigamentos no teto de tal envergadura que a madeira deve ter sido importada das florestas costeiras da Ásia ocidental.
Por sua vez, todas as tumbas dos reis da II Dinastia (c. 2770 a 2649 a.C.) estão debaixo do templo funerário de Wenis (c. 2356 a 2323 a.C.), exceto duas tumbas dos dois últimos reis daquela dinastia, Peribsen e Khasekhemwy, que estão enterrados em Saqqara. Na III dinastia (c. 2649 a 2575 a.C.) surge Djoser (c. 2630 a 2611 a.C.) e seu arquiteto Imhotep e o monumento mais notável atribuído a ambos é a pirâmide de degraus de Saqqara, que vemos à direita, com seus muros que cercam muitas construções ligadas às cerimônias rituais executadas pelo rei. Essa concepção arquitetônica de um conjunto funerário é a característica extraordinária do monumento a demonstrar que a civilização egípcia amadurecia. A forma de pirâmide em degraus foi usada pelos reis posteriores da III dinastia, mas acabou sendo superada pela pirâmide verdadeira, sendo que a alteração do formato provavelmente teve a ver com mudança nas crenças religiosas.
A expansão do poder ocorrido durante a IV dinastia (c. 2575 a 2465 a.C.) ficou bem demonstrada pelos monumentos que restaram daquele período no qual a construção de pirâmides atingiu seu apogeu. O cume do desenvolvimento pode ser visto na Grande Pirâmide. Essa estrutura, que domina o planalto de Gizé, um pouco ao norte de Mênfis, a oeste do Nilo, permanece como uma das mais notáveis construções jamais erguidas pelo homem. Na foto ao lado vemos, da esquerda para a direita, a pirâmide de Miquerinos, a de Kéfren e a de Kéops. Atualmente existe consenso entre os egiptólogos de que estas grandes estruturas não eram erguidas por escravos, mas sim pelos trabalhadores agrícolas que ficavam sem trabalho no período da inundação nilótica. Então, havia mão-de-obra em abundância e a enchente tornava relativamente fácil transportar as pedras das colinas a leste do rio para o planalto desértico no qual as pirâmides se erguiam. As pirâmides reais estavam cercadas pelas mastabas dos membros da família do faraó e dos nobres que o serviam na corte e nos diversos nomos. É possível que a esfinge tenha sido erguida por ordem de Kéfren, representando-o como o deus-Sol, para servir como uma espécie de guardiã desse cemitério.
Os faraós da V dinastia (c. 2465 a 2323 a.C.) continuaram a erguer pirâmides, algumas em Abusir e outras em Saqqara, mas todas muito menores do que as grandes estruturas de Gizé. Entretanto, elas foram grandemente melhoradas com relevos decorativos extremamente bem pintados, e com uma variedade de detalhes arquitetônicos executados em pedra calcária, bem como em pedras mais duras, nos templos das pirâmides e construções auxiliares. A manutenção dos serviços relacionados com os cultos dos sucessivos reis mortos era conseguida com o estabelecimento de fundações suportadas por concessões de terras livres de pesados impostos e corvéias. São dessa época a pirâmide de Userkaf e a pirâmide de Sahure, essa última na foto acima. O último faraó do período, Wenis, introduziu uma inovação de grande importância em sua pirâmide: as paredes da câmara sepulcral e de seu vestíbulo foram cobertas com textos religiosos relacionados ao destino do rei após sua morte. Tais textos são conhecidos na atualidade como textos das pirâmides e também surgem em pirâmides da VI dinastia (c. 2323 a 2150 a.C.) como, por exemplo, na pirâmide de Pepi II (c. 2246 a 2152 a.C.).
Passado o traumático Primeiro Período Intermediário (c. 2134 a 2040 a.C.), o faraó da XI dinastia (c. 2134 a 1991 a.C.) que reunificou o país, Nebhepetre Mentuhotepe (c. 2061 a 2010 a.C.), mandou construir seu túmulo de acordo com um planejamento altamente original em uma baía nas escarpas de Deir el-Bahari, na margem oeste do rio Nilo, em Tebas. Foi uma mudança dramática na forma de erguer um túmulo real. Os relevos que decoram o templo funerário foram esculpidos de forma esmerada e retomaram muito daquilo que houvera de melhor na arte menfita do final do Império Antigo (c. 2575 a 2134 a.C.).
Na XII dinastia (1991 a c. 1783 a.C.) aconteceu a transferência da capital de Tebas, ao sul do país, para um local na entrada do Faium, ao norte, perto da junção do Alto com o Baixo Egito. A nova capital foi chamada de Iti-tauí e os faraós daquela época foram enterrados em pirâmides construídas nas vizinhanças, próximo da moderna cidade chamada el-Lisht, e também em Dahshur, em el-Lahun e em Hawara. No primeiro caso encontra-se, por exemplo, a pirâmide de Amenemhet I (1991 a 1962 a.C.). Em Dahshur temos, entre outras, a pirâmide de Amenemhet II (1929 a 1892 a.C.). Em el-Lahun fica a pirâmide de Sesóstris II (1897 a 1878 a.C.), que vemos na foto acima, e em Hawara, alguns quilômetros ao sul de Iti-tauí, está uma pirâmide de Amenemhet III (c. 1844 a 1797 a.C.).
Falando genericamente, os faraós da XII dinastia retornaram ao tipo tradicional de pirâmide, mas de tamanho e construção inferiores aos grandes projetos da IV dinastia. Em alguns casos os núcleos eram feitos com tijolos. Os templos associados e outras construções eram igualmente menos formidáveis. Todavia, grandes cuidados eram tomados na construção das câmaras internas destas pirâmides, sendo o trabalho executado com extrema exatidão nos materiais mais duros. Em certos casos o arranjo das passagens era deliberadamente complicado, com corredores em níveis diferentes, acessíveis apenas através de entradas ocultas. O propósito de tais medidas era o de proteger as riquezas funerárias dos assaltantes, mas em nenhum caso elas foram completamente eficazes.
Calcula-se que tenham sido cerca de 70 os faraós da XIII dinastia (c. 1783 a 1640 a.C.), mas os nomes de grande parte deles foram preservados apenas em monumentos e pequenos objetos. Dessa época foram localizadas apenas três pirâmides: uma em Dahshur e duas em Saqqara. Dentre estas, a pirâmide de Khendjer, 17.º rei daquela dinastia. Da XIV dinastia pouco sabemos, exceto que foi formada por um grupo de faraós de menor importância, talvez mais de 70, prováveis contemporâneos da XIII ou da XV dinastias.
Com a XV dinastia (c. 1640 a 1532 a.C.) os hicsos assumiram o poder. Seis reis, pelo menos, formaram essa dinastia e alguns deles foram soberanos realizadores e de grande vigor. Paralelamente, outros reis hicsos de menor importância formaram a XVI dinastia e seus nomes estão preservados principalmente em escaravelhos. Enterros reais nesse que foi chamado de Segundo Período Intermediário (c. 1640 a 1550 a.C.) continuaram a ser feitos em pirâmides. Os poucos restos que sobreviveram na região menfita mostram continuação do estilo construtivo da XII dinastia. Em Tebas nada restou das pirâmides dos faraós, mas traços encontrados nas escavações revelaram que teriam sido estruturas de adobe muito modestas.
Em Tebas surgiu o movimento que culminaria com a libertação do Egito do jugo hicso. Uma nova linhagem de soberanos formou o que chamamos hoje de XVII dinastia (c. 1640 a 1550 a.C.) e tentou preservar a cultura e tradição do Império Médio (c. 2040 a 1640 a.C.). Pirâmides desta dinastia são citadas em papiros, mas pouco delas foi encontrado. Um sarcófago de madeira, pertencente provavelmente ao primeiro rei desse período, Nubkeperre Inyotef V (c. 1640 a 1635 a.C.), foi achado por arqueólogos e encontra-se hoje no Museu Britânico de Londres. Como vemos na foto ao lado, a superfície da tampa é revestida por folhas de ouro. Seu comprimento é de 193 cm.
A pirâmide de Amósis (c. 1550 a 1525 a.C.), fundador da XVIII dinastia (c. 1550 a 1307 a.C.), foi talvez o último monumento deste tipo a ser construído por um faraó egípcio. Na realidade, estas montanhas de pedra e seus corredores intrincados nunca detiveram os ladrões de túmulos e é surpreendente que os faraós tenham insistido nesse tipo de estrutura por tão longo tempo.
Na busca de maior segurança para seus tesouros e restos mortais, foi em Tebas, local de origem dos faraós do Império Novo (c. 1550 a 1070 a.C.), que os reis guerreiros desse período resolveram construir a sua última morada, dedicada aos seus próprios cultos e ao de Amon, deus-herói da região, elevado, então, à categoria de deus nacional do Egito. Com esse objetivo Tutmósis I (c. 1504 a 1492 a.C.) escolheu um desfiladeiro remoto, selvagem e relativamente inacessível, na margem ocidental do Nilo, conhecido atualmente como Vale dos Reis. Ali os túmulos faraônicos foram cavados. Alguns, como o de Seti I (c. 1306 a 1290 a.C.) por exemplo, cuja planta vemos à esquerda, formando um vasto complexo de salas e corredores que penetravam na rocha por centenas de metros, decorados com trechos extraídos dos livros sagrados; outros, como o de Tutankhamon (c. 1333 a 1323 a.C.), constituídos apenas de umas poucas e modestas câmaras, na maior parte sem decoração.
A sala mais profunda era geralmente a câmara mortuária, sendo as demais reservadas ao armazenamento do material e à realização das cerimônias funerárias. As paredes eram revestidas de textos mitológicos e imagens destinadas a facilitar a trajetória do rei morto até seu destino final no além-túmulo. Os templos mortuários e do vale não eram mais construídos em íntima conexão com a tumba. Cada rei erguia um único templo mortuário no limite da área cultivável, na margem oeste do Nilo, a alguma distância do Vale dos Reis.
Um projeto diferente foi adotado para o túmulo e templos da rainha Hatshepsut (c. 1473 a 1458 a.C.), que vemos abaixo. Um templo do vale foi erguido no limite da área cultivável e ligado por uma longa calçada a um templo mortuário de características fora do comum, formado por uma série de terraços abertos com colunatas, construído em um recôncavo nas escarpas de Deir el-Bahari, próximo do templo mortuário deixado por Mentuhotepe. O túmulo real propriamente dito foi cavado na escarpa. Ultimo faraó da XVIII dinastia, Haremhab (c. 1319 a 1307 a.C.), abandonou o Vale dos Reis e construiu sua esplêndida tumba na necrópole de Saqqara.
Os cuidados dos soberanos com a segurança foram inúteis: apenas a tumba de Tutankhamon foi encontrada praticamente intacta. Cerca de 30 outros faraós não tiveram a mesma sorte e seus túmulos já haviam sido saqueados no final do Império Novo. E diga-se que as tumbas reais e seus tesouros estavam em lugares secretos! A parte pública do memorial era o templo mortuário, construído junto a diversos outros localizados na planície que flanqueava a margem ocidental do Nilo em Tebas, separada do Vale dos Reis por uma cadeia de colinas. A maioria de tais templos hoje em dia são pouco mais do que montes de escombros, mas alguns deles ainda nos impressionam por sua magnitude. É o caso do templo mortuário da rainha Hatshepsut (c. 1473 a 1458 a.C.), que domina o anfiteatro de Deir el-Bahari e apresenta em suas paredes, entre outras, cenas da importante expedição comercial realizada para a região de Punt; o templo de Ramsés II (c. 1290 a 1224 a.C.), conhecido atualmente como Ramseum, e o templo mortuário de Ramsés III (c. 1194 a 1163 a.C.) em Medinet Habu, centro administrativo da necrópole tebana durante o final da XX dinastia (c. 1196 a 1070 a.C.), do qual vemos uma parte na foto ao lado.
Foi também no final da XX dinastia que os egípcios descobriram que os túmulos reais de Tebas estavam sendo saqueados em grande escala. Muitos dos documentos referentes às investigações sobre os culpados e às ações legais tomadas em seguida foram encontrados por arqueólogos. No decorrer da XXI dinastia (c. 1070 a 945 a.C.) os sumos sacerdotes se preocuparam em salvar as antigas tumbas reais de Tebas, cujos saques haviam causado tantos escândalos na dinastia anterior. As múmias que haviam permanecido ilesas foram, em muitos casos, envoltas em novas bandagens e, juntamente com aquilo que restou de seus equipamentos funerários, transferidas para o túmulo da rainha Inhapy, em Deir el-Bahari, e para o túmulo de Amenófis II (c. 1427 a 1401 a.C.), no Vale dos Reis. Aí permaneceram, junto com os restos dos sumos sacerdotes da XXI dinastia e de seus familiares, até nosso século XIX. De tais esconderijos veio, por exemplo, o Livro dos Mortos de Herihor e sua mulher, Nodjmet, do qual vemos, acima, um detalhe.
Em Tanis, no delta nilótico, foram encontradas algumas tumbas de reis da XXI dinastia (c. 1070 a 945 a.C.) e da XXII (c. 945 a 712 a.C.), constituídas por câmaras de pedra construídas logo abaixo do solo, com modestas superestruturas por cima. Ficavam situadas dentro dos muros do templo da cidade. Os reis etíopes da XXV dinastia (c. 770 a 657 a.C.) foram enterrados em sua capital sulista, Napata, onde construíram pequenas pirâmides nas quais os ângulos de inclinação eram bem menos agudos do que os das tradicionais pirâmides egípcias. No sítio de Kurru, 13 km ao sul de Napata, foram erguidas, entre outras, a pirâmide de Piye (c. 750 a 712 a.C.) e a pirâmide de Shabaka (c. 712 a 698 a.C.). Já ao norte de Napata, no sítio de Nuri, foi construída a pirâmide de Taharqa, o penúltimo rei daquela dinastia. Uma ou mais câmaras subterrâneas eram abastecidas para o funeral e, em alguns casos, as paredes de uma destas câmaras estavam decoradas com a Confissão Negativa do Livro dos Mortos. Poucas tumbas reais do Período Tardio (c. 712 a 332 a.C.) foram descobertas e as necrópoles dos reis das diversas dinastias dessa época permanecem, na maior parte dos casos, não identificadas. Sobre os túmulos dos reis do Período Ptolomaico (304 a 30 a.C.) pouco se sabe.
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