O terceiro faraó da XII dinastia, Amenemhet II, filho de Sesóstris I, reinou, exatamente, garantem os arqueólogos, entre 1929 e 1892 a.C. Sua pirâmide, bem como as de dois de seus sucessores, foi construída em Dahshur. Conhecida modernamente como Pirâmide Branca, os antigos egípcios chamavam-na de Pirâmide Grandiosa ou de Amenemhet É Forte. Foi localizada muito danificada para que se possa saber suas medidas exatas. Nenhum bloco do seu revestimento foi encontrado durante as escavações. Na realidade, o monumento ficou famoso não por ele em si, mas pelo tesouro encontrado em mastabas que o circundavam. Uma notável coleção de ricas jóias e ornamentos pessoais tais como pulseiras, peitorais, gargantilhas e colares pertencentes a quatro filhas do faraó, de nomes Iti, Khnemt, Itiwert e Stimerhut estavam em suas respectivas tumbas situadas no lado oeste da pirâmide real. São peças que demostram a habilidade técnica e o gosto artístico dos artesãos egípcios como, por exemplo, essas garras de pantera que são vistas acima.
A Pirâmide de Sesóstris II
Sesóstris II foi o quarto faraó da XII dinastia e teve a datação do seu período de reinado feita com precisão pelos arqueólogos que o situaram entre 1897 e 1878 a.C. Seu monumento, cujo nome para os antigos egípcios era Pirâmide Brilhante ou Sesóstris É Forte, foi erguida em el-Lahun, localidade próxima da região do Fayum, e media 48 metros de altura. Sua estrutura era um pouco diferenciada em relação às pirâmides anteriores. Até uma altura de 12 metros e 20 centímetros era formada por um pequeno monte rochoso e acima desse nível havia uma série de paredes de arrimo erguidas com pedras calcárias. As paredes se irradiavam a partir do centro do monumento, com o espaço entre elas preenchido com tijolos de lama. Tudo estava revestido da maneira usual com blocos de pedra calcária polida, sendo que a camada inferior do revestimento estava enterrada no substrato rochoso para garantir maior estabilidade a toda a estrutura. Ao redor dos quatro lados da base existia um fosso raso cheio de areia para absorver a água da chuva que escorresse pelas faces do monumento. Dois muros circundavam a pirâmide: um de pedra, bordejando o fosso, e outro de tijolo, mais adiante, originalmente revestido com pedra calcária. Além dessa última parede havia uma fileira de árvores plantadas em covas feitas na rocha e preenchidas com terra.
A entrada do monumento estava situada no lado sul, posição totalmente invulgar, pois o normal era que ela se localizasse na face norte. Um poço descia verticalmente até uma passagem escavada a uma profundidade de 12 metros e 20 centímetros que, por sua vez, num trajeto sinuoso, levava à câmara
funerária construída inteiramente em granito. Havia ainda um segundo poço mais largo que atingia a mesma passagem. Ao que parece, foi esse último poço utilizado para baixar o sarcófago de granito vermelho encontrado na câmara funerária, já que o primeiro poço era mais estreito do que a largura do ataúde. O arqueólogo Flinders Petrie considerava esse sarcófago um dos mais perfeitos trabalhos jamais executados nesse material tão duro e de dificil manuseio. O paralelismo, de acordo com os seus cálculos, é quase perfeito, com erros que não ultrapassam um sexto de polegada. A câmara funerária continha também uma mesa de oferendas feita de alabastro.
Junto ao canto nordeste da pirâmide sobraram restos de uma pequena pirâmide subsidiária. Embora Petrie a tenha investigado, não conseguiu encontrar qualquer evidência de uma câmara funerária. Entre os dois muros que rodeavam a pirâmide, no lado sul, os arqueólogos localizaram quatro tumbas cavadas no solo destinadas a membros da família real. Numa delas foi descoberta uma coleção de jóias e ornamentos pessoais pertencentes à proprietária da tumba, uma princesa de nome Sat-Hathor-Iunut. A ilustração ao lado mostra um dos diademas da princesa, em ouro e pedras semipreciosas, com 47 centímetros de altura. Entre as peças mais importantes — descreve I.E.S.Edwards —, estavam um magnífico diadema de ouro, dois peitorais de ouro incrustados com vidro e pedras preciosas, um trazendo o nome de Sesóstris II e o outro o nome de Amenemhet III, colares formados por fios feitos de ouro, ametista, cornalina, lápis-lazúli e feldspato, um colar de ouro formado por fios com a forma de cabeças duplas de leão, cintos de ouro e pedras preciosas, braceletes
e brincos. Os objetos de toalete incluiam navalhas com lâminas de cobre e cabos de ouro, vasos de alabastro para unguêntos e cosméticos, outros vasos destinados ao mesmo propósito, mas feitos de obsidiana polida e parcialmente revestidos com ouro, e um espelho de prata com cabo de obsidiana e ouro. Toda a coleção tinha sido colocada originalmente em três estojos para jóias, dos quais pelo menos um era revestido com ouro, marfim, cornalina e faiança azul.
A Pirâmide de Sesóstris III
Sesóstris III, filho de Sesóstris II, é outro dos faraós que teve seu período de reinado determinado com exatidão pelos egiptólogos, segundo os quais ele reinou entre 1878 e 1841 a.C., tendo sido assim o quinto faraó da XII dinastia. Sua pirâmide foi edificada em Dahshur, ao norte do monumento de Amenemhet II, com altura original de 78 metros e 50 centímetros, empregando tijolos em sua estrutura interna e sendo revestida de blocos de calcário. Na construção de sua refinada câmara funerária e de seu sarcófago, foi utilizado granito vermelho. A entrada da pirâmide situa-se no pátio do lado oeste do monumento.
Entre os túmulos da família real, situados no lado norte da pirâmide, os das princesas Sat-Hathor e Merit continham coleções de preciosas jóias e ornamentos pessoais, tão valiosas quanto as que foram enterradas com as princesas dos faraós Amenemhet II e Sesóstris II. Assim como nos casos anteriores, estas jóias — acreditam os egiptólogos — devem ter sido realmente usadas pelas princesas durante suas vidas. Ao sul do muro que cercava a pirâmide de Sesóstris III foi encontrada uma câmara subterrânea contendo dois botes de madeira. Como nenhum símbolo de natureza solar foi enterrado com tais botes, parece mais provável que eles realmente tenham sido usados no transporte do corpo do rei ou de alguns de seus bens pessoais para a pirâmide e não tenham sido destinados a representar os barcos diurno e noturno do deus-Sol.
As Pirâmides de Amenemhet III
O sexto faraó da XII dinastia, Amenemhet III, reinou aproximadamente entre 1844 e 1797 a.C. e construiu não apenas uma, mas duas pirâmides. A primeira é conhecida modernamente como Pirâmide Negra e o nome que os antigos egípcios lhe davam era, provavelmente, Amenemhet É Belo. Está localizada em Dahshur, ao sul do monumento de Amenemhet II, utiliza tijolos em sua estrutura interna e a altura original era de 81 metros e 50 centímetros. Não havia paredes internas de pedra calcária que pudessem estabilizá-la e existem algumas evidências de que ela se tornou instável. Seu cume era coroado por um magnífico piramídion, ou seja, uma cimalha em forma de pirâmide, feito de granito cinza-escuro. Sua entrada situa-se no pátio do lado oeste do monumento. No lado norte da pirâmide foram localizados túmulos da família real, entre os quais o da princesa Nubhotep continha uma coleção de preciosas jóias e ornamentos pessoais tão valiosa quanto as que foram enterradas com as princesas dos faraós Amenemhet II e Sesóstris II. Assim como nos casos anteriores, estas jóias — acreditam os egiptólogos — devem ter sido realmente usadas pela princesa durante sua vida.
Porque esse faraó resolveu construir uma segunda pirâmide não se sabe. Talvez apenas desejasse edificar um monumento maior e mais complexo, ou talvez a primeira pirâmide tivesse apresentado problemas estruturais. Presume-se que seu corpo não tenha sido enterrado em Dahshur. Seja como for, no 15.º ano de seu reinado foi iniciada a construção de uma segunda pirâmide situada em Hawara, na região do Faium. Tinha originalmente 58 metros de altura e os antigos egípcios chamavam-na de Amenemhet Vive. Sua estrutura era composta principalmente por tijolos de lama e revestida por uma camada de pedra calcária. A entrada do monumento fica em sua face sul, deslocada para oeste cerca de 24 metros de seu centro. A partir dai, um lance de escadas (1) desce até uma pequena câmara (2), além da qual há uma curta passagem sem saída. No teto dessa passagem, entretanto, existe um bloco de pedra (3), pesando 20 toneladas, que desliza para o lado, formando assim um alçapão através do qual se tem acesso a uma segunda câmara (4) que, por sua vez, conduz a dois corredores. O primeiro deles (5) estava originalmente totalmente bloqueado, mas tratava-se apenas de um beco sem saída destinado a desestimular os salteadores de sepulturas da antiguidade. O outro corredor (6), que paradoxalmente estava fechado apenas com uma porta de madeira, muda de direção em ângulo reto por duas vezes e nesses pontos (7) (8) existem alçapões idênticos ao primeiro e que foram encontrados abertos pelos arqueólogos. Ao final desse sinuoso corredor fica uma grande antecâmara (9). No piso de cada extremidade desse recinto foi cavado um poço falso que a seguir foi preenchido com pedras, mais uma vez para iludir os salteadores na sua busca pela câmara funerária. Visando o mesmo objetivo, toda a metade setentrional do recinto foi bloqueada, mas apenas a parede existe além do bloqueio.
A maneira pela qual a câmara funerária (10) foi preparada nos é descrita pelo arqueólogo I.E.S.Edwards: Antes de ser construída a estrutura externa da pirâmide, uma grande cova retangular foi cavada na rocha em um ponto um pouco a oeste do centro da área que seria coberta pela base da pirâmide. Nessa cova, depois dela ter sido revestida com pedra, foi encaixada a câmara mortuária, formada por um único bloco de quartzito amarelo e moldada como uma caixa sem tampa. As dimensões dessa enorme "caixa" era de cerca de seis metros e 70 centímetros de comprimento por dois metros e 44 centímetros de largura, um metro e 83 centímetros de altura e 60 centímetros de espessura, sendo que seu peso atingia cerca de 110 toneladas. Apesar de ser construída com material bastante duro, a câmara era muito bem cortada e polida, com os lados planos e regulares. Seus cantos internos eram tão agudos que, à primeira vista, pareciam junções de três pedras. O teto da câmara era formado por três blocos de quartzito amarelo, com cerca de um metro e 20 centímetros de espessura cada um (11), colocados lado a lado. Tais blocos não se escoravam diretamente sobre as paredes da câmara. Eram sustentados por carreiras de blocos de pedra (12) que se apoiavam no topo das paredes do compartimento e que serviam para elevar a altura do seu teto. Acima da câmara funerária havia duas outras câmaras destinadas a melhor distribuir o peso de toda a estrutura. A primeira com teto plano (13) e a segunda com teto em ponta (14), construído com blocos de pedra calcária pesando cerca de 50 toneladas cada um. Como coroamento, um enorme arco de tijolos (15), com 90 centímetros de espessura, se projetava por sobre o teto em ponta, visando suportar o âmago da pirâmide.
Durante a cerimônia de sepultamento, um dos blocos de pedra dos três que formavam o teto da câmara funerária — o que se encontrava mais próximo da antecâmara — permaneceu erguido, criando, assim, uma entrada que podia ser alcançada através de uma passagem aberta no piso da antecâmara. Por esse caminho os egípcios introduziram a múmia de Amenemhet III no recinto. Um grande sarcófago de quartzito já estava lá, pronto para recebê-la. Havia, também, um sarcófago menor do mesmo material destinado à princesa Neferu-Ptah e estojos
canopos também de quartzito. Após o enterro, o bloco que completaria o teto da câmara funerária, que havia permanecido suspenso e que pesava cerca de 45 toneladas, foi baixado e a passagem da antecâmara foi bloqueada e recoberta com o piso, tornando teoricamente impossível aos salteadores descobrirem o caminho que levava ao sarcófago. Diga-se de passagem que tudo foi em vão. Os arqueólogos encontraram a câmara funerária despojada de todos os objetos móveis, enquanto que os corpos e os ataúdes de madeira que jaziam dentro dos sarcófagos haviam sido queimados.
O vasto templo funerário dessa pirâmide, situado ao
sul dela, ficou conhecido pelos autores clásicos como O Labirinto e, de fato, foi projetado como uma espécie de labirinto. A construção mede 305 metros de comprimento por 244 de largura, ou seja, cobre uma área de mais de 74 mil metros quadrados. É completamente diferente de todos os outros templos mortuários conhecidos. Ao invés de ser formado por uma série de pátios e corredores que levam a um santuário, era
constituído por um grande número de pátios separados dispostos em fileiras. Infelizmente, foi encontrado muito danificado pelos arqueólogos para que fosse possível distinguir os seus detalhes arquitetônicos.
As Pirâmides de MazghunaNa localidade de Mazghuna, situada a aproximadamente cinco quilômetros ao sul de Dahshur, foram encontrados os escombros de duas pirâmides, das quais apenas hipóteses puderam ser feitas com relação a seus proprietários. O arqueólogo que as encontrou, baseado em detalhes construtivos e em aperfeiçoamentos técnicos existentes nos dispositivos de bloqueio do interior dos monumentos, atribuiu sua construção aos dois últimos faraós da XII dinastia: Amenemhet IV, que reinou aproximadamente entre 1799 e 1787 a.C., e Nefrusobk, uma mulher que teria ocupado o trono do Egito mais ou menos entre os anos de 1787 e 1783 a.C. Outros estudiosos, entretanto, acreditam que ambas as pirâmides foram mandadas construir por reis da XIII dinastia de nomes desconhecidos. Uma dessas pirâmides tinha sua estrutura externa, hoje totalmente desaparecida, provavelmente em pedra, enquanto que a outra foi edificada com tijolos. Suas dimensões não puderam ser determinadas.
|