O quarto rei da XI dinastia foi um dos maiores faraós do Egito. Reinou aproximadamente entre 2061 e 2010 a.C. e construiu um complexo funerário impressionante em Tebas, numa profunda reentrância dos íngremes rochedos da margem oeste do Nilo, na região conhe-cida como Deir el-Bahari, quase em frente de Karnak. Os antigos egípcios exclamavam: Gloriosas São as Moradas de Nebhe-petre, quando queriam se referir a esse monumento. Contando com 250 colunas e 175 pilares, várias foram as admiráveis inovações arquitetônicas introduzidas nessa construção. Uma delas foi a colocação das diferentes partes do templo mortuário em terraços de altura variável.
A parte frontal do templo funerário era formada por um antepátio cercado de altos muros por três lados. Nesse recinto havia uma entrada para um cenotáfio: do fundo de uma cova larga partia uma longa passagem subterrânea, cavada na rocha, com mais de 140 metros de comprimento, que levava a uma ampla câmara funerária, situada por baixo da pirâmide. Tal câmara ficou inacabada e era provavelmente simbólica, servindo como local para celebração de cerimônias religiosas. Embora não
tenha sido violada por ladrões, nela só foram encontrados restos de oferendas, uma estátua representando o faraó sentado e envolto em linho da melhor qualidade, e um ataúde vazio de madeira. Sob essa câmara e a ela ligada por um poço vertical, havia outro recinto no qual foram encontrados apenas alguns potes e três barcos rústicos de madeira.
Na extremidade oeste do antepátio havia uma colunata com duas fileiras de colunas quadradas que encobriam a parede oriental da estrutura de suporte de um amplo terraço, sobre o qual foi construído o templo propriamente dito. Naquela parede, relevos pintados representavam cenas de batalha ilustrando uma campanha contra os asiáticos, procissões de cativos estrangeiros, companhias de soldados armados com arcos e uma frota de navios. Frente à colunata, e ao lado de uma rampa ascendente que levava ao terraço, estavam plantadas figueiras e tamargueiras formando uma espécie de bosque. As árvores estavam enterradas em covas de nove metros de profundidade, preenchidas com uma mistura de terra preta e areia do rio. A maioria das árvores era de tamargueiras. Havia apenas oito figueiras, dispostos em duas fileiras de quatro na beira da avenida que conduzia ao topo do terraço. Cada uma destas oito árvores sombreava uma estátua que representava o faraó sentado.
O terraço, que foi parcialmente escavado na rocha e parcialmente construído em alvenaria, suportava uma construção quadrada envolvida por uma arcada com pilares nos lados leste, sul e norte. Havia, tanto externa quanto internamente, relevos pintados nas quatro paredes desse edifício e sobre seu centro elevava-se a pirâmide. Esta era uma estrutura montada sobre uma alta base retangular, totalmente sólida, construída de pedra bruta revestida de pedra calcária polida e sem qualquer tipo de corredor ou câmara em seu interior. Entre a base retangular e as paredes da construção havia um passadouro cujo teto plano era suportado por fileiras de colunas octogonais. Depois dessa grande construção quadrada havia um claustro e uma sala hipostila com 18 colunas octogonais dispostas em 10 fileiras. Dentro da sala uma pequena capela protegia um altar e uma estátua do faraó colocada no interior de um nicho cavado no rochedo.
O verdadeiro túmulo real tinha sua entrada localizada no claustro. Dai partia um tunel, com cerca de 150 metros de comprimento, que descia em linha reta e passava por sob a sala hipostila até alcançar uma câmara funerária localizada debaixo do rochedo. O recinto era revestido de granito e nele foi achado um sarcófago de granito e alabastro, dentro do qual provavelmente existiria um ataúde de madeira pintada contendo a múmia do faraó. Dois pequenos barcos, alguns cetros quebrados, arcos e flechas também foram encontrados, mas nenhuma múmia ou ataúde estava lá.
Os arqueólogos localizaram por sob o piso, paredes e pilares do claustro, seis túmulos de mulheres da família real. Os achados mais interessantes e valiosos foram os sarcófagos de pedra calcária de duas rainhas de nome Kawit e Ashayt, ambos decorados externamente com belíssimos relevos. As cenas apresentam as rainhas em atos da vida cotidiana: fazendo a toalete com a ajuda de uma serva; saboreando leite de vacas que são mostradas acompanhadas de suas crias; visitando uma fazenda real na qual os componeses enchem os celeiros com milho e, ainda, preparativos para um banquete. O lado interno do sarcófago de Ashayt está decorado com cenas semelhantes, enquanto que o do sarcófago de Kawit apresenta apenas uma faixa de inscrições pintadas.
A calçada que unia o templo funerário ao templo do vale se estendia por cerca de 1207 metros, tinha 46 metros de largura, era desprovida de cobertura e ladeada por paredes de pedra. Estátuas em pedra lioz, representando o rei portando os emblemas do deus Osíris, estavam postadas de nove em nove metros junto às paredes internas desse corredor.
A Pirâmide de Amenemhet I
O fundador da XII dinastia, Amenemhet I, reinou, asseguram os arqueólogos, exatamente entre 1991 e 1962 a.C. e construiu seu conjunto funerário em dois niveis, em uma área escalonada situada na localidade de el-Lisht. Na parte superior do terreno ficava a pirâmide, cuja altura original era de cerca de 55 metros, circundada por uma parede de pedra. A exemplo das pirâmides da VI dinastia, essa era formada por paredes de alvenaria com miolo solto de adobe, entulho e areia, tudo reforçado com revestimento da excelente pedra calcária local. A oeste da pirâmide, no mesmo nivel e fora dos muros, havia uma fileira de túmulos pertencentes aos membros da familia real. Todos eles foram totalmente saqueados na antiguidade.
A leste da pirâmide existe um segundo nivel de terreno, menor e mais baixo, onde se situava o templo funerário, decorado com desenhos em relevo copiados do Império Antigo, e tumbas de uns poucos cortesãos favorecidos pelo rei. Tanto os terraços quanto os túmulos adjacentes eram circundados por uma parede retangular de tijolos. Do lado de fora dessa última parede existia um cemitério com mastabas de uma centena de nobres e oficiais. Diversos nomes foram dados pelos antigos egípcios a esse monumento como, por exemplo, Pirâmide Alta e Bela, Pirâmide dos Lugares de Levantamento e Amenemhet É Alto e Belo. A área na qual essa pirâmide foi erguida encontra-se próxima à da necrópole menfita. O fato representava uma fonte de material de construção já pronto que foi utilizado e, assim, os arqueólogos encontraram no monumento muitos blocos decorados oriundos de templos reais anteriores, principalmente do Império Antigo. Acredita-se, inclusive, que certos blocos vieram dos complexos da pirâmide de Kéops e da pirâmide de Kéfren.
A entrada da pirâmide, vista na foto abaixo, fica no centro de sua face norte, ao nível do solo, e foi investigada pela primeira vez em 1882 pelo arqueólogo Gaston Maspero. Frente a ela havia uma capela de oferendas com uma falsa-porta de granito vermelho, com três metros e 50 centímetros de altura, esculpida na parede dos fundos. Por trás da falsa-porta um corredor revestido de granito conduzia à câmara funerária. Após o enterro do faraó essa passagem foi bloqueada por enormes tampões de granito. Os arqueólogos não conseguiram até hoje penetrar além desse corredor. O nível do leito do Nilo subiu desde a antiguidade e a câmara funerária foi invadida pelas águas e ali elas correm tão rápida e violentamente que os esforços para alcançá-la foram infrutíferos.
A Pirâmide de Sesóstris I
Sesóstris I, filho de Amenemhet I, foi o segundo faraó da XII dinastia e reinou, dizem os estudiosos, exatamente entre 1971 e 1926 a.C. Sua pirâmide foi edificada cerca de 1600 metros ao sul da de seu predecessor e atingia uma altura de, aproximadamente, 61 metros. Pirâmide que É Favorecida dos Lugares, Pirâmide Sobranceira às Duas Terras e Aquela que É Associada às Moradas de Sesóstris, foram alguns dos nomes dados pelos antigos egípcios a esse monumento.
Sua estrutura era constituída por oito grossas paredes de pedra que irradiavam do centro em direção aos quatro cantos do monumento e ao centro de cada uma de suas faces. Os oito compartimentos assim formados foram divididos em duas seções de tamanhos desiguais por meio de paredes construídas paralelamente às faces da pirâmide e colocadas mais ou menos a meio caminho entre os lados do monumento e o seu centro. Esses 16 compartimentos foram preenchidos com pedras calcárias em estado bruto, assentadas sobre areia, sendo que toda essa massa foi mantida coesa por um pesado revestimento feito com blocos bem talhados de pedra calcária.
No centro da face norte do monumento havia uma capela de oferendas (1) e debaixo do seu piso estava situada a entrada da pirâmide. Dai partia um túnel quadrado, com apenas 94 centímetros de lado, que descia obliquamente até atingir a câmara funerária. Por cerca de 11 metros de extensão ele estava revestido com placas de pedra calcária polida e depois com lajes de granito vermelho, de encaixe perfeito. Alguns fragmentos de objetos de alabastro com o nome do faraó Sesóstris I foram encontrados no interior da construção, mas nada se sabe sobre a câmara funerária pois, a exemplo do que aconteceu com a da pirâmide de Amenemhet I, ela se encontra sob as águas do Nilo.
O projeto do templo funerário desse conjunto foi copiado dos monumentos semelhantes da VI dinastia, sobretudo do de Pepi II. Em seu vestíbulo de entrada (2) havia, junto às paredes, estátuas do rei representado como o deus Osíris. Seis delas foram encontradas pelos arqueólogos. No recinto seguinte, um claustro (3), também havia estátuas do rei, provavelmente encostadas em cada um dos 24 pilares retangulares que sustentavam o teto da galeria. Dez delas foram encontradas nas escavações. Feitas de pedra calcária da melhor qualidade, as estátuas tinham expressões faciais ligeiramente diferentes, mas no restante eram semelhantes. De tamanho natural, representavam o faraó sentado no trono e usando os costumeiros trajes reais. Outras estátuas, representando o rei em pé, estavam colocadas atrás das portas de madeira dos cinco nichos (4) existentes no interior do templo. A construção se completava com alguns armazéns, antecâmaras e um santuário (5).
A calçada (6) que ligava o templo do vale ao templo funerário tinha cerca de dois metros e 44 centímetros de largura e estava ladeada por paredes de pedra calcária decoradas, assentadas sobre uma base quadrangular salpicada de pontos vermelhos e pretos imitando granito. De ambos os lados do corredor, de 10 em 10 metros, postadas em recessos das paredes, havia estátuas do rei representado como o deus Osíris.
Havia dois muros rodeando o complexo piramidal de Sesóstris I.
O primeiro, feito de pedra, era decorado a intervalos regulares por painéis de pedra calcária, com cerca de quatro metros e 26 centímetros de altura, nos quais aparecem os nomes do faraó. Esse muro rodeava a pirâmide em si, a parte mais interna do templo funerário e a pirâmide subsidiária (7). O segundo, feito de tijolos de lama, rodeava todo o recinto cercado pelo primeiro muro e ainda o restante do templo funerário. Entre os dois muros, um amplo pátio abrigava nove pequenas pirâmides destinadas a mulheres da família real. Uma delas pertencia à rainha principal, Neferu, e outra a uma princesa de nome Itakayt. Todas as nove pirâmides eram providas de um pequeno templo funerário, uma capela de oferendas e um muro circundante. Por sob os pisos das capelas de oferendas havia dois poços verticais de considerável profundidade, escavados próximos um do outro, e conectados entre si por uma passagem subterrânea. Supõem os arqueólogos que o segundo poço serviu para manobrar os respectivos sarcófagos quando eles foram introduzidos nas câmaras funerárias, em um estágio da construção na qual as capelas de oferendas já estavam prontas. Na câmara funerária de uma destas pequenas pirâmides foi encontrado, vazio, um formoso sarcófago de quartzito. Um estojo canopo, também de quartzito, estava aninhado em um nicho existente em um dos cantos da câmara. Não havia inscrições que identificassem o proprietário de tais peças.
Em uma mastaba pertencente a um alto oficial da corte de Sesóstris I, localizada ao norte da calçada e junto ao lado leste dos muros que rodeavam a pirâmide principal, foram encontradas duas estátuas de madeira representando o faraó. Com cerca de 60 centímetros de altura, cada figura foi feita com 16 peças de cedro cuidadosamente reunidas. Representam o rei vestindo um saiote curto e portando na mão esquerda um cetro longo no formado de um cajado de pastor. A única diferença entre as duas estátuas são as coroas que têm na cabeça: a coroa branca do Alto Egito em uma delas e a vermelha do Baixo Egito na outra. Junto a tais figuras havia um estojo de madeira que continha um fetiche do deus Anúbis. Trata-se da pele de um animal sem cabeça, envolta como uma múmia e suspensa em uma verga montada em um jarro de alabastro contendo unguento. Os estudiosos não conseguiram explicar porque as duas estátuas, que deveriam fazer parte do equipamento funerário do rei, não se encontravam em sua pirâmide. |