Tendo reinado aproximadamente entre 2446 e 2426 a.C., o terceiro faraó da V dinastia, de nome Neferirkare, escolheu para erigir seu conjunto piramidal o mesmo planalto selecionado por seu antecessor. A pirâmide media 69 metros e 50 centímetros de altura e os lados da base tinham 126 metros de comprimento, sendo, portanto, um pouco maior que a pirâmide de Miquerinos, mas essa obra jamais foi concluída. O pouco revestimento que sobrou do monumento mostra que pelo menos a camada rente ao chão estava recoberta por granito não polido. Os egípcios chamavam-na de A Pirâmide do Espírito Ba ou, dizem outros autores, Neferirkare Tornou-se um Ba.
Sucessores de Neferirkare prosseguiram na construção tanto da pirâmide quanto do templo funerário empregando tijolos e madeira. Ambos os materiais foram utilizados no vestíbulo de entrada e no clautro do pátio do templo, onde os tetos eram suportados por colunas de madeira assentadas em bases de pedra calcária. Cada coluna era esculpida imitando hastes e brotos de lotus amarrados em forma de feixes. Os sacerdotes funerários de Neferirkare construíram suas moradias de tijolo cru encostando-as nas paredes do templo mortuário. O templo do vale e a calçada ficaram inconclusos e, posteriormente, foram incorporados por Neuserre ao seu monumento.
A Pirâmide de Neuserre
Neuserre foi o sexto faraó da V dinastia e reinou aproximadamente entre 2416 e 2392 a.C. Selecionou o mesmo planalto escolhido anteriormente pelos reis Sahure e Neferirkare como o local ideal para a construção de sua pirâmide, que originalmente atingia 51 metros e 50 centímetros de altura. Edificou o monumento em tal posição que lhe foi possível utilizar integralmente o trecho inferior da calçada construída por Neferirkare. Quanto ao trecho superior da calçada, ele foi desmantelado e grande parte reconstruído num ângulo que lhe permitisse atingir a entrada do templo funerário de Neuserre. As paredes da calçada estão assentadas sobre uma base quadrangular de basalto, são revestidas de pedra calcária e decoradas com cenas variadas em relevo. Numa delas aparece o faraó, representado como um leão ou um grifo, pisoteando seus inimigos. O templo do vale tem dois pórticos: o maior de frente para o nascente e o menor de frente para o poente. Ambos apresentam colunas de granito vermelho imitando feixes de papiro. Nos diversos aposentos empregou-se pedra calcária, granito vermelho e basalto negro polido combinados para a formação de tetos, pisos e paredes. No templo funerário as colunas imitando feixes de papiro se repetem e, por haver pouco espaço dentro do seu recinto, a maior parte dos armazéns foi construída do lado externo das paredes norte e sul do vestíbulo de entrada. O santuário ocupa a posição habitual, exatamente a leste da câmara mortuária. O nome dado pelos antigos egípcios a essa pirâmide era A Pirâmide que É Estabelecida de Lugares ou, conforme outros autores, Os Lugares de Neuserre São Duradouros. A sudeste da pirâmide principal situa-se uma pirâmide subsidiária.
A Pirâmide de Djedkare Izezi
O faraó Djedkare Izezi reinou entre 2388 e 2356 a.C., aproximadamente, tendo sido o oitavo rei da V dinastia. Sua pirâmide, com altura original de 52 metros e 50 centímetros, foi construída exatamente a oeste da aldeia de Saqqara e atualmente é conhecida pelo seu nome árabe, Haram esh-Shauwaf, que significa Pirâmide da Sentinela. Os antigos egípcios chamavam-na de Pirâmide Bela ou de Izezi É Belo, segundo outros autores. Os arqueólogos encontraram centenas de pedaços de elementos arquitetônicos e esculturais em seu templo mortuário: colunas quebradas de granito vermelho imitando palmeiras, fragmentos de estátuas de pedra calcária representando prisioneiros estrangeiros, uma esfinge e parte de um relevo mostrando a figura do deus Seth com pálpebras incrustradas de cobre.
A Pirâmide de Wenis
O último rei da V dinastia, Wenis, reinou, aproximadamente, entre 2356 e 2323 a.C. e edificou sua pirâmide junto ao canto sudoeste do muro que circundava a pirâmide de degraus. Nos antigos textos hieráticos ela recebe o nome de As Moradas de Wenis São Belas. Pirâmide que É Bela de Lugares é outra variante do nome. Sua altura, de apenas cerca de 19 metros, não impressiona, embora, ainda assim, corresponda à de um prédio de seis andares. A entrada para o monumento situa-se, como de hábito, em sua face norte, mas não na parede da pirâmide e sim debaixo do pavimento. Três portas levadiças (1) de granito bloqueavam o corredor de entrada, não permitindo o acesso a um vestíbulo quadrado (2) existente mais adiante. A leste do vestíbulo existe um cômodo estreito e comprido com três nichos para estátuas (3); a oeste, situa-se a câmara funerária (4). Nesta foi encontrado intacto, mas vazio, um sarcófago retangular de pedra. Todos os recintos são construídos de pedra calcária, menos a parede oeste da câmara funerária e as metades oeste de suas paredes norte e sul, ou seja, a região em torno do sarcófago, onde o calcário foi substituído por alabastro, no qual foram esculpidos e pintados uma falsa-porta e um elaborado painel.
Como se vê, essa pirâmide apresenta características estruturais diferentes daquelas dos monumentos construídos anteriormente. Entretanto, o mais notável diferencial que ela apresenta é, sem dúvida, o que hoje é conhecido como textos das pirâmides. Trata-se de inscrições hieroglíficas, dispostas em colunas verticais, que cobrem integralmente as paredes do vestíbulo e as partes em pedra calcária das paredes da câmara funerária. Cada hieróglifo foi preenchido com pigmento azul, de forma a destacar-se claramente sobre o fundo branco. As mais antigas versões de tais textos foram encontradas nessa pirâmide.
O templo funerário apresenta um projeto e detalhes contrutivos muito semelhantes ao edifício correspondente da pirâmide de Sahure. Existem diferenças na disposição de alguns corredores e dos armazéns e no material empregado nos pisos, utilizando-se alabastro ao invés do basalto. Apenas poucos fragmentos de relevos mostrando servos portando oferendas foram preservados.
A calçada que parte do templo mortuário não segue uma linha reta em toda a sua extensão de 685 metros e 50 centímetros, mas muda duas vezes de direção para melhor aproveitar as carac-terísticas do terreno. Mesmo assim foi necessário vencer profundas depressões do solo. Alguns dos blocos de pedra utilizados nesse trabalho foram retirados de edificações que faziam parte do complexo piramidal de Djoser, o que demonstra que esse monumento já se encontrava em mau estado no final da V dinastia. As paredes do corredor provavelmente atingiam a altura de quase quatro metros, com cerca de dois metros de espessura, enquanto que a calçada propriamente dita deveria ter cerca de dois metros e 64 centímetros de largura. O teto plano era feito de lajes com 46 centímetros de espessura, que deixavam um vão de cerca de 20 centímetros no centro do corredor para a passagem da luz. Ao sul da calçada existem duas covas para barcos funerários, escavadas lado a lado, tendo cada uma delas cerca de 45 metros de comprimento e totalmente revestidas de pedra calcária.
Baixos relevos esculpidos nas paredes internas da calçada mostram cenas que cobrem uma grande variedade de assuntos. Um grupo de relevos mostra o transporte naval desde Assuã de colunas de granito no formato de tamareiras e, também, de arquitraves usadas na construção do templo mortuário. Outro grupo representa artífices forjando ouro, fundindo objetos de cobre e polindo vasos feitos de pedra e de ouro. Mais adiante,
os trabalhadores das propriedades reais aparecem colhendo figos, ceifando milho e recolhendo mel. Longos séquitos de criados são representados trazendo provisões de toda espécie para a tumba. As cenas de caçada incluem representações de cada animal de chifres conhecido pelos egípcios, bem como uma girafa, um leão, leopardos, raposas, hienas, cobras e ouriços.
Possivelmente a cena melhor delineada de todas — pondera I.E.S.Edwards — exibe as vítimas de uma carestia, cujos corpos estão tão macilentos que estão reduzidos a pouco mais do que pele e osso. Desafortunadamente, esta cena única está incompleta e é dificil imaginar seu contexto; mesmo a nacionalidade do povo não pode ser identificada com certeza. Desde que, entretanto, os relevos das tumbas representam apenas incidentes ou eventos que o proprietário falecido gostaria de perpetuar, pode-se supor que o povo enfraquecido não era o egípcio e que a parte faltante do relevo continha cenas de provisões sendo mandadas a ele por Wenis. Todos os relevos estavam pintados com cores brilhantes e o teto era decorado com estrelas douradas esculpidas em relevo sobre um fundo azul-celeste.
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