O antigo Egito não era definido por linhas traçadas em um mapa, mas sim pela geografia e pela inundação anual do Nilo que depositava um lodo fértil ao longo da planície coberta pelas águas. Kemet, a Terra Preta, era a faixa de terra em ambas as margens do rio com seu aluvião escuro que recebia a cevada e o trigo. Todo o resto era a Terra Vermelha, Deshret — o deserto.
Embora as inundações pudessem ser pequenas em alguns anos, ou as colheitas pudessem falhar devido a secas ou outras calamidades, os campos ao longo do Nilo, juntamente com a caça e a pesca, geralmente produziam quantidades suficientes de comida para sustentar a vida. Os egípcios ergueram sua civilização sobre alicerces agrícolas. Na medida em que deixaram a vida nômade, foram criando estruturas de madeira, junco e tijolos. Criaram cerâmica, paletas cosméticas de ardósia e colares de contas. Os artefatos mostram que veneraram o falcão, a vaca e outras animais divinizados. Eles também colocavam os corpos dos mortos na posição fetal, voltados para oeste, e lhes forneciam objetos funerários, sugerindo uma convicção na vida após a morte. Para contar e manter registro dos itens comercializados, criaram um sistema simples de pictogramas.
Por milhares de anos houve dois reinos: ao sul, onde o Nilo se enfiando entre íngremes escarpas e o deserto une os habitantes, o Alto Egito; ao norte, onde o rio se espraiando e formando os pântanos do Delta e os campos férteis dispersa os moradores, o Baixo Egito. Cerca de 5000 anos atrás, o legendário rei do Alto Egito, Narmer, conquistou o Baixo Egito e unificou o país. Culturalmente havia também uma união pela profunda convicção sustentada pelos egípcios na vida após a morte e pelos rituais necessários para se assegurar a sobrevivência eterna.
A unificação do Egito solidificou a idéia da realeza divina: o faraó era um rei-deus cujo ka, seu espírito imortal, precisava de um corpo perpétuo, o que era conseguido pela mumificação. Múmias reais eram sepultadas em mastabas, estruturas de tijolo retangulares, as habitações da eternidade. O deus com cabeça de falcão, Hórus, originalmente o protetor do Alto Egito, emergiu como o deus supremo do Egito unificado. No decorrer do período pré-dinástico e início do período dinástico, o crescimento da corte real e a centralização do governo foi ajudada pela transformação do sistema de escrita simples com pictogramas em um conjunto complexo de hieróglifos representando sons e idéias.
Os burocratas egípcios criaram um calendário solar com 365 dias. Os construtores experimentaram e aumentaram sua habilidade no uso da pedra para construção, enquanto que os artistas refinaram seu estilo de desenhar imagens em superfícies planas ou de criar esculturas. Comerciantes, alguns navegando em navios novos bem equipados, provinham a elite com bens de luxo, inclusive insenso da Arábia, marfim da Núbia, lápis-lazúli do Afeganistão, e casca de cássia da Índia. Escribas, artesãos, comerciantes e outros especialistas criaram uma camada social que não era nem governante, nem camponesa.
Os deuses determinavam quem se tornaria o próximo rei. Por vários meios de adivinhação e consulta aos oráculos, o novo faraó era identificado. Ao subir ao trono, ele se transformava na presença viva de Hórus, o deus falcão. Ao morrer, renunciava sua posição em benefício de seu sucessor, o qual, em muitos casos, era seu filho. Entretanto, nem sempre o filho primogênito se tornou o próximo soberano. Às vezes uma pessoa sem relação de parentesco com o rei, como um vizir poderoso ou um senhor feudal, se tornava seu sucessor, ou surgia uma nova linha de reis após o colapso da monarquia anterior.
Os egípcios estimaram que houve um total de cerca de 330 faraós desde Narmer, rei que consolidou a unificação dos reinos pré-históricos do Alto e do Baixo Egito, até a época da conquista de Alexandre, o Grande (332 a 323 a.C.). Alguns não passam de nomes em uma lista e pouco ou quase nada sabemos sobre eles, às vezes nem mesmo a data ou a extensão de seu reinado. Teriam participado e saído vitoriosos de alguma batalha? Teriam edificado alguma construção importante? Impossível responder. Embora os artistas egípcios fossem excelentes escultores e tenham deixado imagens de um grande número de seus soberanos, como esta de Ramsés II (c. 1290 a 1224 a.C.) que vemos ao lado, eram pouco afeitos a relatar fatos históricos. Há exceções, como os textos deixados por Tutmósis III (c. 1479 a 1425 a.C.), Ramsés II e Ramsés III (c. 1194 a 1163 a.C.), mas são poucas.
Durante o Império Antigo (c. 2575 a 2134 a.C.) os soberanos se consideravam deuses vivos e reinavam com poder absoluto. Construíram pirâmides como testemunho de sua grandeza e símbolo duradouro de seu poder, mas não deixaram registros oficiais de suas realizações. No Império Médio (c. 2040 a 1640 a.C.) os faraós não mais se consideravam deuses vivos, mas sim representantes dos deuses na Terra. Eles eram responsáveis por guiar seu povo e se não administrassem os negócios de Estado de maneira sábia e justa, não seriam admitidos no reino celestial quando morressem. Nessa época deixaram registros de suas ações, mas estes não eram mais do que uma lista de títulos e epítetos laudatórios.
Para reforçar a imagem de poderosos reis divinos, os faraós se faziam representar em textos e esculturas em relevo nas paredes dos templos. Frequentemente descreviam-se como guerreiros que matavam grande quantidade de inimigos e exterminavam dezenas de leões inteiramente sozinhos. Representações semelhantes eram repetidas por um faraó após o outro, o que nos leva a questionar a veracidade dos relevos. Por exemplo, as cenas de guerra de Ramsés III em Karnak são cópias exatas das cenas de Ramsés II. Estas ações de heroísmo foram destinadas, em parte, a propósitos propagandísticos. Elas reforçavam a posição do rei como chefe de Estado, mais do que refletiam a realidade histórica.
No terceiro século a.C., um escriba e sumo sacerdote dos santuários sagrados do Egito, chamado Manetho, compilou a primeira lista completa dos faraós. Ele agrupou seus reinados em divisões dinásticas que ainda atualmente são consideradas razoavelmente exatas. As dinastias se agrupam em períodos, a saber:
Pré-dinástico Tardio = cerca de 3000 a.C.
Período Dinástico Primitivo = cerca de 2920 a 2575 a.C.
Império Antigo = cerca de 2575 a 2134 a.C.
Primeiro Período Intermediário = cerca de 2134 a 2040 a.C.
Império Médio = cerca de 2040 a 1640 a.C.
Segundo Período Intermediário = cerca de 1640 a 1550 a.C.
Império Novo = cerca de 1550 a 1070 a.C.
Terceiro Período Intermediário = cerca de 1070 a 712 a.C.
Período Tardio = cerca de 712 a 332 a.C.
Período Greco-Romano = 332 a.C. a 395 d.C.
Nem todos os faraós eram homens, nem eram todos egípcios. Antes do Período Greco-Romano, pelo menos três mulheres ascenderam ao trono, tendo sido Hatshepsut (c. 1473 a 1458 a.C.) a mais importante entre elas. No Período Greco-Romano, Cleópatra VII (51 a 30 a.C.) foi a rainha mais ilustre. Em vários períodos o Egito foi dominado por povos estrangeiros que designaram um soberano de suas próprias origens. A maneira exata pela qual um faraó era escolhito para suceder o anterior não está completamente clara em muitos casos, já que podia variar de acordo com as circunstâncias. Às vezes era um filho do faraó, ou um vizir poderoso, ou um sumo sacerdote ou, ainda, um senhor feudal que assumia a liderança. Havendo o colapso de uma determinada monarquia, surgia uma linha completamente nova de faraós. O último faraó egípcio de nascença foi Nectanebo II. Ele reinou de 360 a 343 a.C., quando o Egito caiu sob o domínio persa.
|