Os camponeses egípcios temiam muitas das aves que freqüentavam os seus campos. Embora fossem úteis pois destruíam os insetos daninhos, por outro lado comiam os frutos. Para capturá-las estendia-se nas árvores uma grande rede sustentada por estacas nos cantos. O artefato era colocado de molde a não impedir a livre circulação das aves em torno das árvores frutíferas. Quando já havia um bom número de aves pousadas nos galhos, as estacas da armadilha eram derrubadas pelas crianças. A rede encobria árvores e aves. Bastava passar por baixo da rede, recolher os animais e colocá-los em gaiolas.
As codornizes, principalmente, constituíam-se em verdadeira praga. Na época da sua migração, — nos conta Pierre Montet — as codornizes chegavam ao Egito em nuvens espessas. Estavam tão fatigadas que caíam no chão. Naturalmente, preferia-se capturar aves em bom estado de saúde. Uma pintura que se encontra no Museu de Berlim mostra-nos caçadores, em número de seis, utilizando uma rede de malhas apertadas, esticada sobre um quadro retangular. Calçavam sandálias para não se picarem no restolho, e envolviam o corpo com um pano branco. Quando as codornizes passavam em massa sobre o campo ceifado, os caçadores mostravam-se bruscamente e agitavam os seus panos, causando assim o pânico no grupo, que cessava de voar e se batia sobre a rede. Muitas delas ficavam com as patas presas nas malhas e, apertadas pelas suas companheiras, não tinham tempo de se libertar. Quatro caçadores levantavam a rede e dois companheiros agarravam tantas codornizes quantas desejavam. As codornizes eram certamente apreciadas pela família do camponês. Os deuses não as desdenhavam. Amon, pela sua parte, recebeu vinte e uma mil e setecentas codornizes durante o reinado de Ramsés III.
Este número é mais ou menos um sexto do número total dos diversos pássaros oferecidos a este deus durante o mesmo tempo.
Outro artefato conhecido e empregado na caça desde a mais alta antiguidade eram as ratoeiras de mola. Na cena do alto da página é mostrada uma terceira modalidade de caça às aves, a qual se constituia num desporto de pessoas ricas. Utilizando uma espécie de bumerangue terminado por uma cabeça de serpente, o caçador fazia com que o aparelho e a ave voltassem ao ponto de partida. A esposa e os filhos do caçador agarravam-nas agilmente.
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