O escriba profissional era uma importante figura nos vários aspectos da administração do antigo Egito — civil, militar e religioso. A maioria dos egípcios não sabia ler e escrever e quando uma pessoa iletrada precisava redigir ou ler um documento, via-se obrigada a pagar o serviço de um escriba. Cerca de 12 anos eram necessários para que alguém estivesse em condições de ler e escrever os cerca de 700 hieróglifos que eram comumente usados no decorrer do Império Novo (c. 1550 a 1070 a.C.) e os estudos podiam começar aos quatro anos de idade. Muitos exercícios escolares antigos sobreviveram em seu inteiro teor, com correções dos professores, e são geralmente cópias dos clássicos egípcios. Como o papiro era um material caro, os aprendizes praticavam em pedaços planos de pedra calcária, cerâmica, ou madeira emplastrada. Os professores não eram modelos de paciência; um deles exclama: As orelhas de um aluno estão nas costas. Ele só escuta quando nela batem. Ao lado, um escriba do Império Antigo (c. 2575 a 2134 a.C.). Para ver outra foto dessa mesma peça, que se encontra atualmente no Museu do Louvre, clique aqui. A máquina administrativa egípcia era formada basicamente por escribas. Eles se encarregavam de organizar e distribuir a produção; de controlar a ordem pública; de supervisionar todo e qualquer tipo de atividade. Obedeciam a autoridade dos faraós ou dos templos. A habilidade para escrever garantia uma posição superior na sociedade e a possibilidade de progresso na carreira. A escalada da escada social não era fácil, mas a profissão de escriba permitia a subida desde que as realizações do indivíduo fossem marcantes. Um texto destinado a instruir os escribas, usado durante o Império Novo, garantia: Seja um escriba. Isso lhe salvará da labuta e lhe protegerá de todo tipo de trabalho. Você será poupado de enfrentar a enxada e o alvião, de forma que não terá que carregar cestas. Vocé ficará livre de manipular o remo e será poupado de todo tipo de sofrimento.Conhecer a escrita era a chave para toda a erudição daqueles tempos e os escribas se tornaram os depositários da cultura leiga e religiosa e acabaram dominando todas as atividades profissionais, a ponto de ocuparem até os cargos de oficiais do exército durante o Império Novo. Agrônomos, engenheiros, contadores ou sacerdotes, podiam acumular vários cargos e muitos o faziam. Inscrições na estátua de Bekenkhons, um indivíduo que viveu durante o reinado de Ramsés II (c. 1290 a 1224 a.C.), nos conta um pouco de sua carreira: passou quatro anos na escola do templo de Mut em Karnak antes de se tornar aprendiz de escriba nos estábulos reais. Ali ficou por 11 anos e, a seguir, tornou-se sacerdote de Amon, também em Karnak, por quatro anos, chegando finalmente a sumo sacerdote daquela divindade. A educação desses homens, feita geralmente em escolas pertencentes aos grandes templos, era bastante austera e, na maioria dos casos, lhes impunha um código moral elevado e bem intencionado. Nota-se em seus escritos um certo desprezo pela plebe e um grande respeito pela ordem social, considerada esta como a perfeita expressão da harmonia universal. Mesmo que evitassem as prevaricações, conforme os princípios que regiam seus serviços, — explica o egiptólogo francês J. Yoyotte — desfrutavam de gratificações proporcionais à sua posição na hierarquia (era ampla a variação dessas remunerações, pelo menos na XII dinastia): doações de terras, salários em mantimentos, benefícios sacerdotais deduzidos dos rendimentos regulares dos templos e das oferendas reais, donativos honoríficos ou presentes funerários recebidos diretamente do soberano. Os mais graduados viviam em grande estilo neste mundo e no outro, e sua riqueza, sem falar de sua influência, dava-lhes poderes de patronagem. O hieróglifo que significa escriba, palavra que se pronunciava sesh, pode ser visto abaixo. Ele é formado pelos principais instrumentos empregados por aqueles profissionais: uma paleta com reentrâncias para pedaços sólidos de pigmento vermelho e preto, um recipiente com água, que podia ser uma bolsa de couro ou um pequeno pote, e um cálamo de junco. A paleta era normalmente feita com um pedaço retangular de madeira ou pedra. Suas dimensões podiam variar entre 20 e 43 centímetros no comprimento, entre cinco e oito centímetros na largura e entre um e cinco centímetros na espessura. Numa das extremidades havia duas ou, às vezes, várias cavidades para conter as tintas na forma sólida. Entre as paletas encontradas pelos arqueólogos muitas continham inscrições a tinta em hierático, as quais parecem ser anotações administrativas feitas pelo próprio escriba, tais como medidas, nomes, contas, registro de mercadorias, etc. Outras paletas contém inscrições em hieróglifos, geralmente invocando o deus Thoth, deus da escrita e da sabedoria e divindade tutelar dos escribas, o que parece indicar que faziam parte do equipamento funerário de seus donos. A tinta preta era feita com carvão ou fuligem e a vermelha com ocre dessa cor finamente moído. O branco se obtinha do carbonato ou sulfato de cálcio, enquanto que o azul e o verde eram produzidos com uma combinação de sílica, cobre e cálcio. Os ingredientes eram misturadas com uma solução fraca de cola, gelatina, cera ou clara de ovo, de forma a endurecerem ao secar. Ao escrever o profissional misturava água à pasta do pigmento, como fazem as crianças de hoje com as suas aquarelas. O cálamo era feito de uma haste de junco, com cerca de 15 a 25 centímetros de comprimento. Sua ponta era cortada obliquamente e depois mordida pelo escriba para quebrar as fibras. Os cálamos eram guardados em uma ranhura cavada na parte central da paleta. Tais ranhuras podiam, às vezes, conter uma tampa corrediça, como os estojos escolares de plástico ainda hoje utilizados pelas crianças. As pinturas eram feitas com pincéis, enquanto que linhas finas eram freqüentemente desenhadas com estiletes de madeira. Todo esse material o profissional da escrita carregava dentro de caixas de madeira ou de bolsas de couro. O escriba sentava-se de pernas cruzadas e esticava o saiote feito de linho com os joelhos, de maneira a formar uma superfície plana sobre a qual pudesse escrever. Segurava o cilindro de papiro com a mão esquerda e, se estivesse escrevendo em colunas verticais, principiava a escrita na extrema direita do rolo e ia acrescentando coluna após coluna à medida em que o desenrolava. Outro método era empregado para escrever em linhas horizontais. Nesse caso ele escrevia a primeira linha no tamanho que lhe aprouvesse e, a seguir, as demais linhas da mesma dimensão, até chegar ao pé da página. Então, desenrolava mais um pedaço do papiro e redigia a página seguinte da mesma forma, mas não necessariamente da mesma largura. Os espaços em branco entre as páginas variam de documento para documento mas geralmente não são menores que 1,5 cm nem maiores que 2,5 cm. As cores básicas da tinta usada eram o preto para o texto e o vermelho para marcar inícios de parágrafos ou capítulos. Outras cores como o branco, o verde, o azul ou o amarelo podiam ser empregadas, mas apenas para as vinhetas ornamentais e não para o texto em si. Mais do que escrever, o escriba pintava: mantinha a mão erguida sobre o papiro e não apoiada nele, evitando assim de borrar o que já havia escrito. Calculou-se que, quando escrevia em hierático, ele poderia desenhar cerca de uma dúzia de sinais antes de voltar a molhar o cálamo.
Havia escribas desenhistas e algumas tumbas contêm trabalhos inacabados que ilustram as fases da produção de uma pintura tumular. Os desenhistas aprendizes executavam as cenas com ocre vermelho diretamente nas paredes e os desenhistas mais qualificados faziam correções em preto. Dependendo do projeto, as figuras eram esculpidas em relevo e pintadas. Os artistas seguiam uma fórmula que tornava as pessoas empertigadas, estivessem elas em pé ou sentadas. Usando uma grade de 18 quadrados, como vemos no exemplo ao lado, esboçavam figuras de acordo com um padrão predeterminado, sem fazerem qualquer tentativa para mostrar perspectiva. Os olhos e ombros eram desenhados de frente, enquanto que o rosto, o torso, os braços e as pernas eram desenhados de perfil. |