São conhecidos dois tipos de perfuratrizes empregadas pelos antigos Egípcios e ambas já existiam antes do período dinástico. Do primeiro tipo há vários modelos, dos quais dois podem ser vistos na ilustração ao lado. Nesse caso o perfurador era acionado por uma corda enrolada numa vareta. Serviam para acender fogo e fazer pequenos furos e eram amplamente usadas. O outro tipo era uma perfuratriz pesada que trabalhava com pó de esmeril. J. Alvarez Lopes assim a descreve: a perfuratriz consistia numa estaca de madeira que levava duas pedras pesadas na parte superior e um pequeno pedaço de pedra enganchado na parte inferior que ia se movendo à medida em que se alargava a perfuração. A pressão era exercida pelas duas pedras atadas à parte superior (uns 10 quilos), servindo também de volante. O operário segurava com uma das mãos um chifre oco que servia de bucha superior enquanto com a outra fazia girar o dispositivo apoiado na pedra que se desejava perfurar, constituindo a bucha inferior. Embora essa última ferramenta tenha servido para confeccionar vasos de pedra, discute-se se teria sido usada na produção de vasos de diorito do Império Antigo. Tais vasos, diferentemente dos demais que são esmerilhados, apresentam em seu interior linhas circulares paralelas, espaçadas regularmente como as de um torno moderno. No desenho que se vê à direita, elaborado pelo eminente arqueólogo Flinders Petrie, está representado um pedaço de diorito, encontrado em Gizé, no qual a ferramenta utilizada deixou sulcos notavelmente regulares. São marcas que devem ter sido produzidas por um ferramental de ponta dura como o diamante, mas esse mineral é tido como desconhecido naquela época. As pedras mais duras então conhecidas — berilo, topázio, crisoberilo e córidon — tinham dureza insuficiente para cortar o diorito. Além disso, o diorito, material no qual foi esculpida a estátua de Kéfren, deixou de ser trabalhado nas dinastias posteriores. Para explicar esse e outros fatos contraditórios, afirmam alguns estudiosos que realmente os egípcios das primeiras dinastias possuíam instrumentos superiores aos das dinastias seguintes. Afirmam, também, que a partir da IV dinastia os processos mecânicos deixaram de evoluir, tendo até regredido. Dizem, ainda, que é difícil saber o que causou os progressos iniciais e sua posterior estagnação.
É praticamente impossível os egípcios terem trabalhado o quartzo, o granito, o pórfiro e o diorito, como o fizeram, se não possuíssem ferramentas de ferro. Entretanto, nenhuma referência àquele metal foi encontrada pela arqueologia nos escritos do Império Antigo e tampouco são conhecidos objetos fabricados com ele. A explicação que se dá para o fato é a de que, ao que parece, no Egito o ferro era empregado durante a cerimônia de abertura da boca. Isso teria dado um caráter sagrado ao metal e uma espécie de tabu teria feito com que, embora o material fosse usado amplamente, seu emprego fosse mantido zelosamente em segredo. E talvez a isso também esteja associado o fato dos ferreiros formassem confrarias secretas.
Alguns cortes existentes nos blocos de pedra e nas paredes das pedreiras parecem ter sido executados por instrumentos equivalentes a uma lâmina de serra. Os engenheiros avaliam que o instrumental necessário à execução dessas tarefas deveria ser de excelente qualidade. Exemplares de serras feitas de bronze com dentes de esmeril foram achados pelos arqueólogos. Blocos de calcário, de basalto e de granito com marcas compatíveis com o emprego dessas ferramentas também foram localizados. Neste outro desenho de Flinders Petrie, por exemplo, vê-se um pedaço de basalto com um corte de serra de través e que foi encontrado abandonado com areia e o pó da serra ainda nele. Trata-se de um fragmento resultante da preparação do amplo pavimento de basalto situado a leste da Grande Pirâmide. Entretanto, em outras pedras as marcas deixadas denotam a aplicação de uma pressão elevada incompatível com o uso daquelas ferramentas. A dedução lógica é a de que existiu uma outra ferramenta sobre a qual nada sabemos. Tomando por base o sarcófago de granito de Kéops, cujo interior apresenta um paralelismo perfeito das faces opostas e perfeição no ângulo reto das faces laterais contra o fundo, acredita-se até mesmo que essa serra por nós desconhecida, e que nesse caso específico deveria ter quase dois metros e 50 centímetros de comprimento, fosse guiada mecânica e não manualmente.
Diante das diversas dúvidas existentes, as explicações alternativas às teorias clássicas incluem todo tipo de hipótese. Uma delas sugere que teriam sido usados dispositivos a laser para a extração das pedras. O laser deixaria marcas semelhantes às de uma lâmina de serra e a tese se encaixa na concepção de que foram civilizações mais evoluídas que construíram as pirâmides. Em extremo oposto, já foi dito que talvez tivessem usado sucos das folhas de certas plantas que amolecem a pedra, facilitando sua perfuração. De modo geral, entretanto, o que acreditam os estudiosos não alinhados com as explicações clássicas é que o nível da tecnologia egípcia era superior àquele que se aceitou até agora.
Um grande mistério é o desaparecimento dos implementos que teriam sido utilizados para cortar e trabalhar as pedras. Afinal, foram milhões de blocos empregados em dezenas de pirâmides, o que exigiria uma quantidade imensa de ferramentas para uso dos operários. Flinders Petrie afirma que as grandes serras e perfuratrizes usadas pelos trabalhadores das pirâmides deveriam ser propriedade real e que talvez o operário que a usava pudesse pagar com a própria vida se a perdesse. As brocas para pedras daquela época, como vimos, parece que funcionavam como as atuais: deixavam no interior do furo um tarugo de pedra. Os arqueólogos encontraram muitos desses tarugos e até pedras semi-perfuradas com o tarugo em seu interior, como exemplifica essa vasilha de alabastro desenhada por Petrie, mas nunca encontraram a ferramenta que executou o trabalho. Uma explicação que se deu para o fato foi a de que os turistas da própria antiguidade, os mesmos que deixaram grafitos nos monumentos, levaram as ferramentas como lembrança de suas visitas. Mas pergunta-se: é plausível que zelosos artesãos tenham deixado suas ferramentas de trabalho jogadas ao léu no final da obra? Não é muito mais lógico que as tivessem recolhido e guardado para o trabalho na próxima tarefa? Tais dúvidas levam alguns estudiosos a afirmarem que o pequeno número de ferramentas simples de cobre encontradas em algumas das pedreiras não devem ter sido os instrumentos de trabalho nelas empregadas e sim utensílios de outro ofício. Petrie afirmou que o fato das ferramentas não terem sido encontradas deve-se apenas ao acaso. Se assim for, diz J. Alvarez Lopes, o acaso não explica por que não aparecem, nas inscrições, pinturas e papiros que conhecemos da cultura egípcia, nem representações, referências ou palavras alusivas a qualquer método ou aparelho científico e alta tecnologia empregados pelos egípcios.
Cheio de indagações também se apresenta o capítulo referente à maneira como as pedras foram transportadas das pedreiras até o local das obras. Como é óbvio, não é fácil arrastar um único bloco de pedra pela areia. Que dirá milhões? O transporte por terra com uso de trenós como advoga a egiptologia clássica é contestado por inúmeros estudiosos. A maior contestação baseia-se no fato de que o transporte exigiria que uma área do deserto fosse nivelada e pavimentada com madeira, criando-se assim uma superfície lisa sobre a qual os trenós pudessem ser arrastados. Ora, é sabido que a madeira era escassa na região. Só havia palmeiras que, como produtoras de tâmaras essenciais à alimentação, dificilmente seriam sacrificadas. Embora a madeira pudesse ser importada, só há registro dessa operação comercial cerca de 1000 anos depois. Não se pode esquecer, também, que toda essa madeira, tanto dos trenós quanto da pavimentação, deveria ser substituida constantemente, tendo em vista o enorme peso e atrito aos quais estaria submetida, o que causaria nela constantes rachaduras. E esse seria um processo extremamente caro e demorado.
A hipótese do uso de rampas está baseada em dois fortes indícios: pinturas existentes em túmulos da XVIII dinastia que as representam numa cena de construção de colunas de um templo e a descoberta de ruínas de rampas em vários locais de escavações, inclusive em Gizé. Os objetores apontam o fato de que artefatos empregados na XVIII dinastia jamais poderão ser encarados como também existentes e destinados à mesma finalidade durante a IV dinastia e afirmam que o fato de terem sido descobertas rampas perto das pirâmides não significa necessariamente que elas tenham sido usadas para erguer todas as pirâmides do local. Podem ter sido empregadas apenas em pirâmides das últimas dinastias, ou para retirada das pedras do revestimento de pirâmides já erguidas, com o fito de usá-las em outros monumentos. Comentando esse assunto, Max Toth observa que embora os arqueólogos e egiptólogos se sintam relativamente seguros e satisfeitos em atribuir as práticas de construção da XVIII dinastia ao período das cinco primeiras dinastias, essas mesmas autoridades têm a ingenuidade de dizer que as pirâmides dos últimos faraós eram obviamente inferiores, em termos de artesanato e perícia técnica, às pirâmides do Antigo Império. Estranhamente, esses egiptólogos não vêem qualquer incongruência no fato de atribuírem técnicas de construção idênticas a estruturas tão diferentes na qualidade de sua construção. Uma forte objeção à possibilidade de terem sido empregadas rampas baseia-se no fato de que só o trabalho necessário para a construção delas seria equivalente ao trabalho de construir a própria pirâmide.
É totalmente desconhecida a existência de máquinas que os egípcios pudessem ter utilizado para o transporte das pedras. A visão de Heródoto de que foram empregadas máquinas na construção da pirâmide de Kéops é considerada equivocada pelos arqueólogos, pois eles não encontraram em suas escavações textos, imagens ou restos de tais máquinas. Entretanto, Flinders Petrie refere-se a uma pedra de duas toneladas que foi colocada em uma das câmaras da pirâmide de Kéfren depois de pronto o compartimento. A operação exigiria a presença de 40 ou 60 homens em um espaço que não comporta tal número de pessoas, de onde aquele arqueólogo concluiu que os egípcios dispunham de máquinas e, segundo ele, muito eficientes.
Os estudiosos que aceitam a possibilidade de terem existido máquinas para o transporte e manuseio das pedras se deparam com outro problema: qual a natureza dessas máquinas? Uma das possibilidades consiste em colocar o enorme bloco de pedra sobre duas pilhas de madeira e, usando alavancas, introduzir, alternadamente, novos pedaços de madeira de cada lado. Esse sistema se encaixa na descrição de Heródoto quando ele diz que as máquinas eram feitas de pequenos pedaços de madeira. Petrie afirmou que os grandes blocos do teto da câmara do rei da pirâmide de Kéops poderiam ter sido elevados por meio desse processo.
Uma segunda possibilidade consiste no emprego de um artefato formado por dois pedaços de madeira curvos na base e unidos por travessas e que foram encontrados na forma de modelo em sepulturas do Império Novo. Na realidade essa peça permite a oscilação da pedra, mas testes realizados mostraram que ela seria ineficiente para a elevação dos blocos. Aventou-se então a hipótese de que tais artefatos poderiam ter sido usados aos pares, colocando-se inicialmente a pedra sobre um deles e depois ajustando o outro por cima. Os cilindros assim formados, com o grande bloco de pedra em seu interior, poderiam ser transportados com relativa facilidade.
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