Problemas bem maiores que o transporte terrestre acarretaria o transporte fluvial. É bem verdade que no templo funerário de Sahure, faraó da V dinastia que reinou entre 2458 e 2446 a.C., foi encontrado o mais antigo registro pictórico de barcos marítimos egípcios (numa reconstituição ao lado) e que os sofisticados aspectos de tais embarcações indicam um longo período de atividades marítimas anteriores. Entretanto, os problemas a enfrentar nos dois casos eram diferentes. Ainda é Max Thoth quem afirma: Dizem que os blocos de pedra pesavam, em média, 2,5 toneladas, enquanto alguns prédios subsidiários no conjunto da pirâmide exigiam blocos de pedra isolados de mais de 200 toneladas. Não só as barcas teriam de ser extremamente grandes para transportar tais pesos, como ainda as condições, nesse caso, determinariam que o batelão tivesse um fundo chato, para não emborcar. Nunca foram encontrados quaisquer vestígios dessas barcas, nem tampouco existe qualquer registro delas. Outro detalhe constantemente lembrado é o de que, em certos casos, as embarcações teriam que navegar contra a correnteza do rio. No que se refere ao tipo de força que impulsionava as barcas em tais circunstâncias, alguns admitem que centenas ou talvez milhares de pessoas pudessem vir pelas margens do Nilo puxando cordas presas a elas. Outros desdenham dessa explicação.
Uma teoria clássica muito defendida é a de que o trabalho de transporte das pedras era realizado durante as cheias do Nilo, o que encurtaria as distâncias a serem percorridas por terra entre a pedreira ou o monumento e as margens do rio. Os objetores desse ponto de vista dizem que isso causaria um problema a mais: o transbordamento das águas traria consigo a tremenda força da corrente, tornando quase impossível a navegação. Mas a realidade é que existem conchas e outros fósseis marinhos espalhados em várias profundidades em volta da base da pirâmide de Kéops. É possível, então, afirma-se, que o rio Nilo tenha sido represado e sua inundação controlada. Isso permitiria levar a água até a distância desejada das pedreiras ou dos monumentos e evitaria a força da correnteza. A barcaça, então, poderia ser controlada por poucas pessoas. Avança ainda essa idéia com a afirmativa de que o nível das águas seria controlado de modo a subir na medida em que a altura da pirâmide crescesse. As barcas seriam levadas à altura atual do monumento pelo próprio subir das águas e as pedras simplesmente deslizariam para seus lugares, sem trenós, sem rampas e sem alavancas. Reforça a tese o fato de que a cheia anual do Nilo faz com que suas águas cheguem a apenas 500 metros de distância das pirâmides de Gizé e a menos do que isso da pirâmide de Meidum, o que leva a pensar que tais monumentos foram plantados em tais locais para facilitar o trabalho com a massa de água represada.
Finalmente, até mesmo um antiquíssimo conto árabe já foi invocado para tentar explicar o transporte das pedras. É mais uma vez Max Toth que nos fala desse conto, o qual revela a existência de um papel mágico repleto de inscrições sagradas. Esse papel, diz a lenda, uma vez colocado sobre um pesado bloco de pedra e martelado, fazia com que o bloco perdesse grande parte do seu peso, possibilitando seu transporte por apenas alguns homens. Considerando que quase todas as superstições têm algum fundo de verdade, aquele autor afirma: Acredito que, devido a uma tradução falha de textos antigos, e a incompreensão de várias palavras do conto, transmitidas pelas várias gerações, o "pedaço de papel com inscrições sagradas" no conto citado foi mal interpretado. Poderia ter sido um quadro de circuitos eletrônicos, finíssimo, aquilo que foi colocado sobre a pedra. E o "martelo" poderia não ter sido um martelo em absoluto, e sim uma pilha ou célula elétrica que, ao ser "tocada" em certo ponto no dispositivo eletrônico (em vez de ser "martelada"), ativava o dispositivo, fazendo com que ele anulasse os efeitos da gravidade. Estando o pedaço de pedra então "flutuando", seria bem fácil para um pequeno grupo de trabalhadores movê-la.
Seja lá como tenham sido construídas as pirâmides, o enorme esforço que representou esse trabalho pode ser medido pela tarefa de deslocamento dos templos rupestres de Abu Simbel, o qual foi realizado entre 1963 e 1968 por engenheiros e técnicos de todo o mundo, reunidos num consórcio sueco. A despeito de toda a tecnologia então empregada, muitos monólitos não puderam ser erguidos e os blocos tiveram que ser fragmentados em pedaços menores para serem deslocados. Em outras palavras: blocos de pedra que os egípcios haviam conseguido manobrar intactos tiveram que ser divididos, pois a tecnologia do século XX não conseguiu repetir o feito.
Talvez a maior realização tecnológica de alta precisão dos egípcios tenha sido o revestimento de calcário da Grande Pirâmide. Os blocos de revestimento na face norte do monumento, pesando 16 toneladas, com superfícies planas de até três metros quadrados, mostram um paralelismo ao longo das arestas — que medem um metro e 90 centímetros — da ordem de 0,05 milímetro por metro. Os blocos estão justapostos com uma aproximação de 0,05 milímetros, ou seja, estão em contato íntimo, e a abertura média das juntas é da ordem de 0,5 milímetros. O renomado arqueólogo Flinders Petrie afirmou que colocar em posição blocos de tal peso e tal superfície constitui já, por si, uma empresa delicada mas fazê-lo pondo cimento nas juntas parece impossível. Os blocos não apresentam arranhões que indiquem que foram arrastados, nem possuem pontos de engate para cordas ou gruas. O cimento usado era o gesso, de adesão rápida, o que dificultaria ainda mais o trabalho. Em poucas palavras: essa tarefa misteriosa que os egípcios realizaram seria um empreendimento impossível para nós, se empregássemos apenas os meios que a arqueologia clássica supõe que estavam disponíveis naquela época.
Petrie chega mesmo a dizer que os blocos deviam ter sido trazidos ao lugar de dentro para fora, o que implicaria em começar a construção do monumento de fora para dentro. Aquele autor acha que de outro modo não é possível explicar que as faces exteriores dos blocos formem uma linha reta de 230 metros de comprimento, na qual não houve qualquer correção ou retoque posterior — coforme provam os ângulos retos exatos que os blocos calcários apresentam. Sobre esse assunto, J. Alvarez Lopes comenta: Fosse qual fosse a maneira pela qual procederam, o que fica fora de qualquer dúvida é terem conseguido um resultado altamente satisfatório mesmo para a nossa época. A verdade é que a medição dos ângulos feita pelos antigos egípcios atingiu níveis de precisão de um segundo de arco. Esse fato é altamente surpreendente pois isso corresponde à precisão dos bons teodolitos atuais, enquanto que outros aparelhos modernos destinados a essa tarefa, sejam óticos como o astrolábio ou não óticos, medem com erros muito maiores da ordem de 10 a 20 minutos de arco.
A exatidão dos ângulos retos dos blocos de revestimento da pirâmide de Kéops e o seu polimento homogêneo é tal que há quem afirme que para consegui-los os egípcios deveriam possuir instrumentos óticos de alta precisão. Outro aspecto também lembrado é o de que a realização de uma tarefa tão especializada exigiria mão-de-obra altamente qualificada e abundante e acredita-se que, ao menos no decorrer das quatro primeiras dinastias, existiriam institutos tecnológicos nos quais eram preparados os milhares de especialistas necessários.
O problema logístico de fornecer alimentação, abrigo e instalações sanitárias para turmas de 100 mil homens é de aturdir, afirmam os detratores das teorias clássicas sobre a construção das pirâmides. Nada foi encontrado que demonstrasse a existência de qualquer estrutura ou instalações que pudessem abrigar um número tão elevado de operários nas regiões próximas aos monumentos. A possibilidade dos trabalhadores se deslocarem diariamente de suas residências também é pouco viável, já que os únicos meios de locomoção eram a via fluvial, o lombo de animais ou o caminhar a pé. Tais meios exigiriam diversas horas de deslocamento, talvez em torno de seis horas diárias para ida e volta. Levando-se em conta que a jornada de trabalho seria naquela época, provavelmente, de 10 a 12 horas, cada indivíduo teria um máximo de oito horas para dormir e se recuperar de um trabalho estafante, sem tempo para fazer qualquer outra coisa a não ser se deslocar, trabalhar arduamente e dormir.
Sendo, como os egípcios, um povo eminentemente prático, os japoneses, em 1978, tentaram edificar uma pirâmide empregando apenas os recursos disponíveis na antiguidade. O monumento teria apenas 18 metros de altura, estaria localizado a sudeste da pirâmide de Miquerinos e, por exigência do governo do Egito, só poderia permanecer de pé por alguns dias. Da mesma pedreira que forneceu as pedras para a pirâmide de Kéops, localizada cerca de 14 quilômetros de distância do local do teste, na margem oposta do Nilo, foram extraídos blocos pesando aproximadamente uma tonelada. O transporte das pedras por barcaças foi impossível: a flutuação não era uma solução simples como se dizia. Os blocos acabaram sendo transportados — pasmem — por um barco a vapor. Feito isso, equipes de 100 homens tentaram transportar as pedras sobre a areia. Também não conseguiram. O transporte acabou sendo feito com o emprego de equipamentos modernos. Finalmente, com as pedras já no local do teste, o máximo que conseguiram manualmente foi elevar os grandes blocos a pouco mais de meio metro de altura. Para terminar a obra, os cientistas lançaram mão — pasmem mais uma vez — de guindastes e helicópteros.
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