Descobertas Arqueológicas |
Em agosto de 1999 arqueólogos da Universidade da Pensilvânia fizeram em Abido uma descoberta até então inusitada: a maior residência não pertencente à realeza já encontrada em uma cidade do antigo Egito. O local da descoberta foi uma antiga cidade egípcia que já vinha sendo escavada há alguns anos e que tinha o nome de Duradouro é o lugar de Khakaure-justificado em Abydos. Essa cidade, como muitas outras do antigo Egito, vivia em função dos serviços do templo mortuário de um faraó. Nesse caso o templo pertencia ao rei Sesóstris III (1878 a 1841 a.C.), o Khakaure que aparece no nome do lugar. Através de selos de barro encontrados na casa, destinados tipicamente a serem impressos no encerramento de notas escritas em papiro e em outros objetos, foi possível identificar com segurança quatro dos moradores que lá viveram em períodos diferentes. Todos, no decorrer do Império Médio (c. 2040 a 1640 a.C.), foram prefeitos da cidade na qual a casa se localiza. São eles: Nakht, filho de Khentikheti, Nefer-her, Amenysoneb e Sehetepib, os quais viveram e trabalharam naquela localidade entre 1850 e 1700 a.C., período após o qual desavenças políticas dividiram o Egito e, aparentemente, a ocupação da cidade cessou. O primeiro nome já era conhecido como sendo o de uma figura proeminente naquele período da história egípcia. Estes prefeitos, provavelmente, passaram a função de pai para filho a título de herança, após a indicação inicial do primeiro prefeito ter sido feita por ocasião da fundação da cidade e do templo. A descoberta se destacou ainda mais porque existe apenas meia dúzia de cidades do Império Médio para serem escavadas no Egito. Embora grandes casas não pertencentes à realeza tenham sido escavadas antes no Egito, nenhuma tinha sido identificada até então como pertencente a um prefeito. Em outras palavras, essa foi a primeira casa encontrada pelos arqueólogos que pode ser identificada, sem sombra de dúvida, como a de um prefeito do antigo Egito. Os prefeitos exerciam função de sacerdotes nos templos próximos, administravam as atividades econômicas principais da cidade e serviam como juizes solucionando disputas. Também controlavam os bens dos templos, que não eram poucos. Para manter funcionando um culto "eterno" à memória de um faraó, eram doadas grandes riquezas, extensas áreas de terra e criadas outras fontes de renda para os templos e as cidades. O sustento do templo e da cidade de Sesóstris III dependia da manipulação adequada de tais recursos. O funcionário que ficava à frente dessa administração era o prefeito. A descoberta da residência de uma autoridade fornece uma grande oportunidade para que se estude o estilo de vida de um prefeito antigo e seu papel político e econômico. Pelas evidências pareceu aos arqueólogos que esses prefeitos, particularmente, desfrutaram de uma influência significativa e de um poder político bastante amplo. A casa foi encontrada em bom estado de conservação, considerando-se sua antiguidade, isto é, cerca de 3800 anos. Media cerca de 4160 m², comparável em tamanho ao palácio de um faraó e significativamente maior que outros edifícios não pertencentes à realeza conhecidos daquele período. Muito bem-construída com tijolo e toda revestida de gesso em branco, preto e outras cores, suas paredes eram extremamente grossas. O edifício tinha soleiras de pedra, portas providas com armações de madeira e folhas das portas feitas de custosa madeira de cedro, um artigo precioso importado da Síria. A casa tinha em sua parte frontal um ambiente amplo com 14 colunas que corria por toda a sua largura. Apresentava uma série de salas, pátios e corredores de acesso dispostos ao redor de um bloco central de dormitórios, com nove quartos, identificado como a principal área residencial dos moradores. Outras partes do edifício eram usadas para armazenamento e preparo da comida, para os atos administrativos do prefeito e para outras funções. A residência do prefeito parece ter sido o lugar central de onde foram administrados a cidade e o templo de Sesóstris III. Não só funcionava como moradia do prefeito, mas também como o lugar de onde ele conduzia suas atividades cotidianas. Os responsáveis por essa descoberta arqueológica comentaram: Durante um dia normal, a residência do prefeito deveria se encher com os sons de escribas, funcionários e sacerdotes indo e vindo. Dentro e ao redor da casa, os homens responsáveis por administrar os recursos dos cereais estariam trabalhando na contagem e distribuição do principal produto agrícola da cidade: trigo usado na produção de pão e cerveja. No meio de toda essa atividade estariam as crianças, a família e os criados do prefeito. Conquanto o número de ocupantes permanentes do edifício possa ter sido relativamente pequeno, talvez duas dúzias ou algo assim, o número de pessoas presentes durante o dia era provavelmente muito maior na medida em que as pessoas entravam e saiam em função dos negócios. Um dos pesquisadores afirmou na ocasião que Sesóstris III era um dos maiores reis guerreiros do antigo Egito, provavelmente um dos maiores reis guerreiros da antiguidade e que sua administração estava no auge da prosperidade naquela época. Por isso, não é surpreendente que o prefeito de uma cidade estabelecida para cuidar de seu templo mortuário tivesse uma casa tão elaborada. Em seu interior havia milhares de selos de barro quebrados, muitos com nomes de pessoas, outros puramente decorativos, testemunhando um alto grau de administração e de correspondência escrita. As evidências sugerem que os prefeitos da cidade mantinham um contato estreito com os faraós da época. Muitos papiros apresentam o selo real, o que indica troca de correspondência entre a corte e o prefeito. Havia muitos selos nos quais constava o nome de Reny-Seneb, provavelmente uma princesa da XIII dinastia, o que sugere que pelo menos um destes prefeitos possa ter sido casado com a filha de um faraó. Numerosos brinquedos, na forma de pequenas estatuetas de barro representanto bonecas e animais, e peças de um jogo intitulado Cães de Caça e Chacais, desenham um quadro de ócio e de vida em família naquela residência. Por sua vez, centenas de artefatos e fragmentos da casa apontam para uma vida de riqueza e um estilo de vida refinado. Foram encontrados fragmentos de estatuetas e estelas de pedra, vasilhas de alabastro para cosméticos, pedaços de caixas marchetadas e jóias de faiança, ametista e cornalina, bem como espelhos com cabos de ébano ou marfim, esculpidos como uma flor de lótus. As cerâmicas vão de peças grosseiras a tigelas da mais alta qualidade e uma infinidade de outros objetos foram encontrados nas ruínas da casa. Para os arqueólogos, entretanto, as informações mais importantes para a reconstituição da comunidade das pessoas da cidade são as impressões dos selos de barro. Muitas apresentam os nomes e os títulos em hieróglifos dos funcionários do topo da administração da cidade. A parte de trás da casa era um celeiro, capaz de armazenar grandes quantidades de cereais e ali os arqueólogos identificaram a presença de trigo. Tal celeiro teria colocado o prefeito em pleno controle do fluxo de comida da cidade. E a comida era, freqüentemente, o pagamento principal para os camponeses e demais trabalhadores. Em essência, os grãos eram o dinheiro do Egito antigo e um armazém daquela envergadura era uma verdadeira tesouraria. Quanto à cidade em si, estima-se que tenha coberto uma área de 90 mil m² e que tenha abrigado, aproximadamente, 1000 pessoas, um tamanho impressionante para aquela época. Ela servia de moradia para uma vasta gama de funcionários, sacerdotes e trabalhadores e suas famílias, responsáveis pela continuidade do culto ao rei. Foi construída empregando um plano rígido para o traçado das ruas. As casas estavam organizadas em blocos e separadas em áreas diferentes, que dependiam do tamanho da casa e da condição social de seus ocupantes. Leia sobre um tijolo do nascimento encontrado nesta residência clicando aqui. |
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