Tumbas e templos construídos em pedra para toda a eternidade, mas casas de tijolo para durarem apenas uma vida. Essa parece ser a filosofia de construção dos antigos egípcios. Para as residências dos homens procurava-se empregar os materiais mais facilmente disponíveis, principalmente tijolos crus. Até mesmo os palácios reais eram construídos desta forma. Tais materiais não resistiram ao tempo e casas particulares e palácios foram arruinados quase que totalmente. Apesar disso os arqueólogos conseguiram obter algumas indicações precisas de como se vivia no interior das residências. Uma casa confortável e acolhedora era o objetivo da maioria dos indivíduos. Para os mais abastados, a opulência também era uma meta a ser alcançada.
As casas egípcias tinham geralmente dois pavimentos, com uma galeria no piso superior. Aí situavam-se os dormitórios, para que pudessem ser refrigerados com maior facilidade. O telhado costumava ser plano, formando um terraço. Sobre ele poderiam estar instalados os silos de cereais ou a área servia apenas para o lazer. As janelas, que podiam chegar a ser até oito por andar, eram pequenas e dotadas de uma persiana para proteger o interior da casa do calor e do pó. Os aposentos destinados aos homens eram separados dos aposentos das mulheres. Por sua vez, os quartos para os criados estavam situados à parte. Interior e exteriormente as casas apresentavam pinturas, geralmente dispostas em faixas, nas quais eram usadas cores bastante limitadas, sem gradações de luz e sombra. Em certos casos tais pinturas não eram figurativas e apenas imitavam as pedras e os metais; em outros, eram representadas cenas da vida cotidiana pois, seja como for, os egípcios tinham o hábito de cobrir com pinturas todas as superfícies disponíveis. O jardim assumia um papel de grande importância na residência egípcia e normalmente era dotado de um tanque com água. Nesse ambiente eram cultivadas frutas e verduras e nele transcorria a vida diurna da família. O modelo em terracota que vemos acima retrata a casa de uma pessoa humilde. Datada da XII dinastia (1991 a 1783 a.C.), esta casa primitiva, embora esquemática, dá alguma idéia de como deveria ser a moradia de um pobre. No pátio podemos notar alimentos pois, na realidade, modelos dessa espécie eram oferendas colocadas nos túmulos dos menos favorecidos pela fortuna. Para ver duas outras fotos dessa figura, clique aqui e também aqui.
O material empregado na construção das casas era aquele que estava mais à mão: o lodo do Nilo. Depois de misturado com palha, ele era moldado na forma de tijolos que eram secos ao sol. Com a mesma mistura de lodo e palha fazia-se a argamassa e o reboco. Tal tipo de construção tem a vantagem de ser quente no inverno e fria no verão e de conservar-se durante muito tempo em climas praticamente sem chuva como é o caso do Egito. Por quase todo o país as residências – da choça do camponês aos palácios dos faraós – eram feitas desse mesmo material e sua manutenção exigia pouco trabalho. Na foto vemos detalhe de uma residência do Império Novo (c. 1550 a 1070 a.C.) situada no setor ocidental de Tebas, ou seja, nos domínios dos templos funerários daquela cidade. Isso permite supor que se tratava da moradia de um alto funcionário administrativo. Essa construção retangular era, como todas as habitações, feita com tijolos crus. Próximo ao núcleo residencial formado por um salão de entrada, uma sala de estar e aposentos privativos, ficavam os edifícios externos: a cozinha e os fornos. Nenhum indício de escada foi encontrado e, portanto, a construção deve ter sido térrea. Ao norte do país a população arrancava dos pântanos os caules de papiros com os quais erguiam cabanas de paredes delgadas e calafetadas com lama e que substituíam as casas de tijolos
empregadas nas outras regiões do Egito.
Os egípcios mais abastados procuravam construir as suas casas imitando o conforto e a opulência do palácio real, a começar das muralhas que as cercavam, altas e espessas. Pierre Montet descreve o interior de uma de tais casas: Do pórtico de entrada passa-se para um vestíbulo antes de se penetrar nas salas de recepção cujas colunas sustentam o teto. Estas salas públicas são prolongadas por vestiários onde se encontraram cofres de tijolo que podiam servir de armários para a roupa branca e para o restante vestuário, e por dispensas onde se depositavam as provisões e os refrescos. Os aposentos dos donos da casa, com as salas de banho e instalações sanitárias, ocupam o resto do edifício. As paredes da sala de banho são revestidas de pedra. Encontrou-se a um canto um cano de pedra protegido por um anteparo de alvenaria detrás do qual um criado podia deitar água sobre quem tomava banho. Depois, a pessoa ia sentar-se num tamborete próximo, para receber uma massagem. Por detrás do quarto de banho, a privada é caiada e provida de um assento cavado no calcário e assente sobre caixotes de tijolo contendo areia.
Diversos pátios rodeiam as casas, mesmo as mais modestas. Num deles ficam os silos, noutro os estábulos e num terceiro a cozinha, a padaria e pequenas casas de tijolos destinadas à criadagem. Tais casinhas costumam ser divididas em quatro salas: uma de entrada, uma sala central com o teto sustentado por uma coluna, uma cozinha e um quarto. Nesse estreito espaço amontoava-se toda uma família que, às vezes, ainda o compartilhava com os animais. A água potável era geralmente fornecida por um poço de pedra.
Havia constante preocupação, até mesmo dos mais pobres, de construírem casas acolhedoras e confortáveis. É claro que para atingir um razoável nível de conforto era necessário tomar algumas providências contra insetos, serpentes e ratos, entre outros bichos. Para tanto os egípcios contavam com algumas receitas eficazes que chegaram até nós através do assim chamado papiro médico Ebers. Eis algumas delas segundo Pierre Montet: Querem suprimir-se os insetos da casa? É preciso lavá-la com uma solução de natrum, ou então caiá-la com um produto chamado bebit, esmagado sobre carvão. Quer se ponha natrum, quer um peixe-seco, a tilápia nilótica, quer mesmo sementes de cebola junto de um buraco que sirva de esconderijo a uma serpente, esta não sairá. A gordura do verdelhão é excelente contra as moscas, as ovas de peixe contra as pulgas. Se se puser banha de gato nos sacos ou nos fardos, os ratos não se aproximarão deles. Impedir-se-á os roedores de comerem as sementes queimando no celeiro escrementos de gazela ou caiando as paredes e o sobrado com uma solução. Uma fumigação é eficaz para sanear o cheiro dos quartos e dos vestuários. Esta receita, como as precedentes, prova a existência do desejo de manter a casa limpa e acolhedora. Este desejo, tão natural, deve ter levado as autoridades a tomar medidas gerais para dar esgoto às águas sujas, e retirar o lixo e os detritos provenientes das casas. A esse respeito, todavia, por falta de documentos, nada podemos afirmar.
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