A RELIGIAO PARTE DOIS

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OSÍRIS, HÓRUS E ÍSIS

Na religião egípcia os mitos não tiveram a relevância que alcançariam em outras regiões do mundo antigo como, por exemplo, na Grécia. Ou seja, para os egípcios os deuses são mais importantes do que os mitos acerca deles. Versões completas dos mitos são praticamente inexistentes nos papiros e paredes tumulares. Para conhecer alguns deles temos que recorrer aos textos dos autores clássicos. É bem provável que nunca tenham existido grandes textos narrando mitos completos. O que existe são versões diferentes de vários episódios mitológicos. É o que ocorre, por exemplo, com os episódios do conflito entre Hórus e Seth pela herança de Osíris. Ao lado, peça de joalheria dourada, da XXII dinastia (c. 945 a 712 a.C.), na qual se vê Osíris ladeado por Ísis e Hórus.

Nos mitos sobre a criação do mundo a primazia é do deus-sol. Ele é chamado de , Rá-Harakhti ou Aton conforme a época e a concepção sobre a divindade. O deus surge do caos líquido, no alto de um morro, primeira matéria sólida, e cuspindo ou masturbando-se cria um par de deidades: Shu e Tefnut. Estas, por sua vez, dão origem a Geb e Nut, a terra e o céu, e geram quatro filhos: Osíris, Ísis, Seth e Néftis. No todo são nove divindades que formam a enéade de Heliópolis. Outras localidades possuíam grupos similares de deuses.

O mito mais conhecido da religião egípcia é, sem dúvida, o de Osíris e Ísis. Ele narra como esse deus foi assassinado por seu irmão Seth, como a deusa concebeu Hórus apesar de Osíris já estar morto e como Hórus lutou e obteve a vitória sobre seu tio, tornando-se rei do Egito. Esse mito foi registrado em grego por Plutarco, no primeiro século da nossa era, mas grande parte da narrativa parece ser genuinamente egípcia.

Omito relacionado ao ciclo solar narra que o deus-sol renasce todas as manhãs, atravessa o céu na barca solar, já que o barco era o meio normal de transporte para os egípcios, envelhece, morre, viaja pelo mundo dos mortos à noite e se regenera pela manhã. Nessa história a deusa Nut, que aparece como filha de Rá no mito da criação do mundo, passa a ser sua mãe, por cuja boca o deus entra ao entardecer e por quem é parida ao amanhecer. Na hora do renascimento ela pode ser também Hátor, que em outras circunstâncias é filha de Rá. Tais idéias — explica o arqueólogo John Baines — utilizavam um pequeno repertório de temas básicos, que variavam interminavelmente. Não seria correto procurar uma perfeita consistência nestas variações, sendo o significado constante o próprio ciclo. E o autor esclarece ainda que estes temas são mais situações míticas do que mitos completos, já que não se combinam para formar narrativas. Em sua viagem noturna o deus-sol é acompanhado no seu barco por um grupo de divindades. Quando o dia nasce, toda a criação se regozija e Rá é saudado por deuses e deusas, pelo faraó, por personificações de categorias da humanidade e por babuínos que gritam aclamações. Destas cenas, assim como nos templos, os homens comuns não participam.

Em cada localidade as divindades eram reunidas em famílias, sendo que o mais comum era AMON, MUT E KHONSo grupo de três deuses, ou tríade, formada por dois deuses adultos e um deus jovem. Baines ensina que as tríades são apenas seleções, podendo outras divindades ter uma ligação vaga com o grupo ou trocar membros com ele. Assim, a tríade de Tebas compreende Amon-Rá, Mut e Khons, divindades dos três principais templos de Karnak. Tem a forma de um grupo familiar, mas Mut não é mulher de Amon-Rá, nem Khons é filho deles. Trata-se antes de três divindades locais com origens diferentes, associadas segundo um modelo familiar, cuja falta de realismo é evidenciada pelo fato de haver apenas uma "criança". Acima eles aparecem no chamado papiro Harris, datado de cerca de 1200 a.C.

Já em Mênfis a tríade é realmente formada por uma família: marido e mulher, Ptah ePTAH, SEKHMET E NEFERTEM Sekhmet, e Nefertem, filho de ambos. Naquela cidade, Ptah era considerado o deus criador desde cerca de 3000 anos a.C. Para criar todas as coisas do mundo, havia pronunciado os seus nomes, fazendo-as existir. Sendo o artífice divino, era tido como patrono dos artesãos, das artes e dos ofícios. Seu animal sagrado era o touro Ápis. Sekhmet, sua esposa, é uma das figuras mais curiosas de todo o panteão egípcio. A ilustração ao lado, na qual eles aparecem, também é do chamado papiro Harris, datado de cerca de 1200 a.C. Nesse documento, cada divindade é mostrada em sua forma mais típica. Suas vestes e ornamentos representam a roupagem tradicional que se imaginava que os deuses ou deusas usavam.


Outra maneira de associar divindades é chamada de sincretismo e consiste no fato de uma divindade ganhar um nome múltiplo, acrescentando a si próprio o nome e o caráter de outro deus mais importante. Amon-Rá é o exemplo mais clássico desse tipo de associação. Rá é de longe o nome mais vulgar em tais agrupamentos, o que reflete a universalidade do deus-sol e a sua importância em períodos primitivos. (...) Tais associações nunca submergem completamente a identidade das divindades cujos nomes estão ligados — esclarece Baines.

Além de deuses que tinham um culto e uma região onde eram soberanos, havia deuses BES cósmicos, como Geb por exemplo, que não dispunham de culto local. Por outro lado, havia divindades menores como, por exemplo, Bes e Tuéris, figuras domésticas associadas principalmente ao nascimento da prole. Na ilustração ao lado vê-se uma escultura, em madeira e com 28 cm. de altura, do deus Bes tocando um pandeiro. Ela é proveniente de Tebas e datada da cerca de 1300 a.C. Protetor feio e ruidoso das mulheres na hora do parto, ele estava particularmente associado com a proteção da casa. Figuras como esta eram colocadas dentro das residências, freqüentemente no santuário doméstico. Imagens do deus também poderiam ser pintadas em paredes interiores. Finalmente, citemos a infinidade de demônios apresentados em textos mágicos e funerários, muitas vezes com formas grotescas. A maioria parece restringir-se a um ou dois contextos cada um: um texto em particular, ou uma hora da noite. A principal exceção é Apófis, uma serpente gigante inimiga do deus-sol.