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A exata sequência dos eventos histórios que envolveram a morte de Cleópatra e seu decantado suicídio, aos 39 anos de idade, não está clara. Por exemplo, onde ela estaria ao morrer? Em prisão domiciliar no palácio, ou teria se trancado em seu mausoléu? Nesse último caso é possível que Marco Antonio tenha pensado que ela morrera e, em desespero, se atirado sobre a própria espada como, aliás, costumavam fazer os generais romanos derrotados. Pode até ser que com seu amado morto e Otaviano no comando de seu povo, Cleópatra tivesse pensado que a única saída honrosa para ela seria dar cabo da própria vida. Mas os gregos e egípcios encaravam a morte de forma diferente dos romanos e para eles o suicídio era um pecado. Os ptolomeus — e Cleópatra era um deles — se matavam entre si, mas nunca se suicidaram. O comportamento da rainha sempre foi coerente com a conduta dos seus antepassados. Pat Brown, uma investigadora criminal de Mineápolis, nos Estados Unidos, especializada em casos de assassinatos não solucionados, afirma que até mesmo os comportamentos mais extremos são suportados por lógica, ainda que deformada. Qualquer que seja a provocação, as pessoas sempre permanecerão fiéis às suas próprias naturezas.
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![]() O primeiro filho que teve com Nefertari, sua rainha preferida, chamava-se Amun-her-khepseshef e nasceu antes que Ramsés II subisse ao trono, tendo falecido entre seus 40 a 52 anos de idade. Ela lhe deu ainda mais três filhos e duas filhas. Um filho mais talentoso, ainda que de uma esposa secundária, poderia receber uma especial atenção. Esse foi o caso de Simontu, 23.º filho do faraó, que se tornou um hábil administrador do vinhedo real de Mênfis. Por outro lado, aparentemente sem nenhum talento, o 46.º filho, Ramsés-Meriamen-Nebweben, morreu com cerca de 30 anos de idade, quando ainda vivia em um dos haréns palacianos. Os filhos das rainhas principais, sobretudo os que tinham uma chance de se tornarem reis por serem os mais velhos, recebiam atenção máxima. É bem provável que a maioria deles tenha acompanhado o faraó em algumas das expedições militares e vários deles devem ter adquirido um talento para liderança marcial, tornando-se generais. Foi esse o caso do primogênito, que se tornou general em chefe e de Prehirwenemef, o 3.º filho, que recebeu o título de Primeiro Valente do Exército e, depois, o de Primeiro Cocheiro de Sua Majestade. Quando o herdeiro não estava vocacionado para a batalha e caso seu talento fosse de natureza mais intelectual, lhe era permitido e era até encorajado a seguir a carreira de sacerdote. Foi o caso de Khaemwaset, grão-sacerdote do deus Ptah em Mênfis, que se tornou famoso como sábio e criador do Serapeum em Saqqara. Acima vemos a figura de Merit-Amum, a filha mais velha do faraó com Nefertari e que aparentemente tornou-se esposa do pai após a morte de sua mãe. Aliás Ramsés II casou-se com outras três de suas filhas, pelo menos, a saber: Bentanta, Nebettawy e Hentmire. Bentanta, a primeira filha com a qual ele se casou, lhe deu pelo menos um filho. Essa situação não era encarada da forma desagradável como é hoje em dia. Acredita-se mesmo que a maioria das filhas de rainhas principais que viveram além da puberdade casaram-se com o pai. As filhas secundárias casaram-se com seus irmãos, pois embora um príncipe secundário pudesse se casar com quem quissesse, ao escolher uma princesa tinha que fazê-lo dentro de sua própria corte. Aquelas que não se casaram, como também algumas que o fizeram, sem dúvida serviam aos templos e deuses em determinada função. Algumas podem até mesmo ter se tornado esposas secundárias de Ramsés II. Sem dúvida, havendo tantos filhos e filhas, vários deles ocuparam altas posições e influenciaram a administração e a religião do Egito por anos a fio. Como o reinado de Ramsés II foi muito longo, alguns de seus filhos morreram antes dele. Seu sucessor acabou sendo seu 13.º filho, tido com Iset-Nofret, a qual pode ter assumido o papel de esposa principal após a morte de Nefertari, embora haja controvérsias a esse respeito. De qualquer modo, esse herdeiro, chamado Merneptah (c. 1224 a 1214 a.C.), era o filho mais velho que sobreviveu ao pai e também já era idoso ao subir ao trono. Ramsés II mandou construir uma das tumbas mais incomuns e maiores do Egito para vários de seus filhos. Conhecida como KV 5 pelos arqueólogos, ela situa-se no Vale dos Reis, na margem ocidental do Nilo, em Luxor, antiga Tebas, muito próximo do túmulo do rei. Além disso, mandou construir diversas estátuas e gravar muitas imagens de vários de seus filhos e filhas nos edifícios que espalhou por todo o Egito. No famoso templo de Abu Simbel estão representados oito filhos e nove filhas participando de procissões. No templo de Luxor há diversas cenas que representam os filhos de Ramsés II; numa delas aparecem 17 deles e 25 surgem em outra. Em Karnak uma cena mostra 12 filhos trazendo prisioneiros de um país estrangeiro. No templo de Seti I (c. 1306 a 1290 a.C.), em Abido, podem ser vistas duas cenas: uma com 29 filhos e 16 filhas e outra com 27 filhos e 22 filhas de Ramsés II. Quando são mostrados formando procissões, estão geralmente na mesma ordem, a qual se acredita seja a ordem de nascimento. |
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Documentos arqueológicos demonstram que desde o Império Antigo (c. 2575 a 2134 a.C.) os egípcios, desconfiados da medicina e do direito praticados no país, enviavam seus pedidos de saúde e justiça diretamente para seus parentes mortos e para os deuses. No Império Médio (c. 2040 a 1640 a.C.), as cartas não eram mais endereçadas aos mortos, mas a seres humanos deificados. Tal prática continuou até o final do Império Novo (c. 1550 a 1070 a.C.), quando cartas foram endereçadas a Amenhotep, filho de Hapu, um médico e arquiteto do Império Antigo ainda lembrado por suas curas miraculosas. Uma princesa, por exemplo, escreveu-lhe uma carta em hieróglifos chamando-o de grande médico e se queixando de problemas nos olhos. Os antigos egípcios que escreviam cartas aos seus parentes mortos assim o faziam com o propósito específico de lhes pedir ajuda quando não a conseguiam dos vivos. Pediam socorro contra um ofensor ou, ainda, contra uma pessoa morta que achavam que os perseguiam. Cartas relacionadas com a saúde eram escritas por pessoas com doenças crônicas ou incuráveis. Também eram comuns pedidos por um filho e cobranças e solicitações de punição para um cônjuge injusto. As cartas aos mortos foram escritas em tigelas, linho, papiro ou ostraca e postas nas tumbas. Cartas em linho e papiro eram, na maioria das vezes, colocadas por sobre os corpos antes do enterro. Entretanto, o método favorito de comunicação com os mortos consistia em escrever em uma tijela, na esperança de que o espírito lesse a mensagem quando usasse a vasilha para receber as oferendas. Pedindo em favor de uma serva que se encontrava doente, uma mulher da XII dinastia (1991 a 1783 a.C.) escreveu em um pote ao seu marido morto:
O que você está fazendo a favor da serva Imiu que está doente? Você está combatendo por ela noite e dia contra qualquer homem que lhe faça mal? Ou quer talvez que sua casa seja amargurada? Combate por ela e ainda de novo, que seja sólida a sua casa e que haja água para você! Se não der ajuda, a sua casa será destruída. Não tem consciência do fato que é a sua serva que faz existir a sua casa entre a gente? Combate por ela, vele por ela! Salve-a de todos aqueles que lhe fazem mal. Seja sólida a sua casa e os seus filhos. É bom escutar-me.No texto de uma estela do Primeiro Período Intermediário (c. 2134 a 2040 a.C.), um marido faz uma súplica para a esposa morta: Como está você? Está o ocidente cuidando de você conforme seu desejo? Desde que eu sou o seu amado na terra, lute em meu favor e interceda em meu benefício. Eu não deturpei sua presença quando perpetuei seu nome sobre a terra. Remova a enfermidade do meu corpo! Por favor, torne-se um espírito para mim em frente a meus olhos. Então eu poderei ver você, como em um sonho, lutando a meu favor. Eu depositarei oferendas para você tão logo o sol levante. Essa prática não morreu. Até hoje as pessoas fazem pedidos aos seus mortos e aos seus santos e deuses não apenas no Egito, mas em todo o mundo. |
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