Separar o Mar Vermelho como fez Moisés foi "barbada" se comparado às dez pragas que foram lançadas contra o Egito. Jeff Lockwood, professor norte americano de ciências naturais do Colégio Agrícola da Universidade de Wyoming, nos Estados Unidos, examinou aquelas pragas no sentido biológico chegando a algumas conclusões interessantes. Tudo começou com a transformação das águas do Nilo em sangue seguindo-se as rãs, mosquitos, moscas, doenças do gado, úlceras e pústulas em animais e homens, granizo, gafanhotos, escuridão e, finalmente, morte dos primogênitos de homens e animais. O pesquisador entende que o que torna os fatos mais interessantes é a sequência em que ocorreram, embora ainda não tenham sido encontradas razões ecológicas que expliquem completa e racionalmente como os eventos se sucederam. Mas o que o bíblico Livro do Êxodo narra se reflete no Livro dos Salmos e em papiros egípcios e, assim, parece que alguma coisa realmente ocorreu. Há uma série de eventos cataclísmicos causados por distúrbios ecológicos. Nada contra uma interferência divina, pois uma divindade poderia usar de meios naturais para atingir seus objetivos. No caso egípcio parece que a natureza voltou-se contra o ser humano.
A transformação da água em sangue pode ter sido, segundo Lockwood, um florescimento de microrganismos mortíferos. Se tal acontecesse, as rãs invadiriam a zona rural. Se o rio se tornasse tóxico e desprovido de oxigênio, rãs e outros organismos morreriam se ficassem na água. Essa situação abriria a porta para as próximas quatro pestilências. Os mosquitos se criariam na umidade do solo rico em nutrientes ao longo do rio. Se o florescer das algas afugentasse seus predadores, a população de mosquitos ficaria livre para eclodir. Em tese, a próxima praga pode ter sido a mosca dos estábulos. Elas vivem na sujeira. Nessa altura dos acontecimentos as margens do Nilo estariam repletas de vegetação molhada, rãs e peixes mortos, ou seja, muito material orgânico apodrecendo, um verdadeiro paraíso para esses insetos. A peste seguinte foi a infecção do gado que parece ter atingido todos os animais. Não existe uma doença única que possa atingir todos os animais indistintamente, mas pelo menos duas dentre as possíveis causas são transmitidas por picadas de mosquitos. A praga seguinte foram as pústulas, feridas abertas em homens e animais. A doença com maior probabilidade de causar esse efeito é o antraz, que pode ser transmitido pela mosca dos estábulos. Estas seis primeiras pestes não teriam acontecido rapidamente. O mais provável é que tenham ocorrido ao longo de três ou quatro anos.
Por sua vez, o granizo e as chuvas reforçariam o crescimento da vegetação, fornecendo alimentos fartos para enxames de gafanhotos. Eles devorariam tudo, causando desolação e tempestades de pó que, se violentas, poderiam provocar a escuridão citada na Bíblia. A última e decisiva praga, a morte dos primogênitos, pode ter sido reultado de forças biológicas. O sistema de armazenamento de grãos dos egípcios era relativamente suscetível à umidade. A camada superior teria permanecido molhada e os gafanhotos defecariam nela. Teria se criado, então, uma fina camada de pó contendo nutrientes e esporos de fungos e o bolor carregado com toxinas letais eclodiria nos grãos. Práticas culturais egípcias teriam entrado então em jogo: a primeira concha de grãos era destinada ao primogênito. Se a teoria estiver certa, a primeira porção é justamente a mais mortal. O Êxodo afirma que enquanto os egípcios e seu gado eram atingidos, os israelitas e seus animais não o eram. É provável que a distância física e as práticas culturais tenham realmente isolado os israelitas da maioria das pragas. Acima, num quadro de 1800 do pintor inglês Joseph Turner, uma visão artistica do que teriam sido as trevas no Egito.
|