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Uma pequena estátua egípcia de pedra sabaão, com 25 cm de altura, exposta no Museu de Manchester, na Inglaterra, surpreendentemente começou a girar sozinha no sentido anti-horário dentro da vitrine fechada na qual se encontrava. O vídeo de uma câmera de segurança captou durante sete dias o lento movimento da estatueta de Neb-Senu, cujo nome está inscrito na parte frontal da base. Datada de 1800 a.C., a peça foi encontrada em uma tumba há 80 anos atrás e pertence ao museu desde 1933. Nesse ano ela foi doada por Annie Barlow, uma proprietária de moinho de Bolton, cidade próxima de Manchester, que, como muitos de seus contemporâneos ricos, patrocinava escavações arqueológicas. Aquela foi uma época de grandes achados: apenas uma década antes havia sido descoberta a tumba de Tutankhamon. Não faltou quem logo afirmasse que o giro da peça era fruto de uma maldição, ou trabalho de um fantasma.
Observando o video foi possível perceber que o movimento, embora ocorrese de dia e de noite, acontecia principalmente quando havia pessoas no recinto. A movimentação foi muito lenta, cerca de 180 graus, ou seja, meia volta em uma semana. O fenômeno foi observado durante meses. A melhor explicação científica foi a de que a estátua estava girando em resposta às vibrações causadas pelos visitantes do museu. O mais provável era que o fundo da base tivesse protuberâncias, como se fosse um caroço, que o tornava uma superfície ligeiramente convexa. Não seria necessário que o fato fosse visível. Apenas um ou dois milímetros de saliência proeminente em algum lugar perto do meio da peça seria suficiente. Embora seja raro, se um objeto nestas condições for colocado em uma superfície lisa como vidro, o que ocorre aqui, com muito pouca fricção para mantê-lo no lugar, e a menos que o recipiente de vidro e o chão sob ele estejam perfeitamente nivelados, a estátua virará. Com uma protuberância no fundo da estátua o impacto não precisa ser notado para ser efetivo. Esta estatueta está abrigada em uma caixa de vidro comum do museu, não em uma prateleira de laboratório cientificamente calibrada para manter um nivelamento perfeito e resistir a vibrações. Isto também explicaria por que a estátua gira em seu eixo, virando mais ou menos em torno de um ponto, ao invés de vagar aleatoriamente pela caixa. Um sensor foi colocado sob a vitrine por 24 horas e confirmou a teoria. Finalmente a estatueta foi trocada de lugar e parou de girar.
O fato da estátua meramente girar cerca de meia volta era importante porque demonstrava que ela não estava apenas se mexendo por causa de vibrações. O fenômeno parava quando a estátua encontrava seu mais baixo centro de gravidade. Essa explicação não seria válida se a máquina fotográfica de segurança mostrasse que a peça girava até completar uma volta completa até sua posição original, o que não ocorreu. Embora os visitantes do museu fossem a fonte mais óbvia de vibrações, existiam outras que poderiam acontecer após o horário de visitas e à noite. Isso inclui fechamento das portas, tráfego de uma rodovia próxima, etc. Alguns questionaram a explicação da vibração perguntando por que as outras estátuas do mesmo expositor não giravam igualmente. Talvez suas bases fossem planas ou côncavas, o que impediria que as peças girassem. Outro detalhe é que a estatueta é muito mais alta do que as outras três peças que estão junto e, portanto, tem um centro de gravidade alto e, assim, é menos estável do que as outras, ainda que apenas ligeiramente. Veja o video acima de preferência em tela cheia.
Nada se sabe sobre a tumba da qual veio essa peça e pouco se conhece sobre a pessoa que ela representa. A estatueta, que é uma oferenda a Osíris, mostra um homem em pé dando um passo à frente com o pé esquerdo. Ele usa uma peruca que atinge os ombros e um saiote até o joelho. Hieróglifos na parte de trás da figura registram uma oração solicitando oferendas de pão, cerveja, carne bovina e de aves para o espírito do falecido. Ele era provavelmente um funcionário público e um homem de recursos, considerando-se a qualidade da escultura. Esta serveria para abrigo da alma caso a múmia fosse destruida.
Cervejeiros de Columbus, cidade do estado de Ohio nos Estados Unidos, criaram uma cerveja egípcia para apoiar um evento que envolvia a múmia de Amunet. Três fabricantes de cerveja colaboraram para a criação de uma cerveja destinada a um evento especial denominado "Uma Tarde com Amunet". O produto, batizado de KA Amunet, envolveu muita pesquisa. Eles não tiveram a intenção de fabricarem a cerveja seguindo os procedimenos usados na antiguidade por considerarem que ela deveria ser muito ácida, com baixo teor de álcool e com pouca carbonatação. O paladar moderno não apreciaria tal mistura. Usando como base cevada e trigo, fizeram testes com combinações de coentro e citrinos, vegetais existentes no antigo Egito. Como os egípcios tinha rotas comerciais com Grécia e China, afirmam os fabricantes, também foram feitos testes com casca de laranja amarga, grãos de pimenta preta e bagas de junípero. Não foi utilizado lúpulo nestes testes. Dos cinco lotes de produtos experimentais produzidos, três eram intragáveis. O quarto parecia limonada aguada e o quinto revelou-se bem saboroso. O prazo que tinham para preparar o produto era curto e no final os cervejeiros foram obrigados a fazer algumas concessões. Acabaram usando barris de carvalho, lúpulo e ainda acrescentaram groselhas pretas, certamente não disponíveis no antigo Egito. Ao lado o cartazete da divulgação do evento. Em tempo: KA é a palavra egípcia para cerveja.
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Alguns egípcios foram enterrados em ataúdes múltiplos, às vezes três ou quatro. Tutankhamon chegou a ser enterrado dentro de oito caixões aninhados. Anders Bettum, egiptólogo da Universidade de Oslo, na Noruega, estudou as razões de tal procedimento. Segundo ele, isso não seria para a elite egípcia apenas um símbolo de status, mas também teria um papel no processo que uniria o defunto aos seus antepassados. Os rituais que aconteciam durante os funerais de setenta dias eram simbolicamente realizados nos ataúdes. Os componentes de cada um refletem a visão egípcia do mundo. Ele explica que as decorações, as formas e a escolha dos materiais significam uma unificação de dois mitos: o de Osíris e o de Amon-Rá. No caixão exterior o defunto é retratado como Osiris, com um corpo mumificado, uma peruca listrada de azul e uma face pálida, solene. O peça é pintada de amarelo e envernizada, e deve brilhar como ouro. Os egípcios mais ricos usaram folhas de ouro em seus caixões. A escolha da cor representa a luz e sua origem no sol. A decoração invoca uma imagem mítica bem conhecida: quando o deus-sol chega no salão do trono de Osiris as duas deidades se unem em união mística. Tal união era a fonte de toda a regeneração da natureza, e é aqui, neste ponto catalisador de vida, que o defunto quer ser colocado para toda a eternidade. O estudo prossegue afirmando que os diversos caixões internos são decorados para se assemelharem às pessoas nos melhores momentos de suas vidas. Estas camadas são as mais importantes porque mostram o objetivo da transformação da vida após a morte. As numerosas camadas de caixões ao redor da múmia funcionaram como imagens repetidas do defunto, mas também como cápsulas protetoras, similares à pupa das larvas antes de sua transformação em uma borboleta — afirma o autor. Na imagem o conjunto de ataúdes de Henettawy, cantora de Amon, XXI dinastia (c. 1070 a 945 a.C.).
As câmaras mortuárias da elite egípcia descobertas até hoje muitas vezes estavam repletas de comida como se fossem um congelador. Pedaços de carne foram encontrados, sem data de validade, desidratados, muito bem temperados e envoltos em linho. Análise de amostras retiradas de tumbas mostram que os cuidados e o custo desses alimentos se rivalizavam com o que se tinha e com o que se gastava na preparação dos corpos. Os temperos tornariam as carnes mais saborosas no além túmulo. Bastava que o interessado pudesse pagar pelo luxo. Foram examinadas amostras de cabra, bezerro, pato e carne bovina. Em amostras de costela bovina, reservadas talvez para um bom churrasco, foram encontrados traços de resina de pistache nas bandagens o que pode ter ajudado a conservar e a dar sabor à carne. As resinas são habitualmente encontradas nas múmias humanas, mas essa resina em particular era um artigo de luxo, importado de lugares como a Síria e o Líbano. Depois de milênios, amostras dessa comida mumificada ainda tendem a parecer apetitosas, embora já se tenham passado quase 4000 anos. É claro que você teria que descartar as bandagens. Carnes preservadas dessa forma começaram a ser incluídas nos túmulos por volta de 1550 a.C. e acredita-se que tal prática continuou até 1200 a.C. Tutankhamon tinha cerca de 40 caixas de carne bovina e de aves em sua tumba, talvez porque ele fosse um jovem em crescimento e tivesse muito apetite. Entre as amostras mais estranhas examinadas encontra-se o rabo de um boi cuidadosamente embrulhado, talvez para uma boa rabada, e um prato delicado de pulmões e traquéias da tumba da Rainha Isetemkheb. Na foto, costela de gado envolta em bandagem de um túmulo do século XIII a.C.
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A embalagem para uma múmia feita de cartonagem foi encontrada em 1896 em Tebas. Entretanto, a parte do rosto fora arrebentada por ladrões e a múmia roubada. As cartonagens frequentemente só têm alguns milímetros de espessura. São notavelmente rígidas, mas também muito sensíveis à umidade. Esta em particular foi exposta a ambientes insalubres e afundou ao redor do tórax e da face, como podemos ver na foto acima. Isto causou problemas estruturais e também sérias rachanduras e instabilidade na pintura decorativa. Para ajudar na restauração da peça foi utilizada uma armação construída com peças do brinquedo LEGO, a qual permitiu suspender a embalagem com a face para baixo sem danifica-la ainda mais. Foi criado, ainda, um suporte interno que evitará que a cartonagem desabe novamente. Seis estruturas leves e engenhosas feitas de LEGO foram colocadas dentro da cavidade do tórax. Elas são ajustáveis usando parafusos de rosca e são acolchoadas com espuma na parte onde entram em contato com a superfície da cartonagem. A segunda foto mostra a estrutura interna feita de LEGO e a terceira, a cartonagem restaurada.