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Cartonagem é o termo usado em egiptologia e papirologia para camadas de fibra ou papiro aglutinadas, suficientemente flexíveis para serem modeladas, enquanto molhadas, sobre as superfícies irregulares do corpo. O método era usado nas oficinas funerárias para produzir invólucros, máscaras ou painéis, os quais cobriam todo ou parte do corpo já mumificado e envolvido nas bandagens.A superfície resultante era uniforme e permitia a pintura da decoração com maior estabilidade e facilidade do que a que seria oferecida pela mortalha feita de linho. Às vezes a cartonagem é comparada com papel-machê, mas não há nenhuma redução do material à forma de pasta, seja ele papiro ou linho. Pedaços maiores ou menores são cortados para se criar o formato desejado, estendidos em camadas e o gesso aplicado por cima de tudo. O método de preparação preserva as partes e, por isto, cartonagens de papiro são importantes fontes de trechos manuscritos bem conservados. Em Tebas, no templo funerário de Ramsés II (c. 1290 a 1224 a.C.), por exemplo, foram encontrados estes dois fragmentos de cartonagem, cujas fotos vemos nesta página. O primeiro apresenta a inscrição: ...da divina adoradora, Nespautytawy, filho (?) do administrador do tesouro da "Divina Adoradora de Amon" Nespaqashuty.e no que aparece abaixo podemos ler: ...quarto sacerdote de Amon, Horsiese, verdadeiro de voz, filho de...Há quatro períodos principais do uso da cartonagem no antigo Egito, cada um com materiais e usos distintos:
aplicado a um núcleo no formato da múmia, provavelmente feito de lama e palha. Depois da modelagem, enquanto as camadas da cartonagem ainda estavam flexíveis, era feita uma longa incisão na parte de trás e o núcleo era retirado. A múmia era posta dentro daquela espécie de concha dura por esta abertura e as duas extremidades eram atadas firmemente com cordel. Este tipo de ataúde era mais barato e mais fácil de fazer do que um de pedra ou madeira e, uma vez que a múmia estivesse lacrada em seu interior, a caixa não poderia ser removida sem quebrá-la. Isto evitava a reutilização de ataúdes por parte de sacerdotes mortuários inescrupulosos. Depois de coberta com gesso branco de excelente qualidade, a caixa de cartonagem era pintada. Neste exemplo, datado de cerca de 800 a.C. e pertencente ao sacerdote Nesperennub, a seção superior mostra o deus-Sol como um escaravelho com cabeça de falcão e asas, e duas deusas serpentes e os quatro filhos de Hórus ladeando o deus Seker logo abaixo. A seção inferior é dominada pelo emblema em forma de cúpula e emplumado de Osíris. O texto na frente da caixa diz: Uma oferenda que o rei faz a Osiris, de forma que ele possa dar vida ao Amado do Deus, aquele que faz libações em honra do deus Khons de Benenet, Nesperennub, filho de Ankhefenkhons igualmente titulado, justificado. Isto revela que Nesperennub e seu pai tiveram a mesma função, ou seja, trabalharam como sacerdotes no grande complexo religioso de Karnak.
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