A biga de Tutankhamon (c. 1333 a 1323 a.C.) cuja foto vemos ao lado era formada por uma armação leve de tamargueira, olmo e vidoeiro. Embora entre as seis bigas encontradas na tumba do faraó existam outras muito mais caprichadas destinadas ao uso cerimonial, esta é considerada muito importante porque é a única que apresenta sinais de uso verdadeiro. As seis foram achadas desmontadas em 1922 pelo arqueólogo britânico Howard Carter quando ele entrou no túmulo. Havia duas grandes bigas cerimoniais, uma menor altamente decorada e três outras que eram mais leves e fabricadas para uso diário. Elas eram as "Ferrari" da antiguidade: tinham um design elegante e uma tecnologia extremamente sofisticada e surpreendentemente moderna, de acordo com pesquisadores da área. Eram, sem dúvida, um símbolo da grandeza do rei. Acredita-se que essa, que pode suportar uma carga de mais de 100 quilos, foi de fato usada pelo rei em batalhas ou, muito mais provavelmente, em caçadas. Tal opinião é reforçada pelo fato de uma das rodas estar extremamente usada enquanto que a outra é mais nova e ninguém substitui coisas a menos que tenha intenção de usá-las.
Estudos detalhados mostraram a interação sem igual entre a forma e o desempenho das carruagens do faraó. O sistema usado na confecção da plataforma da biga provê ação imediata e absorção do choque causado pela aceleração e desaceleração. As rodas da biga, encaixadas nas extremidades de um eixo com dois metros de comprimento, ainda se ajustam perfeitamente e giram em torno dele. Minúsculos pinos de madeira originais encontrados na tumba impedem que elas caiam, mas poderiam ser trocadas por uma pessoa em menos que um minuto o que, convenhamos, seria importantíssimo no fervor de uma batalha. Elas parecem um verdadeiro pneu: com seis raios presos a um tubo que se acopla ao eixo da biga, feitos com madeira elástica que se flexiona face às irregularidades do solo, as rodas absorvem uniformemente os trancos recebidos de forma que as vibrações são dissipadas por elas como as suspensões inteligentes dos carros modernos. O resultado é um nível notável de suavidade e conforto. Puxadas por dois cavalos, as bigas do faraó eram eficientes e agradáveis de dirigir até mesmo em velocidades de cerca de 40 km por hora num solo irregular como o do Egito. Os rolamentos foram construídos explorando-se o princípio moderno de um material duro contra um material macio. Aplicava-se graxa animal entre as superfícies, reduzindo a fricção e aumentando a duração da rotação. Quando a biga era posta em movimento, imediatamente após o instante inicial, a fricção entre a madeira da roda, a graxa e o madeirame do eixo aquecia a graxa e esta se tornava parcialmente fluida facilitando o girar da roda.
Diante da recente teoria segundo a qual Tutankhamon sofreria de uma doença degenerativa dos ossos e poderia ter morrido de complicações de infecção por malaria após ter quebrado a perna em uma queda do veículo, a biga assumiu nova importância já que ela poderia ter sido a peça central da tese, uma vez que teria sido o instrumento causador da morte prematura do faraó antes de completar 20 anos. A peça demonstra o alto nível de sofisticação alcançado pelos construtores de bigas na época de Tutankhamon. Esse tipo de veículo foi introduzido no Egito pelos Hicsos durante o II Período Intermediário (c. 1640 a 1550 a.C.) e aperfeiçoado pelos egípcios.
|