Muitos dos bens encontrados nos túmulos — nos explica John Baines — repetiam simbolicamente o tema da ressurreição, sendo esta idéia expressa numa enorme variedade de formas. Alguns objetos correspondiam a determinadas necessidades no outro mundo. O morto era acompanhado, no seu funeral, por umas 400 figuras shabtys, talvez a mais comum de todas as antiguidades egípcias. Estas eram pequenas figuras substitutas do morto, um dos papéis das quais era o de trabalhadores que deviam responder a um possível dever de corvéia que implicava carregar areia. Depois de serem encaradas como moradas alternativas para o ka, as estatuetas passaram a ter um aspecto mumiforme e suas inscrições associavam claramente o morto a Osíris, o deus do mundo subterrâneo. Durante o período final da XII dinastia as funções das estatuetas funerárias foram ampliadas. Elas continuaram a se identificar com o proprietário da tumba, mas agora eram encaradas como trabalhadores que prestavam um serviço para o defunto e foi nessa época que receberam o nome de shabtys. Tais figuras passaram rapidamente a representar os criados do morto no além-túmulo e tornaram-se bastante populares, substituindo as estátuas de serviçais que as classe mais favorecidas depositavam em suas tumbas no decorrer dos Impérios Antigo e Médio. O nome acompanhou a mudança e as pequenas peças passaram a ser chamadas de shawabty e depois de ushebty. Esse último termo pode ser traduzido como "aquele que responde", numa referência à situação de serviçal da estatueta. Já no decorrer do Império Novo e até a época dos Ptolomeus (de 1550 a 30 a.C.), as estatuetas atuavam como agricultores no além-túmulo. Frequentemente eram representadas carregando enxadas, alviões, sacos de sementes, potes de água, refletindo suas atividades agrícolas. Uma vez que muitos egípcios eram submetidos a corvéia (trabalho forçado como forma de taxação), — nos ensina Diana Craig Patch — adquiriam shabtys para serem seus substitutos quando Osiris os chamasse para lavrarem os campos eternos. Para os antigos egípcios, a substituição de um indivíduo por outro na realização de um trabalho necessário era uma prática aceitável. Curiosamente, existem shabtys que eram destinados à realeza e à nobreza, homens e mulheres que não estavam envolvidos com a corvéia, dando a entender que essas pessoas não estavam isentas de trabalhar no além-túmulo. Foi sugerido que a partir do 3º Período Intermediário, iniciado em 1070 a.C. aproximadamente, os shabtys não eram mais substitutos do morto, mas algo análogo a escravos pessoais.
Arqueólogos encontraram, em um túmulo bem equipado do período final do Império Novo, 365 destas estatuetas. As inscrições feitas em algumas delas indicam claramente que a cada figura correspondia todo o trabalho de um dia do ano. Havia, também, estatuetas de 36 feitores portando açoites, os quais se certificariam de que o trabalho fosse realmente feito. Do túmulo do faraó Seti I (c. 1306 a 1290 a.C.) foram retiradas umas 700 estatuetas desse tipo. Existem registros atestando que as pessoas compravam os shabtys em oficinas dos templos. No decorrer de sua longa história, as figuras variaram grandemente de estilo, refletindo as mudanças em suas funções. Eram feitas de uma grande variedade de materiais, sendo que os mais comuns eram pedra, faiança, madeira e argila. Inicialmente vinham inscritas com o nome e títulos de seu proprietário e, posteriormente, passaram a ser esculpidas com fórmulas que as convocavam para o trabalho que fosse necessário realizar no além-túmulo. Quando chamadas pelo defunto, as figuras que traziam o seu nome transformavam-se em homens ou mulheres adultos, seguiam-no e faziam tudo o que ele ordenasse que fizessem. Às vezes tinham gravadas o capítulo 6 do Livro dos Mortos, que reza:
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