Ao lado vemos um fragmento de vaso de faiança, pertencente ao Museu Britânico de Londres, inscrito com o nome desse faraó. Horus-Aha, seu nome de Hórus, significa Hórus o Lutador. Teria se tornado faraó aos 30 anos de idade e governado até completar 62 anos. Era, provavelmente, filho de Narmer e de Neithotepe, que deve ter falecido durante seu reinado e para a qual ele mandou construir uma magnífica mastaba. Sua esposa principal teria sido Benerib — Aquela cujo coração é doce —, cujo nome aparece inscrito em várias peças, em particular na tumba B14 em Abido. Essa tumba fica localizada ao lado do sepulcro de Aha. Ele também teria tido outra esposa, Khenthap, que é mencionada como a mãe de Djer, o futuro faraó.
A mastaba mais antiga da necrópole ao norte de Mênfis pertence a um membro da elite da administração que pode ter sido seu parente, como era costume na época, e isso é uma forte indicação da crescente importância daquela cidade no período. Durante seu reinado empreendeu campanhas contra núbios e líbios, manteve relaçães comerciais com o corredor Sírio-Palestino, fornecedor de madeira de cedro, e ordenou a edificação de um templo em homenagem à deusa Neith em Saís. No campo das lendas narra-se que o rei foi atacado por cachorros selvagens no Faium, mas a vida dele foi salva por um crocodilo. Ele então agradeceu ao deus crocodilo, Sebek, fundando a cidade de Per Sebek — Casa de Sebek —, no 21º nomo do Alto Egito, uma área depois denominada pelos gregos de Crocodilópolis.
Poucos artefatos permanecem de sua época. Porém, cabeças de machado de cobre finamente executadas, fragmentos de recipientes de faiança, caixa de marfim e outras peças de mármore testemunham o florescimento de um hábil artesanato durante o tempo de Aha no poder. Seu nome aparece em peças encontradas em túmulos de Abido e Saqqara. Embora sejam tumbas sem decoração e grandemente danificadas por ladrões, alguns rótulos e fragmentos foram encontrados nelas.
O túmulo de Aha foi descoberto na necrópole dos reis da I dinastia, conhecida como Umm el Ga´ab, em Abido. É formado por três câmaras retanguares cavadas diretamente no chão do deserto, indicadas no esquema abaixo como B10, B15 e B19. Inicialmente se pensou tratar-se de três tumbas independentes, mas recentes pesquisas provaram que se tratava na realidade de uma única tumba. Embora as câmaras estejam distintamente separadas, poderiam ter compartilhado o mesmo telhado. As paredes de adobe das câmaras tinham espessuras variando entre 1,5 a 2,10 m aproximadamente. A área ocupada era de 11 x 9 metros. Uma série de tumbas localizadas a leste possivelmente pertenceram aos nobres da corte. A tumba marcada abaixo como B14 pode ter sido a de Benerib.
Na tumba de Aha foram encontrados os restos de dúzias de recipientes de vinho, ferramentas, algumas jóias e sinais de comida. Nas primeiras décadas do século XX, o arqueólogo britânico Flinders Petrie descobriu 35 sepulturas subsidiárias dispostas em três filas paralelas na direção nordeste com relação às câmaras principais da tumba. Mais tarde, nos anos oitenta do mesmo século, arqueólogos alemães descobriram os restos de pelo menos sete leões jovens, símbolos da realeza. Em três das sepulturas circunvizinhas foram achados corpos de mulheres adultas; em outra, os restos de um homem; em outra ainda, uma criança jovem com 25 pulseiras de marfim embelezadas com contas minúsculas. Criados, anões e até mesmo cachorros também foram enterrados. Em todos os casos a evidência arqueológica apontou para uma morte sacrificatória. As sepulturas foram cavadas e revestidas com tijolos e então cobertas com madeira e rematadas com alvenaria de adobe. Sobre essa alvenaria, um chão de gesso se estende para fora do recinto e cobre todas as sepulturas. A extensão do chão é sem dúvida uma pista importante, pois teria sido impossível enterrar pessoas debaixo desse chão a não ser todas ao mesmo tempo.
Petrie acreditou ter visto sinais de movimentos ocorridos dentro das tumbas após o sepultamento, o que sugere que as pessoas estavam vivas ou semiconscientes quando foram enterradas. Os esqueletos encontrados não apresentam sinais de trauma e a suposição é de que as pessoas foram envenenadas. Não está claro se teriam cometido suicídio. Uma antropóloga que estudou os crânios sugere que podem ter sido estranguladas. Foram achadas manchas reveladoras dentro dos dentes das vítimas. Quando alguém é estrangulado, ela explicou, o aumento da pressão sanguínea pode romper células de sangue dentro dos dentes e manchar a dentina, a parte do dente logo abaixo do esmalte, o que ocorreu nestes casos.
Os egiptólogos acreditam que realmente foram realizados sacrifícios humanos no início da era faraônica, como também ocorreu em outras partes do mundo antigo. A prática parece ter desaparecido rapidamente. As sepulturas subsidiárias de Aha são as mais antigas encontradas. Seu sucessor, Djer, abraçou a prática com fervor e mais de 300 sepulturas rodeiam sua tumba, e outras 269 cercam seu recinto mortuário. Mas Qaa, o último rei da I dinastia (c. 2920 a 2770 a.C.), teve menos de 30 sepulturas sacrificatórias ao lado de seu túmulo e na II dinastia (c. 2770 a 2649 a.C.) a prática simplesmente desapareceu.
Nome | Aha |
Avós | --- |
Pai | Narmer |
Mãe | Neithotepe (provavelmente) |
Esposas | Benerib e Khenthap |
Filhos | Djer |
Pirâmides construídas | --- |
Túmulo | Necrópole de Umm el Ga´ab em Abido |
Múmia | --- |
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