Maneton dá o nome de Athothis a este faraó e conta que ele construiu um palácio em Mênfis, que era médico e que escreveu livros de anatomia. Dois importantes rótulos deste rei foram resgatados pelos arqueólogos: um de marfim encontrado em Abido, que vemos ao lado, e o outro de madeira, achado em Saqqara, mostrado abaixo. Normalmente os rótulos desse tipo se referem a mercadoria que rotulam, mas neste caso estão datados de um ano do reinado deste faraó marcado pelos principais eventos do período.
Os hieróglifos destas peças são muito arcaicos e sua tradução pode ser feita apenas para palavras ou grupos de palavras isolados, permitindo somente uma vaga interpretação do sentido. A peça em marfim parece registrar uma visita do rei a Buto e Sais, as cidades sagradas do Baixo Egito. A peça em madeira aparentemente registra um importante festival religioso no qual eram realizados sacrifícios humanos.
Já durante a I dinastia (c. 2920 a 2770 a.C.) a nação que está nascendo se defronta com aqueles que seriam seus inimigos tradicionais: os núbios, no Sul. Djer combateu-os com êxito e avançou profundamente em território núbio. Um baixo-relevo em que se relata sua vitória foi gravado no topo do Guebel Sheik Suleiman (a 15 km ao Sul do Uadi Halfa), na entrada da segunda catarata do Nilo. A inscrição, que vemos acima, mostra o cartucho do faraó frente ao qual vê-se uma figura humana: um prisioneiro segurando um símbolo que representa a Núbia. Também aparecem inimigos núbios caídos na batalha e um prisioneiro algemado ligado à proa de um navio. Os dois desenhos semelhantes a rodas representam cidades dominadas. Se esse monumento primitivo registra meramente uma invasão punitiva de Djer, ou uma real conquista é impossível dizer. Entretanto, na Baixa Núbia foram encontrados objetos, sem dúvida nenhuma, produzidos por artesãos egípcios daquele período. É possível, também, que Djer tenha se lançado numa guerra na fronteira leste, já que uma paleta de alabastro encontrada em Saqqara mostra-o na pose tradicional de vencedor abatendo um cativo líbio.
Do ponto de vista interno parece ter continuado a consolidação da unificação do Egito e não há registro de lutas intestinas. Pelo contrário, ao que tudo indica, houve avanços na direção da prosperidade, evidenciada pela expansão da produção artística e artesanal. Exemplos significativos disto podem ser vistos na joalheria recuperada pelos arqueólogos, bem como em vastas coleções de vasos de cobre, ferramentas, armas e outros objetos.
Na necrópole de Abido os arqueólogos encontraram uma série de túmulos reais, saqueados já na antiguidade, datados das duas primeiras dinastias, sendo que seis deles estavam identificadas por estelas reais. Uma de tais tumbas pertencia ao faraó Djer. É formada por uma grande cova revestida de tijolos, de formato retangular, com câmaras irregulares por três lados. A câmara real propriamente dita parece ter sido construída de madeira e todo o túmulo era, originalmente, coberto por vigas e pranchas também de madeira. Nada restou da parte que ficava acima do solo, mas todo o monumento media 21,5 por 20 metros. Circundando a câmara real havia fileiras de sepulturas subsidiárias, 338 no total, que continham os corpos de criados sacrificados por ocasião do funeral do rei. A maioria destas pessoas eram mulheres e em muitos casos havia estelas de pedra toscamente gravadas registrando seus nomes. Além da estela identificando o rei, na câmara real havia valiosos braceletes de ouro, turquesa, ametista e lápis-lazúli enfiados nos ossos de um braço de esqueleto humano e uma dentre tais pulseiras conservava o nome do faraó.
O deus local de Abido era, primitivamente, uma espécie de cão negro. Nos fins do Império Antigo (c. 2575 a 2134 a.C.) essa divindade foi associada a Osíris. Aquela cidade então ganhou fama de abrigar um relicário com a cabeça dessa divindade. Os arqueólogos egípcios da XVIII dinastia (c. 1550 a 1307 a.C.) procuraram provas tangíveis desse mito antigo e tomaram o cenotáfio de Djer pelo túmulo do deus e, assim, dirigiram para ele, a partir de então, as oferendas de várias gerações de peregrinos.
Já na necropole de Saqqara foi descoberto um túmulo muito maior também atribuído a Djer, cujo esquema vemos ao lado. Bastante elaborado, mostra avanços no desenvolvimento arquitetônico da época, principalmente no que se refere aos depósitos e às câmaras sepulcrais subterrâneas, sete no total, cavadas a grande profundidade. Ao redor do túmulo não existem muros nem câmaras secundárias com corpos, mas é possível que tenham sido destruídos pela construção de tumbas posteriores. As dimensôes totais do túmulo encontrado é de 41,30 por 15,15 metros. No final da década de 1950 foi descoberto em Saqqara um grande túmulo pertencente à rainha Her-nit, a qual, pelas evidências do material nele encontrado, pode ter sido a esposa deste faraó.
Nome | Djer |
Avós | --- |
Pai | Aha |
Mãe | Khenthap |
Esposa | Her-nit (?) |
Filhos | --- |
Pirâmides construídas | --- |
Túmulo | Provavelmente na necrópole de Abido |
Múmia | --- |
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