![]() ![]() Caixões e sarcófagos podiam ser retangulares ou antropomorfos, ou seja, com formato humano. Podia-se usar mais do que um ataúde, um dentro do outro, qualquer que fosse o seu tipo ou material, dependendo, é claro, das posses do falecido. Os caixões de forma humana apareceram no Império Médio (c. 2040 a 1640 a.C.) como extensão natural de antigas máscaras que cobriam a parte superior da múmia. Entretanto, só se tornaram realmente comuns a partir da XVII dinastia (c. 1640 s 1550 a.C.), já no Segundo Período Intermediário. Característicos desta dinastia eram os caixões antropomorfos que foram denominados de rishi, palavra árabe que significa "pena", pois a superfície do corpo retratado, do ombro até os pés, estava enfeitada com um par de asas de abutre, representando as asas de Isis e Néftis, que protegiam a múmia. Eles mostram a cabeça do morto coberta com o nemes real, seja ele um faraó ou não. As máscaras, por sua vez, não foram abandonadas completamente, como demonstra o exemplo da sólida máscara de ouro de Tutankhamon (c. 1333 a 1323 a.C.). O caixão antropomorfo normalmente mostrava o defunto na forma de mumia. Porém, no primeiro século a.C e particularmente entre os habitantes gregos do Egito, tornou-se popular mostrar o morto usando uma roupa do cotidiano. Como ocorria com as estátuas, os egípicos acreditavam que este tipo de ataúde proporcionaria um corpo substituto para o espírito no caso da múmia se deteriorar. A decoração varia com a época. No Período Dinástico Primitivo (c. 2920 a 2575 a.C.) alguns caixões têm uma fachada de palácio, o que continuou sendo usado no Império Antigo (c. 2575 a 2134 a.C.). Ainda nesse último período os ataúdes eram caixas retangulares com tampas planas. Eles eram pintados e inscritos com hieróglifos com quatro características importantes: o nome e títulos do defunto; uma lista de oferendas de alimentos; uma falsa porta pela qual o ka poderia passar; e olhos pelos quais o defunto poderia ver fora do ataúde. O corpo era colocado na caixa em tal posição que sua face ficasse alinhada diretamente com os olhos pintados no ataúde. No Primeiro Período Intermediário (c. 2134 a 2040 a.C.) e no Império Médio o caixão retangular podia apresentar em seu interior textos inscritos e representações de vários elementos do equipamento funerário e uma lista de oferendas. Além de serem incluídos nas tumbas, mobílias, roupas, ferramentas, armas e jóias também eram desenhadas nos ataúdes como uma garantia extra de que tudo isso acompanharia o morto no além. Os egípcios acreditavam que essas representações, na falta dos itens verdadeiros, agiriam magicamente e supririam a ausência física dos objetos. Ainda representavam uma refeição funerária e uma falsa-porta que permitiria o ir e vir do ka do falecido. A lista de oferendas garantiria que a alimentação fosse provida eternamente. Afinal, a evolução das crenças funerárias estabelecia que, agora, qualquer um podia aspirar a alcançar o tipo de vida após a morte que anteriormente era privilégio do rei morto. As deusas Ìsis e Néftis eram pintadas como guardiãs na cabeceira e nos pés do ataúde. Por dentro o chão da caixa era pintado com representações de Nut, Ìsis, Osiris, ou com o pilar Djed, que simbolizava a coluna vertebral de Osiris. As laterais mostravam os quatro filhos de Hórus e outras deidades. Inscrições horizontais traziam o nome e títulos do falecido e, ainda, uma oração solicitando oferendas. Inscrições verticais eram orações às divindades em nome do defunto. O exterior do ataúde externo vinha enfeitado principalmente com textos hieroglíficos, nos quais os caracteres eram entalhados e preenchidos com pigmentos coloridos. Furante o Império Novo (c. 1550 a 1070 a.C.), era possível adquirir ataúdes pré-fabricados que, uma vez comprados, poderiam ser completados com o nome e títulos do falecido nos espaços deixados em branco para isso nas inscrições. Caixões brancos com faixas imitando as das múmias eram comuns na XVIII dinastia (c. 1550 s 1307 a.C.). Posteriormente a essa fase a tendência foi um aumento da decoração que passou a apresentar cenas com várias divindades e textos.
Durante a XXV dinastia (c. 770 a 712 a.C.) uma nova forma de ataúde passou a substituir o caixão (...) decretou-se que serei um espírito; livrai-me, portanto, do crocodilo [que vive] neste país de justiça e verdade. Dai-me a minha boca para que eu fale com ela, e fazei que minhas refeições sepulcrais sejam colocadas em minhas mãos na vossa presença (...) não alcance o Demônio domínio sobre mim, não seja eu mandado embora dos vossos portais, nem deixeis que vossas portas se fechem na minha cara, (...) apoderem-se minhas mãos do trigo e da cevada que me serão dados em fartura, (...). E concedei-me comidas sepulcrais, e incenso, e cera, e todas as coisas belas e puras das quais vive o deus, com efeito, para sempre (...).
Um dos temas recorrentes, surgido no final do Império Antigo e ainda usado Os peritos são capazes de reconhecer e datar um sarcófago como nós reconhecemos e datamos o modelo de um automóvel. Por isso eles podem diferenciar por seu estilo, facilmente, um ataúde da XVIII dinastia de outro da XIX dinastia, por exemplo. Entretanto, muitos ataúdes apresentam faixas de hieróglifos que podem conter uma data ou o nome de seu ocupante.
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