O cemitério é uma mistura de túmulos pequenos e modestos com tumbas maiores destinadas às classes média e alta, contendo vasilhames de alabastro, pedra calcária, barro e cobre, bem como belos relevos iguais a este que vemos acima e que mostra uma mulher sentada diante de uma mesa de oferendas. Algumas das tumbas são centenas de anos anteriores às pirâmides. Entre elas as de uma mulher adulta que foi enterrada em um grande ataúde de madeira. A riqueza e a quantidade de seus objetos funerários sugerem que ela foi uma rica matrona menfita. A descoberta mais significativa feita nesse túmulo foi a de uma faca de pederneira intacta, com 30 centímetros de comprimento. Muito poucas dessas belíssimas facas sobreviveram e sua presença ajudou os arqueólogos a datarem a tumba como sendo da I dinastia (c. 2920 a 2770 a.C.). Outra tumba continha o esqueleto bem conservado de uma jovem que teria entre 16 e 18 anos ao morrer. No caixão de madeira simples, sua família colocou jarras e tigelas para óleos perfumados e cosméticos, bem como uma colher de marfim e uma espátula de osso, na crença de que ela gostaria de aplicar maquiagem e se enfeitar bem na vida após a morte.

Análises prelimiares realizadas em alguns dos restos humanos do local sugerem que os habitantes de Mênfis eram surpreendentemente saudáveis. Surpreendentemente porque tratava-se de uma sociedade pré-industrial, na qual normalmente existem muitas pessoas doentes. Mas em Mênfis as pessoas eram muito bem desenvolvidas e bem altas. Até mesmo a mulher comum tinha cerca de 1,65 a 1,75 centímetros de altura. Christiana Kohler, arqueóloga que chefiou a equipe descobridora, comentou que o interessante sobre esta época em particular é que as pessoas levavam com eles para a sepultura tudo que possuíam e estimavam. Assim, torna-se possível contar uma história sobre cada indivíduo simplesmente examinando seus túmulos, os bens entrerrados e os restos funerários e humanos. Isto nos permite dizer algo sobre o desenvolvimento histórico daquele tempo, sobre a estrutura social na ocasião e, também, sobre a individualidade das pessoas naquela época. Uma sepultura é um espelho da vida de alguém e das circunstâncias em que foi vivida. O tamanho de uma sepultura e o número de objetos que contém nos contam se a pessoa era pobre ou rica e estudando seu túmulo podemos determinar sua profissão. Neste cemitério foram encontradas sepulturas de escribas, sacerdotes, soldados e de duas princesas que teriam sido filhas de esposas secundárias do rei.

Embora alguns dos túmulos encontrados tenham sido roubados na antiguidade, muitos deles, entretanto, estão muito bem preservados e os pesquisadores puderam observar a estrutura das tumbas em detalhes. Tratando-se de um sítio dos mais antigos e pelo fato de que os corpos ali enterrados são de pessoas comuns, eles não estão mumificados. Nessa época, apenas os reis passavam pelo processo de mumificação. Entre as sepulturas os arqueólogos fizeram uma descoberta totalmente inesperada mas importante: três lápides que apresentam os primeiros exemplos conhecidos de hieróglifos antigos usados por pessoas comuns. O idioma escrito tinha sido desenvolvido só uns 200 anos antes desta época e as lápides mostram até que ponto os antigos haviam dominado este idioma em tão curto período de tempo.