O chamado Papiro de Turim contém um desenho traçado há mais de 3000 anos que é considerado o primeiro mapa topográfico e geológico do mundo e um dos documentos mais notáveis que os antigos egípcios deixaram para a posteridade. Com cerca de 280 cm de comprimento por 41 cm de largura, ele mostra um trecho de 15 quilômetros do Wadi Hammamat no meio do deserto oriental egípcio, um vale que incluía uma pedreira e uma mina de ouro. O documento data de cerca de 1150 a.C. quando foi preparado para uma expedição que seria enviada por Ramsés IV (c. 1163 a 1156 a.C.) com objetivo de obter blocos de pedra que seriam transformados em estátuas dos deuses, do rei e de outros notáveis. Foi descoberto, entre 1814 e 1821, em uma tumba na antiga vila de Deir el-Medina. Esta vila abrigava os trabalhadores responsáveis por escavar e decorar as tumbas reais do vizinho Vale dos Reis. Logo após a descoberta, o mapa foi vendido ao rei Charles Felix, governante do reino da Sardenha e Piemonte, no norte da Itália. Em 1824, esse rei estabeleceu o Museu Egípcio em Turim, então capital do reino, e lá o mapa reside até hoje. O papiro foi desenhado por um escriba chamado Amennakhte, que anotou o documento da mesma maneira que um geólogo contemporâneo marcaria uma impressão do Google Earth. Tem anotações que dizem coisas como colinas onde o ouro é encontrado ou colinas de ouro e prata. A distribuição geográfica de vários tipos de rochas tem representação precisa no mapa por meio de pontos marrons, verdes e brancos. Originalmente o documento foi dobrado à maneira de um mapa rodoviário moderno. Isto é uma evidência de que os papiros antigos podiam ser dobrados, ao contrário da visão equivocada de que o papiro é muito rígido e quebradiço para ser dobrado. Tal equívoco decorre do fato de que todos os papiros antigos que possuímos hoje foram secados ao longo dos séculos no deserto, fato que os tornou quebradiços. O museu de Turim contém outro papiro no qual Amennakhte, com a mesma visão para detalhes geológicos, esboçou um diagrama da tumba subterrânea de Ramsés IV no Vale dos Reis. Ninguém sabe quanto ouro foi extraído durante os tempos faraônicos e quaisquer estimativas são meras especulações. As minas faraônicas eram pequenas e nunca penetraram muito profundamente na terra. Geólogos da atualidade ainda procuram ouro na região. |
O tenente-coronel Richard Wesley Bernard fez uma viagem ao Egito no início do século 19. Ele era engenheiro e arquiteto e se entusiasmou com a idéia de construir uma pirâmide como jazigo para seus familiares. Morador de Kinnitty, uma vila irlandesa, ergueu no cemitério da igreja local uma réplica feita em escala da Grande Pirâmide de Gizé com 10 m de altura. A estrutura levou quatro anos para ser concluída, foi terminada em 1834 e é visível em grande parte da vila, pois fica no topo de uma colina. A rica família Bernard era proprietária do Castelo Kinnitty e seis dos seus membros estão enterrados nessa pirâmide. A primeira sepultada foi a jovem Margaret, em 1842, que faleceu com apenas 24 anos de idade depois de ter sido mordida por um cão raivoso. Nos 65 anos seguintes mais cinco Bernards se seguiram e Ellen Georgina foi o último membro da família a falecer, em 1907. Foto © Ardmore Country House. |
Ralph Howard, visconde do condado irlandês de Wicklow, foi outro que construiu uma pirâmide como jazigo para sua família. Ele o fez em 1785 no auge do neoclassicismo, período no qual as imitações estilísticas da Grécia, Roma e Egito não apenas indicavam educação, mas também bom gosto. Com 10 m de altura ergue-se no Old Kilbride Cemetery, nas proximidades de Arklow, cidade daquele condado. O longo epitáfio explica que o mausoléu foi colocado lá em memória de ancestrais que haviam morrido um século antes e por gerações de Howards por vir. Perto da pirâmide existe outra construção de influência egípcia: um edifício em formato de templo, que abriga os corpos de parentes secundários de Howard. A pirâmide tem 33 lajes para caixões, cerca da metade delas ocupadas. O mausoléu foi selado sem explicação em 1823 e dizem que o último corpo enterrado na pirâmide foi o de um bebê. Os moradores da cidade relataram ter ouvido à noite o choro de criança vindo do cemitério, o qual só cessou depois que o cadáver foi removido e enterrado em outro lugar. Foto da pirâmide © Timothy J Morgan/CC BY-SA 4.0. Foto do templo © Colm Keeley |
Também existe uma estranha e obscura pirâmide nos arredores de Rapa, uma vila do norte da Polônia. Ela foi construída por Friedrich Heinrich Fahrenheit, ou Fahrenheid, um importante oficial e nobre da Prússia Oriental Imperial, o qual era colecionador de arte. Viajando pelo mundo, foi tomado pelo fascínio pelo Egito antigo e ficou obcecado pela mumificação e crenças faraônicas da vida após a morte. Contratou um famoso escultor dinamarquês da época, Bertel Thorvaldsen, para erigir um túmulo familiar na forma de uma pirâmide egípcia em miniatura. Concluída em 1811, a estrutura tem uma base quadrada perfeita com lados de 10,4m, altura de 15,9m e um ângulo interno da parede de 51 ° 52 ', idêntico ao das pirâmides egípcias de Gizé. Infortunadamente, apenas três anos após a conclusão da obra, a filha de três anos de Friedrich, Ninette, faleceu e foi sepultada no mausoléu. Com o tempo, mais membros da família foram lá enterrados até que o próprio Friedrich foi sepultado em 1849. Durante os estágios finais da Segunda Guerra Mundial, a família Fahrenheit fugiu antes do avanço das forças soviéticas. O Exército Vermelho abriu as paredes do mausoléu, profanou os túmulos, cortou as cabeças dos cadáveres mumificados, esmagou os caixões e deixou o local à mercê do tempo. Provavelmente o abandono salvou o monumento da destruição durante a era comunista e aprofundou o mistério da estrutura. Ainda em perfeitas condições quando foram agredidas, as múmias decapitadas não se decompuseram, apesar do pântano predominante na área. O público vinha de longe para visitar e fotografar os corpos. Posteriormente os moradores da área reconstruíram o monumento, mas deixaram os corpos sem cabeça em exposição. Em 2008, depois de designar o local como um marco histórico, o governo polonês colocou as múmias de volta em caixões fechados e selou a entrada para sempre. Em 2018 uma restauração foi feita. Hoje os visitantes que olham através das janelas gradeadas vêm apenas quatro caixões cobertos de flores. Foto © Atlas Obscura.. |
Exposição organizada pelo Israel Museum, de Jerusalem, tenta mostrar as semelhanças entre os hieróglifos e os emoji, pictogramas que se originaram no Japão no final dos anos 90, usados na atualidade. E, de fato, algumas semelhanças são bem curiosas como mostra um dos gráficos exibidos pelo museu. A representação egípcia de um cão se parece muito com o emoji de um cãozinho de perfil. Um pato, um símbolo genérico para uma criatura alada no antigo Egito, reaparece milhares de anos depois como um pato emoji quase idêntico e voltado para a esquerda. E os homens dançando são bem semelhantes no hieróglifo e no emoji. Atualmente egiptólogos, linguistas cognitivos e especialistas em comunicação começaram a debater as semelhanças entre os dois sistemas de comunicação e o que os diferencia. Alguns saudaram o emoji como um novo idioma. Foto © Studio Ira Ginzburg
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Embora muitos possam pensar, o Egito não é o país com o maior número de pirâmides no mundo, cerca de 138 encontradas até agora. Tal título pertence ao Sudão que tem entre 200 e 255 pirâmides conhecidas. Foram erguidas por membros do Reino de Kush, uma antiga civilização que governou áreas ao longo do Nilo de 1070 a.C. a 350 d.C. Os objetivos eram os mesmos: enterrar a realeza sob altas pirâmides — presumivelmente para ajudar suas almas a alcançarem os céus — mas, estruturalmente, os edifícios são bem diferentes. São muito mais íngremes e estreitos e construídos a partir de pedras escalonadas, em oposição às superfícies lisas das pirâmides egípcias mais amplas. Os tamanhos também diferem muito: a pirâmide média Kushita tem de 6 a 30 metros de altura, enquanto as egípcias às vezes atingem centenas de metros. Uma das maiores concentrações de pirâmides no Sudão está no centro do país, na antiga cidade de Meroé. Somente ali estão cerca de 200 delas, sugerindo que em algum momento era uma próspera metrópole. Muitas perguntas ainda precisam ser respondidas sobre o assunto: Quais os métodos empregados na construção? Quanto tempo levava para erguer cada uma delas? O que aconteceu com a sociedade como um todo? No momento, ninguém tem certeza. Na foto algumas pirâmides reconstruídas no sítio arqueológico de Meroé. |
Esta imagem mostra as tropas australianas que guardavam o Canal de Suez e outras posições britânicas no Egito durante a I Guerra Mundial descansando após uma marcha à sombra da Esfinge de Gízé em 1916. Foto de domínio público. |
Uma egiptóloga, Serena Love, um microbiologista, Richard Bowman, e o criador do Xbox original, Seamus Blackley, aproveitaram o período de quarentena do corona virus para recriarem pão de acordo com o sistema que os antigos egípcios usavam. Utilizaram fermento cultivado a partir de amostras com mais de 4000 anos de idade e ferramentas e técnicas tradicionais que datam desse período. A levedura foi cultivada a partir de amostras obtidas de cerâmica antiga, uma vez que as estruturas porosas destas ajudaram a preservar alguns dos microorganismos originais. A equipe construiu uma panela de argila cônica personalizada chamada "bedja" para assar o pão ao ar livre em uma série de fogueiras, resultando no que é provavelmente o mais autêntico pão egípcio antigo cozido em milhares de anos. Convém lembrar que no Egito antigo o pão era produzido em massa (sem trocadilho) para alimentar os operários da pirâmide e era um alimento básico, juntamente com cerveja e cebolas. Centenas dessas formas de pão no formato de sino foram encontradas nas padarias. Elas produziam um pão com mais de 30 centímetros de comprimento. Os potes eram mal feitos, de material grosseiro, e geralmente quebravam com facilidade. Sobre a panificação não é muito aquilo que sabemos. Existem representações artísticas do processo de produção de pães, mas nem sempre se pode confiar na arte e parece haver partes da história que não se encaixam muito bem, ou detalhes que estão faltando. O objetivo da arte egípcia antiga não era contar uma história com precisão, mas fazer um registro para que a atividade pudesse continuar após a morte. Foto © Richard Bowman. |
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