Desde épocas muito remotas que a captura de animais desempenhou importante papel na vida dos antigos egípcios, já que era a primeira forma de atividade na busca do alimento. Várias cenas mostrando faraós capturando peixes, aves e animais selvagens foram desenterradas pelos arqueológos. Em virtude de sua ação protetora, a caça às feras do deserto eram verdadeiros rituais com caráter esportivo. Touros e cães selvagens, búfalos, gazelas, hienas, leões e leopardos aparecem nas cenas desenhadas desde o Império Antigo (c. 2575 a 2134 a.C.). No Império Médio (c. 2040 a 1640 a.C.) surgem ainda as girafas e os macacos e no Império Novo (c. 1550 a 1070 a.C.) os artistas também representam em seus quadros as caçadas de animais como leões e elefantes realizadas, às vezes, no exterior. A temática da captura de animais no deserto é clássica e tem papel dominante no repertório iconográfico dos túmulos faraônicos. A vitória sobre as bestas hostis, como o hipopótamo por exemplo, representada nesses relevos, exibem o faraó como vencedor no combate contra as forças adversas do caos. Como armas eram utilizados o laço, o dardo, o arpão, o arco e a flecha. Na caça aos pássaros também se empregava um bastão recurvado.
A partir do Império Novo o papel do faraó como esportista ganhou maior destaque, contando suas atividades nessa área como prova de sua força física. Sendo um herói guerreiro e sempre vitorioso, suas proezas esportivas eram da maior importância. O vigoroso Tutmósis III (c. 1479 a 1425 a.C.) iniciou a moda. Ele nos diz que caçou 120 elefantes no norte da Síria, que matou sete leões com o arco em determinada oportunidade e que capturou uma manada de 12 touros selvagens em uma hora, depois do café da manhã. E conta ainda que arremessou uma flecha que atravessou um alvo de cobre de cinco centímetros de espessura, sobressaindo-se 23 centímetros do outro lado e que ele, então, depositou a prova daquele estupendo recorde de boa pontaria no templo de Amon.
O rei Amenófis II (c. 1427 a 1401 a.C.), por sua vez, era apaixonado por equitação. Quando ainda era príncipe, recebeu de seu pai um cavalo para cuidar e alimentar. Uma estela erigida junto da Grande Esfinge de Gizé diz que quando era jovem, amava seus cavalos, se deleitava com eles, era perseverante em exercitá-los e conhecer suas manhas, hábil em adestrá-los e sabia penetrar seus desígnios. Seu pai, Tutmósis III (c. 1479 a 1425 a.C.), percebendo essa tendência, ordenou: Que lhe dêem os melhores cavalos do estábulo de sua majestade que se encontra em Mênfis. Digam-no para que os cuide, que os torne obedientes e que os trate com rudeza caso se rebelem contra ele. Pois bem, depois de ter sido instruído o Filho do Rei de que iria ter o privilégio de dispor de cavalos reais, agiu de acordo com as instruções. (...) Não havia igual no adestramento de cavalos. Quando ele tomava as rédeas, não se cansavam. Não suavam nem mesmo a puxado galope.
Mas ele era também exímio com arco e flecha e uma inscrição da época louva esse seu talento ao afirmar que suas flechas não erravam a mira e fendiam o alvo de cobre como se fosse papiro. Na estela de granito reproduzida acima, que se encontra hoje no Museu de Luxor, o faraó aparece se divertindo praticando tiro ao alvo sobre um carro de combate. Uma placa de cobre lhe serve de alvo. O rei se vangloriava de poder atravessar com uma flecha um alvo de cobre de 7,62 centímetros de espessura, de tal maneira que do outro lado do alvo sobressaíssem mais de 22 centímetros da flecha, ou até sete nonos do seu comprimento, segundo afirma outra inscrição. Tal alvo glorioso foi exposto à admiração dos egípcios com a oferta de um prêmio para quem repetisse a façanha.
Também está registrado que um dia visitou os armeiros e experimentou 300 arcos para comprovar o trabalho de seus construtores. Foi então que, em um jardim, viu que lhe haviam preparado quatro alvos de cobre asiático de 7,62 centímetros de espessura, a uma distância de 10 metros um do outro. Então sua majestade, vigoroso como Montu, subiu em seu carro. Pegou o seu arco e colocou nele quatro flechas ao mesmo tempo. Depois correu até o norte e disparou sobre os alvos como Montu com suas insígnias reais. Sua flecha atravessou-o e caiu do outro lado. Depois disparou contra o alvo seguinte. Em verdade foi uma façanha como nunca antes se havia feito nem ouvido — disparar uma flecha contra um alvo de cobre e a flecha atravessá-lo e cair por terra do outro lado — a não ser pelo rei, poderoso em proezas, Amenófis II.
Quando morreu, levou consigo para o túmulo seu grande arco feito de madeira e chifre, do qual se afirmava que ninguém conseguia estirar, quer fosse um guerreiro do próprio exército do faraó, quer fosse um governante de país estrangeiro, porque a força do rei era maior do que a de qualquer soberano que houvesse existido.
E Amenófis II não ficava só nisso! Outro texto afirma que nas corridas não havia quem o vencesse. Tinha braços poderosos e quando remava não se cansava nunca. Um dia estava passeando num barco com uma tripulação de duzentos remadores na sua nau-falcão. Havia ficado à deriva e os remadores haviam percorrido dois terços de milha a remo. Eram uns desventurados; seus corpos eram débeis; ao passo que sua majestade se mostrava forte com seu remo de mais de 10 metros. Terminou e desenbarcou de sua nau-falcão depois de haver coberto quatro milhas a remo, sem descansar uma só vez. Seu rosto estava formoso de ser visto depois de ter feito isso.
Amenófis III (c. 1391 a 1353 a.C.) deixou textos gravados em escaravelhos comemorativos contando algumas de suas façanhas. Um deles se refere a uma caçada aos leões na qual foram abatidas 102 feras; outro fala de caçada a touros selvagens, na qual 96 animais foram massacrados. Este último texto afirma: Um prodígio que aconteceu com Sua Majestade: vieram dizer a Sua Majestade que havia touros selvagens no deserto do distrito de Faium. À noite, Sua Majestade navegou em direção ao norte na embarcação real. Iniciou-se uma excelente viagem. Ao amanhecer, chegou em paz ao distrito de Faium; sua Majestade surgiu a cavalo, acompanhado de todo o exército.
Foram dadas ordens a todos os oficiais e soldados, inclusive aos recrutas, para vigiarem os touros selvagens. Sua Majestade ordenou, então, que os animais fossem cercados por um muro e por fossos. A seguir, Sua Majestade atirou contra todos estes touros selvagens.
Seu número: 170. Contagem da pilhagem feita por Sua Majestade na caçada daquele dia: 56. Sua Majestade passou quatro dias sem deixar que seus cavalos se recuperassem. Sua Majestade surgiu a cavalo. Número de touros selvagens que ele capturou nesta caçada: 40 bestas. Soma total: 96 touros.
O grande número de tais escaravelhos encontrados demonstram que serviam de meio de propaganda para o rei. (Nossos comerciais, por favor!). Além de exercícios ginásticos, havia jogos de destreza, que exigiam habilidade, força e rapidez. Entre estes podemos citar um que consistia em lançar bastões pontudos, de acordo com regras que desconhecemos, em direção a um alvo no qual eles deveriam se fixar.
Além das atividades esportivas, uma outra série de jogos apelava mais para a sorte do que para a inteligência. Nessa categoria enquadram-se diversos jogos de mesa como, por exemplo, o cobra circular ou o jogo do escudo. Esse tipo de jogo aparece documentado desde os tempos pré-históricos e sua função não era meramente lúdica. Tinham importante papel a cumprir na vida futura e, por isso, aparecem frequentemente entre os objetos funerários. A viagem subterrânea dos mortos era comparada à viagem sobre o tabuleiro. Diversas casas representavam os perigos encontrados nessa jornada. O jogo de mesa favorito era, sem dúvida, aquele conhecido com o nome de senet, no qual o tabuleiro é formado por três fileiras de dez casas cada uma. Cinco dentre elas estão marcadas com caracteres cujos valores numéricos podem ter um significado tanto positivo quanto negativo. Os peões, entre cinco a sete, eram movimentados segundo as indicações dos objetos que serviam como dados. Na foto acima um tabuleiro de senet feito com ébano, marfim e faiança e datado da XVII dinastia (c. 1640 a 1550 a.C.).
No alto desta página vemos uma escultura em madeira sobre a qual foram passadas camadas de gesso e ouro. Ela representa Tutankhamon (c. 1333 a 1323 a.C.) com um arpão na mão direita e uma corda na esquerda. Simbolicamente, o que o rei caça é o hipopótamo, animal sagrado do deus Seth.
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