Numa terra banhada em toda a sua extensão pelo rio Nilo, é óbvia a importância dos barcos na vida dos indivíduos. Carros com rodas seriam inúteis nas areias do deserto e na lama do vale do rio. Barcos levavam e traziam as pessoas e os bens e foram usados para carregar de tudo: de grãos e gado vivo a obeliscos de granito. Com ferramentas de pedra as pranchas de madeira eram moldadas e, depois, amarradas com cordas e calafetadas com junco para que a água não penetrasse. Assim se fabricavam barcos, canoas e bateiras (pequena embarcação sem quilha) que eram usados para a circulação por todo o país, para o transporte das colheitas e para as visitas de pereginação aos principais santuários dos deuses egípcios. Com cordas e caules de papiro eram construídas canoas ligeiras, empregadas para perseguir o crocodilo e o hipopótamo em meio à vegetação aquática, ou para atingir os locais onde as aves se agrupavam em meio ao verde, ou ainda na busca dos cardumes dos peixes mais apreciados. No que se refere ao tamanho, as embarcações podiam ser tão pequenas quanto catraias de pesca, ou tão grandes quanto a barcaça cerimonial do faraó com uma cabine privada. Na foto acima vemos um modelo de barco a vela (c. 1800 a.C.). Na proa um homem verifica a profundidade da água, enquanto o remo é usado como leme. As canoas recém fabricadas eram testadas em sua resistência e rapidez. Um alegre torneio servia para tal finalidade. Coroada de flores campestres, enfeitada com um nenúfar, – conta Pierre Montet – cada pessoa subia para o seu barco e dirigia-o com uma longa vara terminada em forcado. O combate começava com injúrias, muitas vezes extremamente verrinosas. As ameaças e os golpes principiavam a chover. Dir-se-ia que o divertimento ia terminar mal, mas toda a gente visava apenas lançar à água o seu adversário e virar a sua barca. Quando restava apenas um combatente de pé na sua embarcação, acabava a festa. Vencedores e vencidos regressavam à aldeia reconciliados. Os antigos egípcios acreditavam que modelos de barcos em miniatura ajudariam o falecido a ultrapassar os obstáculos da vida após a morte. Às vezes os faraós foram enterrados com barcos de tamanho natural. Em 1988, arqueólogos descobriram em Abido uma frota de 14 barcos, cujos comprimentos variavam entre 18 e 24 metros, que haviam sido enterrados junto com um faraó da I dinastia (c. 2920 a 2770 a.C.). Cada barco teria requerido cerca de 30 remadores para se deslocar na água. Em 1954 foi encontrada, enterrada perto da Grande Pirâmide de Kéops, uma barcaça de madeira. Formada por 650 pedaços desse material, com 43 metros e 58 centímetros de comprimento, provavelmente transportou a múmia daquele rei para sua pirâmide, liderando o cortejo fúnebre.
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