Do muro que, com certeza, rodeava a pirâmide de Kéops, nada restou. Resta apenas parte do pavimento em pedra calcária que preenchia o espaço entre a pirâmide e o muro. Defronte à parte central da face leste da pirâmide há um templo mortuário: uma construção retangular de pedra calcária, medindo 52 metros e 12 centímetros de norte a sul por 40 metros e 23 centímetros de leste a oeste. Na fachada leste do templo, uma passagem dá acesso a uma calçada murada
externa (1). A construção é basicamente formada por um pátio pavimentado de basalto negro (2), rodeado por arcarias. O telhado das arcadas pode ser atingido através de uma escada de pedra em caracol (3) e é suportado por colunas de granito (4), todas decoradas com cenas esculpidas em baixo relevo. No fundo do templo há um nicho (5) que talvez tenha sido o santuário. Se existia ou não alguma coisa entre os fundos do templo e a base da pirâmide de Kéops, não se sabe.
Ao norte e ao sul do templo, mas em uma área localizada do lado externo aos muros que rodeavam a pirâmide, foram encontradas duas covas em forma de barco escavadas na rocha. Outra cova semelhante foi achada junto ao templo. As três estavam vazias. Uma quarta cova, porém, localizada ao sul dos muros, continha um bote de madeira de cedro, parcialmente desmontado, com 43 metros e 58 centímetros de comprimento, 5 metros e 60 centímetros de abertura e com capacidade de deslocamento de mais de 40 toneladas. Elegante embarcação, tem sobre a ponte uma cabine sustentada por colunas em forma de papiro. Para desobstruir a cova onde a barca se encontrava foi necessário mover 41 blocos de calcário que cobriam a fossa, os quais pesavam entre 17 e 20 toneladas. Com certeza valeu a pena o trabalho. Nessa barca de milhões de anos, como diriam os egípcios, o casco é formado por centenas de peças de madeira que se encaixam como se fosse um enorme quebra-cabeça e que são mantidas unidas por um único pedaço de corda. Assim, tornava-se desnecessário usar calafetagem ou piche para que o barco fosse estanque. O projeto baseava-se no fato de que, quando úmida, a madeira incha, ao passo que a corda encolhe. Isso produzia uma vedação automática, impermeável à água. Afirmam os estudiosos que esse barco tinha condições de navegabilidade infinitamente melhor do que qualquer embarcação da época de Cristóvão Colombo. O barco, um conjunto de 1224 peças, levou 10 anos para ser reconstruído e um museu foi erguido ao lado da pirâmide especialmente para abrigá-lo. Para ver fotos desse barco, clique aqui, aqui e também aqui. O costume de enterrar barcos junto aos sepulcros existia desde a I dinastia. Alguns deles talvez tivessem sido usados no decorrer do funeral, mas outros destinavam-se a servir de meio de transporte para o morto no além-túmulo, seja para acompanhar a barca do deus-Sol em sua jornada, seja para atingir as regiões profundas onde os deuses habitavam.
No lado sul da calçada murada que dá acesso ao templo,
e em ângulo reto com ela, existe uma fileira de quatro pirâmides satélites, sendo que três delas apresentam uma pequena capela em ruínas junto à sua face leste. Ao lado da primeira pirâmide há uma pequena cova em forma de barco. Nas proximidades dela os arqueólogos descobriram um túmulo real intocado pertencente à esposa do faraó Snefru e mãe de Kéops, a rainha Hetepheres. O sepulcro foi encontrado no fundo de um poço de 30 metros de profundidade e que havia sido totalmente bloqueado com alvenaria. Não havia qualquer edificação sobre o poço. Muito ao contrário, sua boca foi cuidadosamente disfarçada para confundir-se com o restante do solo e não ser localizada. Na câmara mortuária havia um fino sarcófago de alabastro vazio, mas as vísceras lá estavam em uma caixa também de alabastro. Diversos objetos foram encontrados na câmara funerária: vasos de alabastro, um jarro de cobre, três vasos de ouro, navalhas de ouro, ferramentas de cobre e um instrumento de ouro para manicura, pontudo numa das extremidades para limpar as unhas e curvo na outra para pressionar a
cutícula. Havia, ainda, uma caixa de toalete com oito pequenos vasos de alabastro cheios de unguentos e pós. Numa caixa de jóias estavam 20 ornatos de prata para o tornozelo, decorados com libelinhas de malaquita, lápis lazuli e cornalina. Objetos maiores também figuravam no conjunto: uma estrutura de baldaquino feita de madeira revestida de ouro, duas cadeiras com braços e uma cama parcialmente revestidas com folhas de ouro. Nos pés da cama vê-se um painel de ouro decorado com um desenho floral em azul e preto.
A leste e a oeste dos muros que cercavam a pirâmide de Kéops existiam grandes cemitérios de mastabas, dispostas em fileiras paralelas. No lado sul da pirâmide havia apenas uma fila de mastabas e no lado norte elas não existiam. Os ocupantes dos túmulos do cemitério do lado leste eram parentes próximos do rei e os do lado oeste, que é o maior, funcionários da administração. Tal disposição ilustra a crença de que o faraó viveria no além-túmulo cercado por seus parentes e servos leais. Muitas das mastabas perderam seu revestimento externo. Originalmente estavam recobertas por pedra calcária, a exemplo da pirâmide. Assim, todo o conjunto apresentava uma coloração uniforme, com a Grande Pirâmide se elevando bem ao centro de forma impressionante. Por sua vez, o contraste entre a enormidade da pirâmide e a pouca altura das mastabas deveria ilustrar a diferença entre a majestade divina do rei e a condição de simples mortais de seus súditos. A simetria das sepulturas foi quebrada já no decorrer da V e da VI dinastias, quando pequenas mastabas foram erguidas nos espaços existentes entre as fileiras dos túmulos primitivos. Os próprios funcionários da necrópole e os sacerdotes mortuários, que executavam as tarefas necessárias à preservação do bem estar dos mortos, construíram ali seus próprios sepulcros. Em épocas posteriores, os egípcios passaram a acreditar que construir seus túmulos na região de Gizé lhes conferiria vantagens adicionais após a morte e, assim, toda a área apinhou-se de sepulcros. |