Essa múmia, cujo verdadeiro nome é ignorado e que os pesquisadores batizaram de Annie, pertence a uma garota que deve ter falecido de uma forte pancada na cabeça quando tinha entre 16 e 18 anos de idade, por volta de 250 a.C. Ela foi encontrada enterrada na localidade de Akhmim. Trata-se de uma múmia minúscula, com apenas 1,25 m de comprimento, com ossos extremamente delicados. Seus ombros são magros como os de uma criança. Uma das conservadoras da instituição ao qual ela pertence, a Academy of Natural Sciences da Filadélfia, nos Estados Unidos, escreveu: "Era maravilhoso sentar perto dela ciente de que se tratava de uma pessoa que respirou, e caminhou, e riu, e morreu no antigo Egito muito antes que eu existisse. Ela cheirava docemente, ou devido aos óleos de embalsamamento, ou talvez devido ao cheiro do linho."
O corpo foi envolto em bandagens e depois coberto com uma placa de cartonagem que vai do tórax aos tornozelos, como vemos acima. Por cima há tiras de linho de uma cor marron dourada, com cerca de três centímetros de largura, que a envolvem de forma bem apertada. Estas tiras foram tecidas cuidadosamente e são formadas por fios finíssimos. Os pés estão cobertos por uma "bota" de cartonagem muito bonita, com padrões complicados e figuras pintadas sobre toda ela. Há um padrão de tabuleiro de damas minúsculo na planta dos pés e um padrão branco que imita uma correia de sandália que corre pelo peito dos pés. As cores são extraordinárias: um profundo vermelho amarronzado, preto e branco e um intenso verde escuro. Tanto a bota quanto a máscara e o peitoral que acompanham a múmia foram feitos clara e especificamente para Annie.
O mais curioso é que, provavelmente, os sacerdotes que embalsamaram o corpo não sabiam o nome da jovem. Se o soubessem, o teriam registrado em seu ataúde, que vemos ao lado. Apesar disso, ela foi enterrada com considerável cerimonial, o que é sugerido por sua máscara dourada e seu sarcófago elaboradamente decorado. E por que uma menina desconhecida teria recebido tantos cuidados? Os egiptólogos acreditam que o corpo da jovem deve ter sido encontrado flutuando no Nilo e a resposta para o procedimento encontra-se nos costumes descritos por Heródoto. Este historiador grego escreveu:
Caso se encontre um cadáver abandonado, seja o morto Egípcio ou mesmo estrangeiro; trate-se de alguém atacado por crocodilo ou afogado no rio, a cidade em cujo território foi o corpo atirado é obrigada a embalsamá-lo, a prepará-lo da melhor maneira e a sepultá-lo em túmulo sagrado. Não é permitido a nenhum dos parentes ou dos amigos tocar no cadáver; só os sacerdotes do Nilo têm esse privilégio; e eles o sepultam com as próprias mãos, como se se tratasse de algo mais precioso do que o simples cadáver de um homem.
Esta múmia foi adquirida por volta de 1885 pelo consul americano em Calcutá, Charles Huffnagel, cuja família a doou em 1903 para a Academia onde permanece até hoje.
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