Envolver uma múmia em bandagens não era um processo simples. Os sacerdotes gastavam de sete a 14 dias para executar o serviço. Enquanto o processo de secagem estava sendo realizado, os parentes do morto reuniam cerca de 370 m² de tecido de linho e os entregavam aos embalsamadores. As pessoas ricas, às vezes, usavam material que havia servido de vestimenta para estátuas sagradas, enquanto que os mais pobres recolhiam roupas velhas e outro tecidos de linho de uso doméstico. Com este material os sacerdotes faziam longas tiras com larguras variando entre sete e 20 centímetros.
O cadáver era envolvido em uma mortalha e, metodicamente, as
bandagens eram enroladas ao redor das diferentes partes do corpo. Geralmente o trabalho se iniciava pelas mãos e pés. Dependendo da importância do defunto ou das posses da família, os sacerdotes poderiam embrulhar individualmente os 20 dedos. A seguir o trabalho era realizado na cabeça, braços, pernas e torso. Depois de envolverem todas as partes do corpo, os embalsamadores começavam a enrolar o corpo como um todo. Na medida em que aplicavam novas camadas de pano, cobriam o linho com resina quente para colar as bandagens no lugar. Colocavam junto ao corpo, em diferentes camadas das bandagens, amuletos que protegeriam o falecido no além-túmulo, bem como pedaços de papiros inscritos com dados informativos ou preces que serveriam ao mesmo propósito. Pessoas ricas e importantes ainda recebiam protetores para as unhas e jóias entre os panos. Durante todo o processo os sacerdotes acompanhavam o trabalho proferindo orações e encantamentos.
No Período Greco-romano (332 a.C. a 395 d.C.), a maioria das pessoas foi embalsamada dedicando-se menos atenção à preservação dos órgãos e tecidos e mais atenção às envolturas externas. Estas eram arrumadas cuidadosamente de forma cruzada, decoradas com deuses egípcios em pigmentos coloridos e materiais dourados e retratos do rosto do romano eram postos por cima de tudo.
As razões pelas quais os antigos egípcios usavam bandagens em seus mortos parecem bastante claras: elas mantinham a umidade afastada do corpo que, assim, não se decomporia; os tecidos permitiam reconstruir o formato do corpo, alterado pelo processo da mumificação, dando-lhe uma aparência mais natural e, finalmente, os panos mantinham tudo reunido, pois sem eles a frágil múmia dissecada provavelmente se quebraria ou estouraria. Para a eficácia deste trabalho as bandagens tinham que ser enroladas firme e meticulosamente. Além disso, elas eram previamente tratadas com resinas de abeto e de outras árvores da família das pináceas, cera de abelha, mirra, vinho de palma, cássia, óleo de cânfora e outras substâncias que tivessem propriedades secantes ou anti-bacterianas.
Na foto do alto da página, múmias de três irmãs que viveram na XXII (c. 945 a 712 a.C.) ou XXIII (c. 828 a 712 a.C.) dinastias. Na outra foto, detalhe de uma destas múmias. Ataúdes e múmias originárias de Tebas. Madeira e material orgânico. Expostas no Museu Egípcio de Turim. Fotos exclusivas © Roseli M. Comíssoli de Sá
|