Descobertas Arqueológicas |
Em 2003 uma equipe de pesquisadores descobriu três novos edifícios em Abido, um importante sítio arqueológico próximo da última pirâmide real egípcia. Também encontraram mais paredes e construções nas proximidades de outra pirâmide; tijolos esculpídos com nomes dos responsáveis pelas obras; fragmentos de pedras calcárias decoradas, pertencentes a relevos de um templo; pedaços de estátuas e pequenas lajes de pedra inscritas, conhecidas como estelas votivas, usadas como elementos de adoração. As descobertas engrossam a documentação da arte descritiva de fatos reais e leva para um passado ainda mais remoto a data de início da complexa representação artística da guerra no Egito antigo. O local revelou as mais antigas imagens detalhadas conhecidas na arte egípcia de cavalos e carruagens usados nas batalhas, como também as mais antigas representações conhecidas de uma prática que depois se tornou comum nas documentações de combates: pinturas de conjuntos de mãos de inimigos decepadas. Um dos edifícios descobertos foi um templo bastante grande, com cerca de 40 metros de comprimento, provavelmente dedicado a Amósis-Nofretari (ilustração ao lado), irmã e esposa do faraó Amósis (c. 1550 a 1525 a.C.), fundador do Império Novo. A equipe também escavou um cenotáfio dedicado a outra mulher importante, a rainha Tetisheri, avó de Amósis. A área da pesquisa compreende o setor sul de Abido, um local entre Luxor e Cairo na margem ocidental do Nilo. No começo do século XX arqueólogos britânicos exploraram essa região e descobriram a pirâmide de Amósis, ao que se sabe, a última construída no Egito. Hoje ela não passa de um monte de entulhos com cerca de 11 metros de altura e como suas pedras e as dos monumentos circunvizinhos foram usados, ainda na antiguidade, para edificação de outras obras, restam só fundações e pedaços de paredes, inclusive relevos, juntamente com pedra calcária e artefatos quebrados e espalhados no local. Entre os relevos encontrados há representações pictóricas da vitória do faraó sobre os hicsos, povo que invadiu o Delta do Nilo por volta de 1640 a.C. Um conjunto de fragmentos mostra um grupo de três arqueiros arremessando flechas, cavalos atrelados a carruagens, navios com remos e guerreiros caídos que podem ser reconhecidos, por suas vestimentas e suas longas espadas, como asiáticos, provavelmente hicsos. Outros fragmentos trazem os nomes de Apophis, o líder dos hicsos, e de Avaris, a principal cidade do inimigo. Os pesquisadores acreditam que Abido tenha sido o único lugar do Egito no qual Amósis registrou visualmente suas batalhas contra aquele povo. O faraó usou carruagens e cavalos para expulsar os estrangeiros e conquistar a Palestina a nordeste e a Núbia ao sul. Além do templo que se acredita seja de Amósis-Nofretari, foi encontrado outro templo e ainda uma grande estrutura medindo 35 por 39 metros, que pode ter sido um centro administrativo ou um lugar no qual os sacerdotes organizavam as oferendas para o templo, visando o culto do próprio faraó, o qual foi considerado um deus, ou mesmo de sua esposa e de sua família. Essa última hipótese está baseada na existência no local de pão e cerveja e de recipientes para a produção desses alimentos. Esta construção pode oferecer pistas que realçam um dos valores fundamentais desse sítio arqueológico, ou seja, ele contém estruturas que fazem parte de uma comunidade em funcionamento. Os pesquisadores aprenderão que papel tinha um templo na organização econômica e social da comunidade. Um achado, por exemplo, que permite conhecer um pouco das atividades diárias do templo foi o de um pequeno pedaço de pedra calcária com algumas anotações em hieróglifos, feitas por um sacerdote, registrando as quantidades de grãos que entravam no templo. Ainda nas proximidades existem fornos que parecem ter sido muito usados, pois estão muito enegrecidos, os quais se acredita tenham servido para assar pão. Dezenas de milhares de formas para pães comuns, que eles usavam no cotidiano, com as quais faziam um tipo de pão semelhante ao pão francês, foram achadas. No santuário de Tetisheri já havia sido encontrada, no século passado, uma estela de pedra de 1 metro e 80 centímetros de altura que se refere à construção do monumento. Nela, alguns dos hieróglifos falam da existência de uma edificação anexa e os arqueólogos descobriram agora um muro de 90 metros de comprimento por 70 de largura que circunda o cenotáfio e apresenta pequenos edifícios em cada canto, que ainda precisam ser explorados. Os estudos demonstram que a área que está sendo pesquisada foi de grande importância para os egípios por um período de cerca de 250 anos, desde o tempo de Amósis, até o de Ramsés II (c. 1290 a 1224 a.C.) pelo menos, ou talvez até o do seu filho Merneptah (c. 1224 a 1214 a.C.). Nas pesquisas deste século os arqueólogos descobriram dois tipos principais de relevos no local. Um estilo caracterizado por altos-relevos esculpidos em pedra calcária branca e pintados em cores luminosas de tom pastel, que podem ser atribuídos ao reinado de Amósis, e um segundo estilo, de natureza mais clássica com baixos relevos sem pintura, provavelmente do reinado de Amenófis I (c. 1525 a 1504 a.C.), o filho de Amósis que o sucedeu. |
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