Com este faraó, o primeiro da III dinastia (c. 2649 a 2575 a.C.) e cujo nome também é grafado como Sanakht ou Zanakht, teve início um novo capítulo da história egípcia, pois haviam cessado as lutas intestinas e, nos séculos vindouros, a surpreendente civilização do país se desenvolveu em meio a uma profunda paz interna. A partir deste momento, também, os sacerdotes de Heliópolis permaneceram muito próximos ao trono e o deus solar Rá tornou-se o patrono da linhagem real. A unificação que havia sido realizada por Khasekhem, depois de uma guerra sangrenta, na realidade deixara intacto o poder dos antigos inimigos. De agora em diante, qualquer que fosse a origem política ou religiosa do faraó, ele seria o eleito de Rá e Heliópolis tornou-se o mais venerado santuário de todo o reino.
O nome deste faraó significa Proteção Forte. É possível que tenha alcançado o poder através do matrimônio com uma filha de Khasekhem, seu antecessor no trono, já que desde essa época remota a realeza era transmitida, provavelmente, pela linhagem feminina, o que é chamado de matrilinearidade.
Embora Maneton e o Papiro Real de Turim atribuam um reinado de 18 anos a este faraó, pouco se sabe sobre seus feitos, mas sua memória parece ter perdurado por muito tempo entre os egípcios. Na tumba de um alto funcionário da IV dinastia (c. 2575 a 2465), em Saqqara, existem inscrições que contam que o dono do túmulo havia trabalhado para o culto funerário de Senáquete, indicando que a memória do faraó foi venerada em um santuário daquela área muito depois de sua morte. Além disso, ele figura em um conto popular, de época bem posterior à sua, como homem de moral severa que mandou queimar viva a esposa infiel de um grande mágico. Seu nome também aparece em uma pequena pirâmide na ilha de Elefantina, perto de Assuão, limite sul do Egito naquela época.
Na busca por minerais os egípcios foram atraídos, já na III dinastia, por depósitos de turquesas e cobre dos vales situados a sudoeste do Sinai. As minas no wadi Maghara foram exploradas desde logo e as primeiras inscrições e relevos nas rochas são da época deste faraó. Na foto do alto desta página vemos um fragmento de arenito originário daquele wadi. A pedra comemora uma expedição às minas de turquesas. Tais expedições costumavam deixar um registro oficial inscrito nas pedras do local. Este exemplo é uma das primeiras destas inscrições reais, ou seja, em nome do rei, não com sua presença. Ela mostra Senáquete golpeando uma figura, agora destruida, de um chefe inimigo. Na frente do rei, que usa a Coroa Vermelha do Baixo Egito, pode-se ver seu cartucho e à direita aparece o exemplo mais antigo da grafia da palavra egípcia para turquesa. O fragmento tem 33 cm de altura por 47 cm de largura e encontra-se, atualmente, no Museu Britânico de Londres.
O tumulo de Senáquete nunca foi encontrado com certeza, mas perto da aldeia de Beit Khallaf, cerca de 20 km a noroeste de Abido, foram achadas cinco grandes mastabas de tijolos contendo, entre outros objetos, selos de argila com o nome de Senáquete. Tais túmulos provavelmente foram construídos para administradores daquela região nos princípios da III dinastia. Em um deles foi descoberto, em 1902, esqueleto de um homem de estatura bastante elevada, 25 cm mais alto do que a média dos egípcios daquela época. Estimou-se que o indivíduo teria cerca de 1,86 m de altura. Considerando-se que Maneton declarou que um dos reis deste período era muito alto e pesado, os restos mortais desta mastaba poderiam ser de Senáquete. Mas nenhum indício foi encontrado confirmando a existência de uma mastaba que, com certeza, tenha sido dele. O sucessor de Senáquete foi seu irmão Djoser (c. 2630 a 2611 a.C.), o construtor da pirâmide de degraus em Saqqara. Arqueólogos sugeriram que a primeira mastava que forma a base da pirâmide de Djoser foi erguida por Senáquete e, ainda, que Djoser teria enterrado seu irmão numa das galerias sob o lado oriental da pirâmide.
Senáquete às vezes é identificado como Nebka, nome este que aparece em listas de reis muito posteriores, elaboradas muitos séculos depois do seu tempo. As datas de reinado que atribuímos a este faraó estão baseadas na obra de John Baines e Jaromir Málek, O Mundo Egípcio, que seguimos ao longo de todo este site. Entretanto, a posição deste faraó como o fundador da III dinastia, como registrado por Maneton e o Papiro Real de Turim, foi seriamente posta em dúvida através de recentes descobertas arqueológicas em Abido. Tais achados estabeleceram que foi provavelmente Djoser quem ajudou a enterrar Khasekhem e não Senáquete, o que é um forte indício de ter sido Djoser o sucessor de Khasekhem. Selos encontrados na entrada da tumba de Djoser mostram isso. Senáquete ou Nebka seria, então, um rei posterior da III dinastia. Outras fontes listam Senáquete e Nebka como dois reis separados. Segundo elas, Nebka seria o fundador da III dinastia e Senáquete teria reinado posteriormente, talvez depois de Khaba (c. 2603 a 2599 a.C.).
Nome | Senáquete (= Nebka?) |
Avós | --- |
Pai | --- |
Mãe | --- |
Esposa | Initkaes (filha de Khasekhem(wy) e Nemathap) |
Irmão | Djoser |
Filhos | --- |
Pirâmides construídas | --- |
Túmulo | Provavelmente a mastaba K2 em Beit Khallaf |
Múmia | --- |
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