A reconstituição do rosto das múmias egípcias já não é novidade. Porém, no caso de um corpo exposto no Westminster College, em New Wilmington, nos Estados Unidos, os técnicos inovaram envelhecendo o rosto e dando-lhe a aparência que a vida em um seco clima desértico provavelmente criou. Ao contrário de outras reconstituições de múmias que exibem uma pele macia de bebê, a de Pesed, uma mulher que foi mumificada entre 300 e 220 a.C., de fato mostra a velha com 60 ou 70 anos que ela deveria ser ao morrer.
As pesquisas mostraram que ela era corcunda, tinha um metro e meio de altura, o esqueleto destruído pela osteoporose e 60% de seus dentes haviam sido perdidos por ocasião de seu falecimento. Ela, provavelmente, aparentava ser mais velha do que a idade que tinha. Abcessos na mandíbula podem ter causado uma infecção que eventualmente a matou. O escaneamento também mostrou que os músculos das pernas haviam sido bem exercitados, indicando que ela pode ter sido uma dançarina do templo local na sua mocidade.
De acordo com os hieróglifos de seu sarcófago, acredita-se que tenha vindo de uma longa linhagem de sacerdotes e sacerdotisas egípcios. Fiha de um sacerdote e músico do templo em Akhmim, Pesed provavelmente fazia parte de uma alta classe privilegiada daquela cidade, situada cerca de 480 quilômetros ao sul do Cairo, pela qual passavam várias rotas de importantes caravanas comerciais. Mas deve ter sido a sorte, mais do que seu status, que lhe permitiu viver bem além da expectativa de vida daquela época, situada em torno dos 40 anos de idade. O fantasma da dor deve tê-la assombrado em seus últimos dias de vida. Pelo menos é o que parece indicar um pequeno amuleto em forma de disco, com quase oito centímetros de diâmetro, situado debaixo de seu braço esquerdo e envolto entre as bandagens. A peça está ornada com um símbolo do Olho de Hórus, o qual se acreditava ter poderes de cura e proteção. Na foto acima, a máscara mortuária colocada sobre a múmia de Pesed.
Usando-se 2500 imagens geradas por um tomógrafo computadorizado, enquanto que para Tutankhamon (c. 1333 a 1323 a.C.) foram empregadas "apenas" 1700, foi criado um modelo tri-dimensional do crânio da múmia. Os dados do escaneamento foram editados e qualquer informação estranha ao crânio, tais como as bandagens, resinas e outros objetos colocados entre os panos foi removida. O que restou foram imagens de ossos e o computador organizou-os num modelo em três dimensões. Uma impressora especial usou gesso e fibra de vidro, ao invés de tinta, para criar um molde do crânio. Com ele nas mãos, Frank Bender, um escultor forense da Filadélfia, criou a cabeça cuja foto vemos acima. Nas múmias sempre resta um pouco de carne em seus ossos, mas o processo de mumificação altera a aparência do morto, conservando pouca semelhança com a pessoa em vida. Baseado em estudos da quantidade de carne que uma determinada espessura de osso suporta, é possível reconstruir os volumes de tecido com barro e conseguir uma aparência razoavelmente similar àquela que a pessoa teve durante sua existência. O rosto não foi pigmentado porque os pesquisadores ainda estão estudando os tons de pele da antiga população de Akhmim.
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