Em 1994, Bob Brier, um professor da Long Island University, de New York, mumificou o cadáver de um homem seguindo os métodos usados pelos egípcios. Brier é uma das maiores autoridades mundiais no estudo das múmias. Usando ferramentas e procedimentos antigos, ele realizou o que provavelmente foi a primeira tentativa dos últimos 2000 anos de tratar um cadáver usando os métodos que preservaram os restos mortais dos faraós. Brier seguiu os procedimentos históricos tão de perto quanto foi possível determinar, num esforço para aprender detalhes sobre o processo.
A primeira providência consistiu em visitar uma área chamada Wadi Natrun, situada a 96 quilômetros do Cairo, para obter cerca de 270 quilos de natrão, um produto constituído basicamente de bicarbonato de sódio e sal de cozinha e que era o agente secante principal de uma mumificação egípcia. A seguir ele adquiriu olíbano, um incenso extraído de plantas, e mirra em um mercado do Cairo, importou vinho de palma da Nigéria para limpar as cavidades abdominal, torácica e craniana e pediu a um artesão que fabricasse as facas e demais artefatos de cobre e bronze necessários, usando a mesma porcentagem de estanho que os egípcios usavam. Um carpinteiro fabricou uma autêntica mesa de embalsamamento, similar à que foi encontrada em uma tumba egípcia. O departamento de cerâmica da Universidade produziu todas as vasilhas necessárias ao procedimento. Cada uma delas foi marcada com hieróglifos que denotavam sua respectiva função. Da mesma forma foram fabricados os vasos canopos e 365 estatuetas funerárias, uma para cada dia do ano.
Na manipulação do cadáver, o primeiro passo foi extrair o cérebro pelas narinas, utilizando um gancho de metal apropriado, semelhante a uma agulha de crochê, da mesma forma que os egípcios faziam. Depois da remoção do cérebro, Brier usou uma lâmina de obsidiana para fazer uma incisão com cerca de 10 centímetros no abdômen e através dela enfiou a mão para remover cada órgão. Todos eles, bem como as cavidades do corpo, foram lavados com olíbano, mirra e vinho de palma, sendo os órgãos envoltos em natrão para secarem.
A seguir veio o processo de dessecamento. Com o corpo esvaziado de seus órgãos, o cadáver foi fixado em uma tábua de embalsamento. Uma certa quantidade de natrão foi colocada dentro da cavidades abdominal e torácica e o corpo foi coberto com aquela substância. Assim permaneceu durante 35 dias em condições semelhantes àquelas de uma tumba do Vale dos Reis: 46 graus centígrados e umidade abaixo de 30%. No final do prazo o cadáver cheirava mal mas o natrão tinha desidratado o corpo adequadamente.
Os cientistas, cuidadosamente, removeram o natrão e ungiram o corpo com a mirra e o olíbano. As cavidades do organismo foram limpas com vinho de palma e preenchidas com especiarias, mirra, e pacotes de musselina com cavacos de madeira. A seguir, baseados em fotos da múmia de Tutmósis III como guia, embrulharam o cadáver em dez metros de puro linho branco, decorado com orações hieroglíficas e colado com resina natural. Um pequeno amuleto foi colocado sobre o único órgão que foi deixado internamente, o coração, e os órgãos internos foram acondicionados nos vasos canopos, finalizando o trabalho.
A surpresa no procedimento foi a de que um corpo desidratado não deixa os membros flexíveis. Sem um pequeno fluído nas juntas, os braços se quebrarão se forem dobrados sobre o peito. Essa foi a descoberta mais importante e a equipe se viu forçada a desconsiderar a tradição e deixar os braços ao lado do corpo.
Em 2001 Brier publicou um artigo avaliando a situação da múmia passados sete anos e sua conclusão foi a de que a experiência foi bem sucedida, pois nenhuma bactéria atacou o cadáver. As experiências do professor norte-americano podem ajudar os pesquisadores a entenderem porque tem sido tão difícil reproduzir longas sequências de DNA encontradas nas múmias antigas. Os estudos de DNA em múmias — diz ele — também podem conter as respostas a muitas perguntas dos egiptólogos. Poderemos estabelecer as origens dos egípcios e poderemos identificar múmias reais ainda não identificadas. Em tempo: a múmia recebeu o nome de Mumab I.