Hoje em dia as múmias contribuem de várias formas para o nosso conhecimento sobre a antiga civilização egípcia. Elas podem nos dar informações sobre as doenças e o estado de saúde dos antigos egípcios, sua alimentação e outros dados. As modernas técnicas da medicina estão ajudando as pesquisas arqueológicas em múmias e, em contra partida, os médicos também estão sendo beneficiados. O que ocorre é que as múmias estão sendo agora usadas como cobaias em experiências que envolvem alguns dos mais recentes equipamentos médicos, o que inclui testes de DNA, ecografias e tomografias altamente especializadas. A cooperação entre os dois campos - arqueologia e medicina - tem crescido consideravelmente. Alguns dos mais recentes equipamentos médicos têm sido testados em corpos mumificados e a figura acima mostra um desses momentos.
Trata-se de testes que não podem ser feitos em pessoas vivas, porque caso algum erro fosse cometido elas poderiam vir a falecer ou ficar com lesões. Assim sendo, o Museu Britânico de Londres tem emprestado múmias para que vários hospitais londrinos realizem tais experiências. Com o uso da moderna tecnologia, por sua vez, os médicos podem revelar aos egiptólogos o que se encontra dentro destas múmias e fornecer todos os tipos de informações novas com mútuo benefício.
Pesquisas feitas em múmias e esqueletos também vêm revelando que os antigos egípcios sofreram de doenças que até hoje permanecem entre nós, tais como tuberculose e malária. A crença dos especialistas é de que a egiptologia pode ajudar muito no estudo da evolução das doenças. Através dela torna-se possível descobrir qual foi a primeira vez que determinada doença apareceu e porquê. Se houve uma época na qual ela não existia e quais as causas dessa ausência. Finalmente, prescrições escritas em papiros apresentam um elenco de remédios feitos de hervas e descrevem suas virtudes medicinais, embora muitas delas tenham ainda que ser decifradas a partir dos hieróglifos, e isso poderá ajudar a farmacopéia.
Por sua vez, os egiptólogos estão colhendo muita informação sobre o antigo Egito ao estudarem a mumificação. As variações das técnicas empregadas ajudam os eruditos a identificarem a classe social do morto e a apontarem o período histórico no qual a múmia foi preparada. As múmias reais podem melhorar nossa compreensão da cronologia egípcia ao ajudarem a estabelecer a idade de um rei quando de sua morte. Na plenitude de sua arte, os métodos de mumificação dos egípcios eram tão sofisticados que os cientistas de hoje conseguem recuperar amostras de DNA de cabelos e tecidos das múmias. A análise destes DNAs permite estabelecer relações de parentesco entre os corpos.
E não é apenas isso, conhecer as práticas do embalsamamento pode ajudar na datação das múmias, mas também dá informações aos arqueólogos sobre antigas rotas de comércio. Sabendo-se quais eram, exatamente, os materiais usados, é possivel avaliar a extensão do comércio entre o Egito e seus vizinhos. Resinas de árvores coníferas, que era um destes materiais, por exemplo, eram abundantemente encontradas ao redor do Mediterrâneo e os romanos as comercializavam amplamente.
Uma pesquisa de 2005 mostra outro exemplo: ela sugere que o petróleo e seus subprodutos já eram comercializados há pelo menos 3000 anos atrás no Oriente Médio, a mesma região que domina a produção mundial e a exportação de óleo cru atualmente. Os cientistas acharam piche em várias das antigas múmias egípcias. Uma vez que cada lote de piche contém substâncias químicas próprias, os pesquisadores puderam rastreá-las até suas origens. Considerando que o estudo concluiu que fontes de óleo cru estavam espalhadas por centenas de quilômetros em todo o Oriente Médio, os investigadores acreditam que os antigos egípcios não só utilizavam o produto, mas também o comercializavam, usando rotas que mudaram pouco durante milênios.
Os egípcios usavam principalmente piche, pois este pode surgir naturalmente quando o óleo cru fica exposto ao ar. Longas viagens foram realizadas na busca dessa substância, pois ela era usada no processo de mumificação. A própria palavra múmia é derivada da palavra árabe mumiya que significa betume, um componente do piche. O piche retém traços da matéria orgânica que originalmente o produziu, tornando possível determinar de onde veio o produto. Uma parte do piche usado pelos egípcios veio de um local chamado Gebel Zeit, que em árabe significa Montanha do Óleo, situado no Golfo de Suez; outra parte se originou a centenas de milhas de distância, no Mar Morto, perto de Israel. É provável que as pessoas fora do Egito também usassem piche, embora nesse caso não servisse para preservar os corpos. O piche era uma espécie de fita adesiva do mundo antigo e também há evidência, em pelo menos uma localidade egípcia, de que o piche era usado como combustível no processo de fabricação de vidro. Sabemos ainda que em outras regiões o produto foi usado para calafetar barcos e em alguns casos acreditava-se que tivesse propriedades medicinais.
Outras informações que os estudos trazem referem-se ao crescimento e influência de grupos de embalsamadores, às fontes egípcias ou não dos materiais empregados, sejam comuns ou exóticos, e às mudanças nas técnicas dos enterros. Ainda mais: pesquisadores estão usando radiografias para estudar os ossos de animais mumificados, aprendendo como eles morreram e obtendo detalhes sobre a criação doméstica dos animais e as práticas da veterinária no Egito antigo.