Descobertas Arqueológicas

UMA FABRICA DE VIDRO



CERÂMICA Instalações que parecem ter sido um dos primeiros locais do Egito antigo onde o vidro foi fabricado foram descobertas, em junho de 2005, na antiga cidade de PI-Ramsés, localizada na região do delta oriental do Nilo, próximo da moderna aldeia de Qantir, 120 quilômetros ao norte do Cairo. Grande número de cadinhos encontrados com restos de vidro em seu interior indicam que ali se produzia esse material já no ano de 1250 a.C. O vidro era fabricado com emprego de pó de quartzo, finamente esmagado e derretido com outros materiais dentro de vasos cerâmicos, como esse que vemos ao lado com 17 centímetros de diâmetro, os quais, ao término do processo, eram quebrados para retirada do conteúdo. Muito do vidro produzido em PI-Ramsés era vermelho, preparado com uso de cobre em um processo bastante complexo. Um grande carregamento de lingotes de vidro, na cor azul-cobalto, foi achado em um antigo naufrágio ao largo da costa da Turquia. O naufrágio precede os materiais achados em PI-Ramsés, mas os lingotes são semelhantes em tamanho e forma aos cadinhos descobertos no sítio arqueológico egípcio. Tudo demonstra que os egípcios estavam produzindo o próprio vidro em instalações grandes e especializadas e, ainda, que o vidro tinha importante papel como material de elite, sendo exportado para o mundo mediterrâneo. O local escavado pelos arqueólogos forma um grande agrupamento de oficinas onde trabalhavam centenas de artesãos fabricando, também, tijolos vítreos e portas de bronze. Tais oficinas faziam parte do bairro industrial da nova capital do país que Ramsés II (c. 1290 a 1224 a.C.) mandou construir. Mais de mil fragmentos de vários recipientes usados para a produção de vidro foram encontrados. Recipientes cerâmicos, que podem ter sido jarros de cerveja reciclados, contendo cinza vegetal e quartzo esmagado eram aquecidos a temperaturas relativamente baixas. Depois de frios, os jarros eram quebrados para remover esse vidro semi-acabado de seu interior e, então, o vidro era esmagado e lavado para remover o sal da cinza, permanecendo aderido ao quartzo o ingrediente chave da cinza: a soda. O pó resultante era vertido por funis em crisóis especiais, colorido, principalmente com vermelho mas também com azul ou roxo, e aquecido a temperaturas mais altas para formar o verdadeiro vidro. Ao retornar à temperatura ambiente os crisóis continham lingotes circulares de vidro prontos para serem enviados para outras oficinas, onde seriam novamente derretidos para a produção dos belíssimos objetos que conhecemos. Este fragmento de VASO E VIDROjarro que vemos ao lado mostra onde o material cerâmico (em ocre) encontra o vidro cru (branco). A fina linha amarela entre o jarro e o vidro é uma substância rica em limo que servia para prevenir contaminação, impedia o vidro de aderir ao jarro e ajudava o lingote a separar-se do recipiente quando esse fosse quebrado. A maioria dos fragmentos encontrados em Qantir apresenta essa fina camada de limo na parte interna. Os investigadores não acharam qualquer evidência de forno no local. Os objetos de vidro mais comuns feitos durante o período que compreende a XIX dinastia (c. 1307 a 1196 a.C.) foram contas daquele material e recipientes com pescoços estreitos que podem ter abrigado perfumes ou outros valiosos líquidos. Eram freqüentemente produzidos com vidro azul, colorido para emular pedras preciosas como turquesa e lápis-lazúli, marchetado com linhas brancas e amarelas. O vidro é difícil de ser trabalhado, complicado para ser produzido e estava disponível em cores vívidas e de significados simbólicos. Como tal, provavelmente era uma mercadoria real trocada como presente para aumentar o poder, o status e as alianças políticas. Qualquer grupo que controlasse a produção ou o consumo do vidro teria ocupado uma posição política ou social poderosa.




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