Meresamun foi uma sacerdotisa-cantora do templo de Amon em Tebas, atual Luxor, por volta de 800 a.C., tendo morrido com cerca de 30 anos de idade de causas desconhecidas. Seu nome significa Amun a Ama. Tais cantoras acompanhavam o Sumo Sacerdote enquanto ele executava rituais diante das divindades e também podiam participar de consultas a oráculos. A mulher, com um metro e 68 centímetros de altura, aparentemente era mais alta que a média das mulheres da sua época; tinha olhos bem espaçados e dentes salientes. Era uma pessoa muito saudável. O estudo dos ossos demonstrou que sua nutrição foi boa durante toda a vida e que tinha um estilo de vida ativo, ou seja, não sedentário. Embora não tivesse cáries, nem houvesse qualquer sinal de doença dental, tinha o esmalte dos dentes gasto severamente pela presença de areia no pão egípcio. Os pés e seus dedos e unhas, bem como os tendões, estavam todos intatos; mas no pé direito estava se desenvolvendo um joanete causado por má postura no modo de caminhar.
Imagens produzidas por um tomógrafo computadorizado permitiram aos investigadores identificarem cinco amuletos de formato aproximadamente oval no corpo de Meresamun: um cobrindo cada pálpebra, um no pescoço, um no tórax e um nas costas. Elas também mostraram que a garganta da múmia foi enchida com lama, terra, areia misturada com lascas de pedra e alguma espécie de aglutinante, até atingir a boca e recobrir parte dos dentes. O crânio estava vazio.
A múmia foi adquirida em 1920 pelo egiptólogo James Henry Breasted durante uma visita ao Egito e hoje pertence ao Oriental Institute da Universidade de Chicago, nos Estados Unidos. Está contida num ataúde feito de cartonagem, que pode ser visto na foto ao lado. Graças a uma tomografia computadorizada que escaneou detalhadamente o crânio, realizada em setembro de 2008, foi possível criar um modelo digital em 3-D. Os dados foram entregues a dois artistas forenses que, trabalhando separadamente e usando técnicas diferentes, reconstruíram a aparência dela e chegaram a resultados semelhantes. As principais diferenças concentraram-se no formato do queixo e do nariz. Mas os trabalhos apresentam os mesmos dentes salientes, as mesmas maçãs do rosto, e a mesma forma dos olhos.
Um dos artistas foi Joshua Harker que usou técnicas consideradas tão exatas que seus resultados são admitidos nos tribunaais para identificar as vítimas de crimes. Segundo ele, o crânio é a arquitetura motriz da face e todas as proporções e posições estão lá, bastando que saibamos lê-las. Até mesmo as formas dos lábios, nariz e sobrancelhas podem ser determinadas se o técnico souber o que procurar. Nesse método, camadas de gordura, músculo e carne são acrescentadas ao crânio seguindo tabelas pré-existentes. Não foi usado um modelo físico do crânio. O trabalho foi realizado digitalmente em três-dimensões e pode ser vito no topo desta página. (Foto copyright de Joshua Harker).
Outro perito, Michael Brassell, realizou um desenho policial mais tradicional, feito à mão com o uso de lápis. Nesse caso apenas as cores foram acrescentadas digitalmente, dando ao trabalho final um aspecto de pintura a óleo. Ele afirmou que o projeto não foi diferente de quaisquer dos desenhos de cadáveres que ele realizou nos casos de homicídios e que não foi difícil reconstituir a fisionomia da múmia. A foto ao lado mostra o trabalho desse artista. (Foto copyright de Michael Brassell).
Detalhes como a franja e o comprimento dos cabelos e a maquilagem dos olhos estão baseados em estelas e estátuas da época em que a sacerdotisa viveu. Não há nenhuma semelhança entre a face real dela e aquela pintada na cartonagem, porque na época não havia intenção de que os ataúdes se parecessem com os defuntos. Eles eram apenas uma espécie de ícone da pessoa falecida. Os registros deixados pelos antigos egípcios sobre a beleza feminina ideal descrevem muito sobre seios, quadris e cabelos pretos como carvão. Além disso, falam sobre doces lábios a serem beijados. A riqueza do ataúde de Meresamun, o estilo de mumificação e o cargo que ocupava, tudo indica que ela pertencia a uma família abastada.
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