Christopher Dunn é um engenheiro mecânico inglês que desde 1977 vem se questionando sobre a maneira pela qual a pirâmide de Kéops foi construída. Tendo iniciado sua vida profissional como aprendiz em uma companhia de engenharia de Manchester, sua cidade natal, ele se transferiu em 1969 para os Estados Unidos. Iniciando como habilidoso ferramenteiro e especialista em máquinas e ferramentas mecânicas, trabalhou em quase todos os níveis de produção de alta tecnologia, da construção à operação de lasers industriais de grande potência, e chegou ao posto de Engenheiro de Projetos e Gerente de Processos a Laser de uma empresa aeroespacial norte-americana, da qual, atualmente, ele é Gerente Senior.
Em visitas que fez ao Egito, esse pesquisador entrou em contato com
arqueólogos e perguntou-lhes sobre o método que os antigos egípcios usavam para cortar o granito. Eles explicaram o método das cunhas com água que permitiam rachar a pedra. Rachar a rocha — afirma Dunn — é muito diferente de trabalhá-la e eles não me explicaram como as ferramentas de cobre foram capazes de cortar o granito. Por sugestão dos arqueólogos ele foi até Assuão para ver de perto as marcas deixadas nas pedreiras pelos operários, como essas que vemos na foto ao lado, e o obelisco inacabado que lá se encontra. Depois escreveu: As marcas da pedreira que eu vi lá não me convenceram de que os métodos descritos foram os únicos meios pelos quais os construtores das pirâmides extraíram suas rochas. (...) Na maioria das vezes, as ferramentas primitivas que são descobertas são consideradas contemporâneas dos artefatos do mesmo período. Além disso, durante este período da história egípcia, os artefatos eram produzidos abundantemente, sem que tivessem sobrevivido ferramentas que explicassem sua criação. Os antigos egípcios criaram artefatos que não podem ser explicados em termos simples. As ferramentas não representam integralmente o "estado da arte" que se evidencia nos artefatos. Há alguns objetos intrigantes que sobreviveram ao término daquela civilização e a despeito de seus monumentos mais visíveis e impressionantes, temos apenas um fraco entendimento da total extensão da sua tecnologia. As ferramentas exibidas pelos egiptólogos como instrumentos para a criação de muitos desses artefatos incríveis são fisicamente incapazes de reproduzi-los. Depois de permanecer em reverência diante dessas maravilhas da engenharia, ao nos defrontarmos com uma desprezível coleção de implementos de cobre do Museu do Cairo, de lá saímos pensativos e frustrados.
Um método que tem sido proposto pelos egiptólogos, por exemplo, consiste no emprego de pequenas bolas de diorito, outra pedra ígnea extremamente dura, com as quais os artesãos golpeavam o granito. Como — pergunta o engenheiro — é possível que qualquer um que tenha visitado o Egito e visto os maravilhosos hieróglicos com seus intrincados detalhes, cortados com precisão surpreendente em estátuas de granito e de diorito, que se elevam quatro metros acima de uma pessoa, proponha que tal trabalho tenha sido feito golpeando-se o granito com uma bola? Ele destaca que os hieróglifos são incrivelmente precisos, com sulcos quadrados, mais profundos do que largos. Eles seguem contornos exatos e alguns têm sulcos que correm paralelos entre si com distanciamento de menos de um centímetro entre eles. Tais sulcos só podem ter sido cortados com uma ferramenta especial capaz de fender completamente o granito sem lascar a pedra.
Christopher Dunn não é o primeiro a fazer tais questionamentos. Já no século XIX o renomado egiptólogo britânico William Flinders Petrie reconheceu que essas ferramentas eram insuficientes e expressou assombro quanto aos métodos que os antigos egípcios usavam para cortar rochas ígneas tão duras. Ele atribuiu-lhes métodos que nós estamos apenas começando a entender. Dunn afirma que, indubitavelmente, alguns dos artefatos que Petrie estudou foram produzidos usando torno. Há também evidência de marcas de ferramentas de torno claramente definidas em algumas tampas de sarcófagos. O Museu do Cairo contem evidências suficientes, desde que sejam adequadamente analisadas, provando que os antigos egípcios usavam métodos industriais altamente sofisticados.
Dunn nos explica que as marcas deixadas nas pedras da Grande Pirâmide permitem que delas se deduzam quais os métodos usados para cortar o material empregado. E, segundo ele, não apenas as pedras da pirâmide, mas também vários outros artefatos indicam, quase indubitavelmente, que foram usadas máquinas pelos construtores daqueles monumentos. Tais artefatos foram estudados por Flinders Petrie e são todos fragmentos de rochas ígneas extremamente duras. Trata-se de peças de diorito e granito, como essa vasilha que Petrie desenhou, as quais exibem marcas que são as mesmas daquelas resultantes do corte de duras rochas ígneas com maquinário moderno. Petrie levantou evidências mostrando que havia tornos sendo usados pelos antigos egípcios. Também mostrou que eles realizavam tarefas que seriam, pelos padrões atuais, consideradas impossíveis sem técnicas especializadas altamente desenvolvidas. Foi o caso, por exemplo, de terem conseguido criar utensílios côncavos e convexos sem danificar o material.
Apesar dos trabalhos de Petrie, há uma persistente crença entre alguns egiptólogos de que o granito usado na Grande Pirâmide foi cortado usando cinzéis de cobre. Dunn explica que a liga de cobre mais dura existente hoje em dia é o cobre berílio, não havendo evidência de que os antigos egípcios possuíssem tal liga. Mas, mesmo que a tivessem, essa liga não é suficientemente dura para cortar granito. Segundo ele, identificar cobre como o metal usado para cortar granito é como dizer que o alumínio pudesse ser cortado usando-se um cinzel feito de manteiga e, em outro trecho, acrescenta que nós podemos estar inteiramente enganados até mesmo na crença fundamental de que o cobre era o único metal disponível para os antigos egípcios.
Métodos atuais do corte do granito incluem o uso de serras de fita e um abrasivo que tem uma dureza comparável à do diamante e, portanto, é duro o bastante para cortar o cristal de quartzo do granito. A serra não corta o granito, mas é projetada para agarrar o pó do abrasivo, que é o que verdadeiramente faz o corte. Examinando as formas dos cortes feitos em duas peças de basalto examinados por Petrie, Dunn concluiu que é possível que uma serra de fita tenha sido usada, pois parece que deixou sua impressão na pedra. O sulco no fundo do corte tem exatamente a forma do sulco que uma serra desse tipo deixaria. Dunn se pergunta: Se os antigos egípcios realmente usaram serras de fita para cortar pedras duras, elas foram impulsionadas à mão ou à máquina? E responde: Com minha experiência em estabelecimentos metalúrgicos e no número incontável de vezes em que tive que usar serras, tanto manuais quanto elétricas, me parece haver forte evidência de que, pelo menos em alguns casos, foi usado o segundo método.
Ao examinar o sarcófago encontrado dentro da Câmara do Rei na Grande Pirâmide, Petrie observou que em uma de suas extremidades há um lugar onde a serra penetrou muito fundo no granito e foi retirada de volta pelos operários. Ao reiniciarem o trabalho, entretanto, eles ainda o fizeram muito fundamente e duas polegadas abaixo eles retiraram a ferramenta uma segunda vez, depois de terem recortado mais de um décimo de polegada mais profundamente do que pretendiam. Foi também Petrie quem estimou que teria sido necessário aplicar pressão de cerca de uma a duas toneladas sobre serras de bronze com pontas de pedras preciosas para cortar o granito extremamente duro. Se nós concordarmos com estas estimativas — afirma Dunn —, como também com os métodos propostos pelos egiptólogos com relação à construção das pirâmides, então uma forte incongruência existiria entre os dois. Até hoje os egiptólogos não deram crédito a qualquer especulação que sugira que os construtores da pirâmide poderiam ter usado máquinas ao invés de energia humana neste grandioso projeto de construção.
Petrie acreditava que a lógica aponta para o fato de que os cofres de granito achados nas pirâmides de Gizé precisavam ser marcados antes de serem cortados. Era necessário que hovesse uma linha guia para orientar os trabalhadores. É a precisão exibida nas dimensões dos cofres que aponta em tal direção. Além do mais, guias de algum tipo seriam necessárias para alertar os operários de seus erros. Christopher Dunn comenta que as marcas da serra no granito têm certas características que sugerem que elas não eram o resultado de serragem manual. (...) É extremamente improvável que um grupo de trabalhadores operando uma serra manual de quase três metros de comprimento cortassem através do duro granito tão rapidamente que passassem a linha guia antes de notar o erro. E menos provável ainda que, então, retirassem a serra e repetissem o mesmo erro, como fizeram no sarcófago da Câmara do Rei. Não há nada que confirme a especulação de que este objeto foi o resultado de trabalho puramente manual.
O engenheiro explica que a velocidade com que é operada uma serra manual permite que seu desvio em relação ao curso planejado possa ser detectado e evitado rapidamente. Por outro lado, sendo a serra mecanizada ela pode cortar o material e ultrapassar a linha guia tão rapidamente que o erro é cometido antes que a condição possa ser corrigida. Ele esclarece ainda que no sarcófago de Kéops a serra entrou muito profundamente, foi retirada, e então reintroduzida para que o corte fosse reiniciado em um só lado da incisão. Nesse caso, a pressão excessiva na serra de lâmina iria forçá-la de volta para o corte original. Para se fazer um reinicio deste tipo seria necessário que fosse exercida muito pouca pressão sobre a lâmina. Nessas circunstâncias, é duvidoso que as deduções de Petrie de que duas a três toneladas de pressão seriam necessárias para cortar o granito pudessem ser atendidas.
O reinicio no meio de um corte — prossegue o autor —, especialmente num de tais dimensões como o cofre de granito, seria realizado mais facilmente com uma serra mecanizada do que com uma serra manual. Com uma serra manual há pouco controle sobre a lâmina em uma situação como essa, e seria difícil de avaliar precisamente a quantia de pressão necessária. Além disso, a lâmina da serra manual iria se mover bastante lentamente; um fato que questionaria ainda mais a idéia do emprego de uma serra manual. A uma velocidade tão lenta e com muito pouca pressão, a realização do objetivo seria quase, se não totalmente, impossível. Com uma serra mecanizada, por outro lado, a lâmina move-se rapidamente, e seu controle é possível. A lâmina pode ser mantida em uma posição fixa, com pressão uniforme por todo o comprimento da lâmina, e na direção necessária ao reinicio. Esta pressão dianteira e lateral pode ser mantida com precisão até que material suficiente tenha sido removido da peça trabalhada para permitir a continuação na velocidade de corte normal. O fato que uma velocidade normal de corte foi atingida logo após a retificação do engano pode ser deduzido notando-se que no cofre da Grande Pirâmide o engano se repetiu duas polegadas mais adiante. Este é outro exemplo da lâmina cortando o granito no lugar errado mais rapidamente do que foi possível aos homens detectar e interromper.
Existe um outro método para corrigir um engano quando se usa uma serra manual, desde que o erro ocorra apenas em uma área pequena do corte. Consiste em inclinar a lâmina e continuar cortando na área não estragada, de forma que quando a lâmina atinge a área que precisa ser corrigida ela passa a ser sustentada pelo novo corte inclinado e tem força suficiente para combater qualquer tendência em seguir o corte reto original. Esse método poderia ter sido utilizado no cofre da pirâmide de Kéops. Mas caso isso tivesse realmente ocorrido, as linhas da serra que nele aparecem após o ponto em que foi cometido o engano seriam diferentes das linhas da serra antes do erro, porque elas estariam em ângulo. Entretanto isso não ocorre e todas as marcas deixadas pela serra antes e após o erro são horizontais. Qualquer argumento propondo que o engano foi superado inclinando-se a lâmina, o qual, provavelmente, seria o único método eficaz usando-se uma serra manual, fica invalidado. Esta evidência aponta para a probabilidade totalmente diferente de que os construtores das pirâmides possuíam maquinaria motorizada quando cortaram o granito encontrado dentro da Grande Pirâmide e da pirâmide de Kéfren — conclui Dunn.
A parte interna do cofre de granito da Câmara do Rei foi escavada com uso de métodos semelhantes aos que são empregados atualmente para moldar o interior de determinados objetos. As marcas das ferramentas indicam que primeiro foram feitos cortes grosseiros perfurando buracos no granito ao redor da área que seria removida. Segundo Petrie, os buracos foram feitos com brocas de tubo, as quais deixam um miolo central, semelhante a este cujo desenho vemos ao lado, que precisa ser retirado depois do buraco ter sido feito. Só depois que todos os buracos foram feitos e todos os miolos removidos é que o cofre deve ter sido trabalhado manualmente para atingir a dimensão desejada. Aqui também foram cometidos erros e num dos pontos se nota que o orifício não foi feito de forma perfeitamente vertical e "comeu" a lateral do cofre além daquilo que estava previsto. Isso significa que mais uma
vez, enquanto trabalhavam com a broca no granito, os operadores cometeram um erro antes de terem tempo para corrigi-lo, sendo que nesse caso o erro se estendeu até cerca de 20 centímetros abaixo do topo original do cofre. Para ver a peça que deu origem ao desenho ao lado, clique aqui e também aqui
A especulação então é a de que se a broca fosse manual seria necessário retirá-la periodicamente para permitir a limpeza do miolo central do orifício. Dificilmente os operadores poderiam ter perfurado cerca de 20 centímetros granito adentro sem precisar remover suas brocas. É possível, então, que retiradas freqüentes da broca mostrassem o erro cometido e que eles notassem a direção errada que a broca estava tomando antes que fizessem um talho no lado do cofre e, assim, não teriam mantido a broca no caminho errado até uma profundidade de cerca de 20 centímetros. Aqui parece que se repetiu a mesma situação que ocorrera com a serra, ou seja, duas operações de alta velocidade nas quais foram cometidos erros antes que os operadores tivessem tempo de corrigi-los.
|