O DEUS HÓRUS ERA ADORADO NA CIDADE DE EDFU sob uma forma diferente: um disco solar provido de um grande par de asas de falcão. Aqui vemos essa divindade, ladeada por serpentes uraeus, representada num friso de arquitrave na tumba do príncipe Amonher-Kopchef, um dos filhos de Ramsés III (c. 1194 a 1163 a.C.). A lenda narra que no reinado de Rá, não o deus-Sol, mas um rei primitivo do Alto e Baixo Egito, as tropas reais estavam na Núbia quando o soberano foi informado de que havia uma conspiração contra ele no Egito. Parecia que os conspiradores estavam sendo ajudados por forças malígnas ou talvez fossem demônios cujo lider era Seth. O rei navegou pelo Nilo em direção ao norte e, ao chegar a Edfu, ordenou a seu filho Hórus que combatesse o inimigo. Hórus voou pelo firmamento, tomando a forma de um disco solar com asas e, ao avistar o inimigo, desceu voando para o ataque. Inflingiu tantos danos aos rebeldes que eles fugiram. Como recompensa por essa proeza, o rei conferiu ao seu filho o título de Hórus de Edfu.
OS INIMIGOS, ENTRETANTO, ainda não estavam derrotados. Transformaram-se em crocodilos e hipopótamos e atacaram o barco de Rá. Novamente Hórus e seus seguidores venceram os adversários, harpoando-os de dentro do barco. Assumindo novamente a forma de um disco solar alado e permanecendo estacionário na proa da embarcação, Hórus perseguiu os sobreviventes por todo o Alto e Baixo Egito, inflingindo-lhes terrível derrota. Ele degolou Seth na frente de Rá e arrastou-o pelos pés por todo o Egito. O disco alado é uma personificação do próprio conceito de vitória, já que as asas são um antigo símbolo de liberdade e o Sol representa o poder do deus Rá.
NA SEGUNDA PARTE DESTA LENDA os personagens mudam um pouco, pois Hórus, o filho de Rá, é substituido de forma confusa por Hórus, o filho de Osíris. O líder dos adversários continua sendo Seth, renascido e, agora, inimigo de Osíris. Seth assume a forma de uma serpente e a luta prossegue por todo o Baixo Egito até atingir as fronteiras da Ásia. Hórus toma a forma de um cajado com uma cabeça de falcão e uma ponta triangular em forma de lança e, novamente, sai vencedor. Para garantir sua vitória, ele navega em direção ao sul, até o Alto Egito, para pôr fim a uma outra rebelião. Como recompensa por esse triunfo, Rá decreta que o disco solar alado deve ser colocado em todos os templos e santuários de todas as divindades como proteção contra os inimigos.
ESSA DIVINDADE FICOU conhecida como Hórus de Edfu ou Hórus de Behdet (Heru-Behdety, em egípcio), por ter sido cultuada nas duas cidades, nas quais templos foram erguidos em sua honra. Edfu, cujo nome egípcio antigo era Mesen, situava-se no Alto Egito e os gregos, tendo associado o Hórus de Edfu ao seu deus Apolo, deram nome de Apolinópolis Magna à cidade. Nela o deus fazia parte de uma tríade, tendo Hátor como esposa e Harsomtus como filho. No Alto Egito a divindade também era adorada na antiga Nekhen, a Cidade do Falcão, a Hieracômpolis dos gregos e atual Kom el-Ahmar. Por sua vez, Behdet situava-se na região ocidental do delta nilótico. Seu nome atual, Damnhour, deriva da antiga palavra egípcia dmi- -Hor e significa Cidade de Hórus. A forma mais usual de representação da divindade era a de um disco solar alado colocado sobre as portas de seus santuários. Alternativamente era mostrada como um falcão pairando sobre o faraó nas cenas de batalha, com as garras segurando o mangual da realeza e o amuleto símbolo da vida eterna. Ainda pode aparecer como um homem com cabeça de falcão usando a coroa dupla, ou como um falcão, também com a dupla coroa. Um de seus símbolos é o cajado com cabeça de falcão com o qual o deus Seth foi destruído. Acima, um falcão colossal de granito cinza da entrada da sala hipóstila do templo de Edfu.
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