, Os Jardins

OS JARDINS




JARDIM Os antigos egípcios gostavam imensamente de possuir jardins em suas residências e deles cuidavam com muito esmero. Tanto no campo quanto na cidade, cada proprietário queria ter o seu e cultivar verduras, legumes e frutas. Os que tinham poucas posses plantavam pelo menos algumas árvores nos pequenos quintais de suas moradias. As pessoas abastadas mandavam construir jardins que rivalizavam em exuberância e dimensões com as próprias residêndias. Durante a III dinastia (c. 2649 a 2575 a.C.), nos informa R. El Nadury, professor de história antiga da Universidade de Alexandria, era comum um alto oficial possuir um jardim com mais de 1 ha sempre com uma piscina, traço distintivo dos jardins egípcios. O jardim era organizado em torno de uma ou mais piscinas. Elas serviam como viveiros de peixes, reservatórios de água e como fonte de ar fresco para a casa, que se situava nas proximidades. Muitas vezes o dono da casa mandava construir um gracioso pavilhão de madeira junto da piscina, onde pudesse respirar o ar fresco da noite e receber amigos para um drinque refrescante.

Tendo em vista o clima quente e árido do Egito, o papel refrescante dos jardins sempre foi importante. Eles eram formados por quadrados e retângulos cortados perpendicularmente por aléias guarnecidas de flores, sombreados por caramanchões e ladeados por árvores frutíferas tais como videiras, tamareiras, figueiras e palmeiras. Belos cachos de uvas azuis, que os egípcios adoravam saborear, pendiam e ornamentavam os ramos das videiras. À sombra de quiosques sob as árvores, os donos da casa faziam suas refeições durante o verão. As bebidas eram refrescadas em grandes recipientes ocultos por entre a folhagem, ao lado de mesas e prateleiras nas quais os criados arrumavam com arte as várias iguarias da culinária egípcia. Os gansos do Nilo circulavam livremente pelos pátios e jardins, tolerados em liberdade pelo fato de serem excelentes guardas com seu grito rouco. Todo jardim possuia o seu lago, construído em alvenaria, retangular ou quadrado e recoberto por nenúfares entre os quais os patos se banhavam. No espelho d'água uma barca poderia estar à disposição para um passeio dos proprietários da moradia. Embora o mel e a cera de abelha fossem buscados no deserto por homens especializados nesse ofício, também havia criação de abelhas nos jardins das residências. Para a formação das colmeias colocavam-se jarras de cerâmica e os apicultores caminhavam sem proteção por entre os insetos, afastando-os com as mãos nuas para recolher os favos.

Tanto quanto para os grandes cultivos, a irrigação desses jardins era um trabalho longo e fatigante. Eles tinham que ser aguados regularmente porque estavam geralmente situados nas terras mais elevadas, não atingidas pelas cheias. Seu cultivo prolongava-se pelo ano todo. Entre os trabalhos de jardinagem, é apenas sobre esse detalhe da rega que possuímos algumas informações. Do restante do manuseio das plantas nada sabemos. Uma piscina, normalmente sombreada por árvores, servia de reservatório e era interceptada por regos. A água podia ser proveniente de canais ligados ao Nilo ou de uma cisterna. Tais regos eram enchidos, ainda no Império Médio (c. 2040 a 1640 a.C.), por meio de jarras redondas de cerâmica. Os recipientes eram levados suspensos numa vara transportada por dois homens e o conteúdo despejado nos regueiros que distribuíam a água da rega por todo o jardim. Portanto irrigava-se o jardim dirigindo-se a água diretamente dos regos para o solo cultivado, ou usando-se os cântaros enchidos nas piscinas como se fossem regadores. Com a invenção do shaduf, um artefato dotado de um recipiente e um contrapeso destinado a retirar água de um reservatório, o trabalho foi grandemente facilitado. Cultivava-se comumente nesses jardins: feijão, lentilha, alface, cebola, porro, melões, abóboras; frutas como tâmaras, figos e romãs e flores, muito usadas nos enfeites de festivais religiosos e seculares.

As piscinas artificiais podiam ser bastante grandes. Na IV dinastia, no palácio do faraó Snefru (c. 2575 a 2551 a.C.) havia um verdadeiro lago com dimensões suficientes para que o rei pudesse navegar acompanhado de jovens remadoras vestidas com roupas diáfanas. Na V dinastia, o vizir e grande arquiteto do rei Izezi (c. 2388 a 2356 a.C.) relatou em seu túmulo a construção de um jardim no palácio do faraó. Na XVIII dinastia, o palácio de Amenófis III (c. 1391 a 1353 a.C.), em Tebas, também dispunha de uma imensa piscina. Seu filho Akhenaton (c. 1353 a 1335 a.C.) mandou construir ao sul da cidade de Akhetaton (Tell el-Amarna) o recanto conhecido como Maru-Aton, uma espécie de jardim-santuário dedicado ao deus Aton e que dispunha de várias piscinas cobertas. Ali ainda se conserva, no solo de um dos recintos, pinturas que nos dão uma viva imagem da expressiva magnificência dos ornamentos vegetais que deviam tornar aquela paisagem paradisíaca. O templo de Amon, em Tebas, possuia no Império Novo (c. 1550 a 1070 a.C.) um jardim ao norte e outro ao sul, bem como uma piscina artificial acessada por meio de uma entrada monumental.

Nas pinturas dos túmulos de funcionários importantes do mesmo período são comuns as representações de cenas de jardins, pois eles eram símbolos da sobrevivência após a morte. Tais cenas incluem piscinas, cuja água é retratada por meio de linhas onduladas. Uma das mais representativas é a do túmulo de Nebamon, escriba dos celeiros, da XVIII dinastia (c. 1550 a 1307 a.C.), que vemos reproduzida no alto desta página. A cena parece mostrar um jardim que poderia ter pertencido a Nebamon. Entretanto, como muitas outras cenas tumulares, tem provavelmente uma significação mais profunda já que uma cena de jardim num túmulo também é um símbolo de uma nova vida. O desenho, de um realismo surpreendente, mostra uma piscina cheia de pássaros, flores de lótus e tilápias, que são peixes de água doce, enquanto papiros crescem ao longo da margem. Surgem também palmeiras, sicômoros, mandrágoras e outros arbustos. Entre as árvores destaca-se a tamareira, frequentemente reproduzida nesses casos, pois era considerada pelos egípcios como uma árvore da vida e que tinha o dom de garantir a sobrevivência no além-túmulo para quem comesse do seu fruto. Em um canto está a deusa Hátor, sob sua forma de árvore, apresentando oferendas a quem quer que estivesse à direita da cena, provavelmente Nebamon e esposa. Tendo 64 centímetros de altura máxima, esse e outros dez fragmentos da decoração daquele túmulo encontram-se hoje em dia no Museu Britânico de Londres. Para ver dois detalhes ampliados dessa obra, clique aqui e aqui. Para ver o possível proprietário desse jardim, como foi retratado em seu túmulo, clique aqui.



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