Durante excavações realizadas em janeiro de 2000, num sítio arqueológico denominado Tel Ibrahim Awad, situado no delta oriental do Nilo, foi descoberto um grande templo do Império Médio (c. 2040 a 1640 a.C). Por baixo dessa construção existem traços de cinco templos ainda mais antigos, datando o primeiro deles de cerca de 3100 a.C. Esse último seria pelo menos tão antigo quanto o de Hieracômpolis, o mais antigo templo já descoberto até agora. A planta do mais antigo destes templos é diferente de tudo o que já foi descoberto anteriormente no Egito, sendo impar em sua simplicidade. Trata-se de um único recinto retangular contendo um nicho para abrigar a estátua do culto. Não há nada comparável entre os demais templos já encontrados. Para a maioria das camadas de Tel Ibrahim Awad, a cerâmica, a arte e as técnicas de construção repetem a grosso modo aquelas empregadas em outras partes do Egito, mas a singularidade do nível mais antigo escavado pode ser explicada porque sua edificação aconteceu antes que Narmer unificasse o Alto e o Baixo Egito e estabelecesse as dinastias faraônicas que regeriam o país durante quase três milênios. Também não se conhece nenhum outro sítio arqueológico onde tenha sido construída uma série semelhante de templos erguidos uns sobre os outros e que datem de época tão remota.
Nos diversos templos, os arqueólogos descobriram milhares de fragmentos e objetos de barro, bem como estatuetas esculpidas em marfim e quase 100 imagens de animais de cerâmica, provavelmente usadas como oferendas votivas e, talvez em alguns casos, como estátuas de culto. A maioria das figuras animais era de babuínos. Como as leis dos antigos egípcios impediam que os objetos usados em adoração religiosa fossem profanados, eles tinham que ser obrigatoriamente guardados nos templos. Nos templos mais antigos foram encontrados ossos de hipopótamo, uma indicação da importância da caça para a época. Nenhum tecido ou papiro foi encontrado. Diferentemente do que ocorria no Alto Egito, onde a pedra e a madeira eram abundantes, os construtores dos primeiros templos de Tel Ibrahim Awad dispunham pouco destes materiais. Usavam-nos, então, em lintéis e soleiras de portas. As demais partes dos templos eram construídas com tijolos de lama não cozidos, que ficaram bem conservados apesar do elevado grau de umidade da área do delta. Ao lado do templo, foram descobertas 50 tumbas pequenas de vários períodos. Descobriu-se, também, uma sepultura maior da I dinastia (c. 2920 a 2770 a.C.), na qual foram achados ricos objetos de cerâmica e de pedra e recipientes de bronze.
Não podemos derrubar um templo como Karnak para alcançar os níveis inferiores — afirmou na ocasião o egiptólogo da Universidade da Pensilvânia, Josef Wegner. Encontrar um sítio como Tel Ibrahim Awad no qual se pode desenterrar os templos um a um é muito significativo. Há muito poucos sítios como esse. O local é uma ampla colina natural arredondada, elevando-se a dois metros de altura sobre uma luxuriante gleba cultivada com pastagem, cana-de-açúcar e feijões. O templo mais novo tinha 38 metros de comprimento por 14 de largura, mas à medida em que a equipe foi se aprofundando nas escavações os tamanhos começaram a diminuir. O último templo escavado mediu apenas sete metros de comprimento por quatro de largura.
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