Na decoração funerária vemos a esposa ou, por vezes, a mãe do proprietário do túmulo vestida de forma simples mas elegante, sentada comodamente com o marido a uma mesa de oferendas, numa estátua de grupo ou numa falsa-porta. Ela também pode estar acompanhando o esposo quando ele vai aos locais de trabalho. Entretanto, na maioria das vezes, é representada em cenas nas quais o casal apresenta oferendas. Isso talvez indique que o lugar da mulher era em casa. Nas tumbas também foram encontradas cenas ou estatuetas de servas e de mulheres fazendo pão e cerveja, fiando e tecendo, as quais são, igualmente, atividades sedentárias e caseiras. Na foto ao lado vemos uma estátua de madeira de uma serva transportando oferendas. A pele das mulheres era representada na cor amarela, indicando uma menor exposição ao sol do que a cor vermelha com a qual eram apresentadas as figuras masculinas. É até possível que nas épocas mais antigas não fosse muito seguro para a mulher sair às ruas. Num texto póstumo, Ramsés III (c. 1194 a 1163 a.C.) afirma: Tornei possível à mulher egípcia seguir o seu caminho, podendo as suas viagens prolongar-se até onde ela quiser, sem que qualquer outra pessoa a assalte na estrada.Isso pode significar que anteriormente a situação era diferente. Nos túmulos mais antigos — nos informa o egiptólogo John Baines — as mulheres estão ausentes dos trabalhos mais importantes e das diversões mais agradáveis, mas também não têm de realizar as tarefas mais duras. Os homens, por exemplo, fazem vinho, o que é mais árduo do que fazer cerveja. Para além das cenas de tocadoras de instrumentos e de dançarinas muito acrobáticas, o papel das mulheres nos períodos mais antigos parece ter sido muito modesto, embora isso possa ser devido a não podermos interpretar integralmente as fontes. No Império Novo (c. 1550 a 1070 a.C.) as mulheres passaram a ter uma importância muito maior, o seu vestuário a ser mais esmerado e o conteúdo erótico das cenas em que são representadas mais definido, se bem que ainda muito codificado. O Período Tardio (c. 712 a 332 a.C.) regressa praticamente ao antigo decoro.
Conforme explica Wilfried Seipel, professor de egiptologia da Universidade de Constança: Títulos importantes não eram conferidos às mulheres. Seu poder político era muito pequeno, com exceção de alguns membros da família real e das rainhas reinantes. Analfabetas em sua maioria, ficavam excluídas da burocracia. Idade e sensatez eram qualidades respeitadas nos homens, mas não nas mulheres. Ao serem representadas nos túmulos são sempre mostradas como jovens: não se distingue sequer a mãe de um homem da sua mulher. Esse modo de mostrá-las faz parte da interpretação que os homens faziam delas e evidencia um estado de coisas ideal. Na realidade — acredita Baines —, a influência das mulheres talvez não fosse tão circunscrita e podem ter desempenhado papeis muito mais variados do que as provas parecem sugerir.
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