Pesquisadores da Universidade de Melbourne usaram as tecnologias da tomografia computadorizada e da impressão em 3D, bem como ciência forense e arte, para reconstituirem o rosto desta múmia. Como e por que aquela instituição australiana tinha uma cabeça egípcia mumificada, sem o corpo, no porão do edifício da Faculdade de Ciências Biomédicas, é um mistério. Suspeita-se que ela pode muito bem ter feito parte da coleção de Professor Frédéric Wood Jones (1879-1954), que antes de se tornar catedrático de anatomia na Universidade em 1930, havia realizado trabalho de pesquisa arqueológica no Egito.
A mulher, à qual os pesquisadores deram o nome de Meritamun, que significa a amada do deus Amun, deve ter vivido por volta de 300 a.C. e falecido com idade entre 18 e 25 anos. Embora ela esteja coberta por bandagens firmemente atadas e enegrecidas em função do óleo e do fluído do embalsamamento, como pode ser visto na foto abaixo, suas características delicadas estão bem claras. O requinte das bandagens feitas de linho sugere que Meritamun pertencia a uma classe alta da sociedade do seu tempo. O escaneamento revelou que o crânio se encontra em condição muito boa e tem olhos artificiais, o que não era incomum porque se buscava fazer com que as múmias tivessem melhor aparência do que aquela que as pessoas tinham em vida. Foram constatados severos absessos ao redor dos dentes e nas gengivas, que devem ter causado muita dor e podem ter impactado na saúde da jovem. Também há marcas no crânio indicando que ela sofreu de anemia e a causa pode ter sido a malária, ou a esquistossomose, ambas muito presentes no delta do Nilo na antiguidade. Se foi esse o caso, no final da vida ela deve ter se tornado pálida e letárgica. Sem o resto do corpo é impossível saber com certeza como ela morreu, mas a anemia poderia ter sido certamente um fator predisponente, assim como os abscessos, se eles tivessem se tornado seriamente infectados.
A impressão do crânio em 3D, realizada a partir dos dados da tomografia e cuja foto pode ser vista ao lado, exigiu 140 horas de trabalho do computador para ser realizado e a escultora forense Jennifer Mann utilizou-o como base para reconstituir a face. A artista chama atenção para o fato de que qualquer reconstrução facial é apenas uma aproximação de como alguém realmente se parecia em vida. Depois de longo debate sobre qual teria sido a cor da pele dos antigos egípcios, os pesquisadores optaram por uma cor de azeitona escura. O cabelo foi reconstituido baseado no de Lady Rai, uma egípcia que viveu entre 1570 e 1530 a.C., cujo corpo mumificado está agora no museu egípcio no Cairo.
Para os egípcios antigos, mumificação dizia respeito à preservação do corpo de forma que o espírito da pessoa morta pudesse achá-lo novamente e assegurar vida perpétua no além-túmulo, enquanto nesta vida seu nome era preservado em sua tumba. Tragicamente para esta cabeça mumificada, seu nome se perdeu há muito tempo, mas os pesquisadores sentem que lhe dando um nome e reconstituindo sua face fizeram alguma coisa para compensar o que aconteceu a ela e devolveram um pouco da sua identidade. Fotos copyright de Paul Burston.
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