Um papiro grego menciona leões que teriam sido enterrados na necrópole de animais sagrados em Saqqara, mas nenhum deles havia sido encontrado até novembro de 2001 quando arqueólogos franceses localizaram o primeiro exemplar de um leão mumificado pelos antigos egípcios, na tumba de Maya, uma suposta ama-de-leite de Tutankhamon. O fato é excepcional porque esta é a primeira vez na qual um esqueleto completo de leão é descoberto num local sagrado da era faraônica e confirma que aqueles felídeos estavam incluídos no culto de adoração animal que proliferou nos séculos finais do longo reinado dos faraós.
O leão macho encontrado está entre os maiores conhecidos pela ciência e seus ossos demonstram que viveu em cativeiro até uma idade avançada. Embora Maya tenha sido enterrada mais ou menos em 1430 a.C., isso não significa que o animal encontrado tenha sido enterrado junto, porque nos últimos séculos antes de Cristo a tumba foi reutilizada para outros funerais de seres humanos e animais, na maior parte das vezes, gatos mumificados. O que se encontrou, e que vemos na foto acima, foi um esqueleto virtualmente completo de um leão que um dia havia sido mumificado. Ainda que não tenham sido encontradas bandagens de linho para confirmar que o corpo haja sido realmente mumificado, há outras evidências mostrando que assim ocorreu. É o caso da posição do esqueleto, da presença de pequenos fragmentos de tecido deteriorados dentro da cavidade dos dentes caninos, e dos depósitos nos ossos e a coloração deles, similares às de gatos mumificados descobertos no local.
O leão é um animal que tem uma longa associação com o faraó. O rei era encarado como se fosse um daqueles animais e tivesse suas características de domínio e coragem. Nos últimos séculos antes de Cristo o Egito sofreu invasões de povos estrangeiros e a onda de interesse pelo culto do felídeo pelos antigos egípcios pode ter sido uma maneira de firmar a identidade do povo na presença desses intrusos, até mesmo uma expressão do nacionalismo egípcio. Inscrições sugerem que os leões eram criados em recintos especiais a eles destinados e enterrados em cemitérios sagrados. O animal que foi encontrado estava colocado sobre uma rocha com a cabeça voltada para o norte e o corpo orientado na direção do leste. Acredita-se que ele possa ter sido considerado uma encarnação do deus Maahes, filho de Rá e Bastet.
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