Os médicos do antigo Egito eram célebres por seus conhecimentos sobre ginecologia. Um dos reis hititas escreveu ao faraó Ramsés II (c. 1290 a 1224 a.C.) solicitando-lhe remédios que tornassem fértil sua própria irmã. O faraó — com pouca cortesia, mas com prudência — respondeu-lhe que sua irmã, com mais de 60 anos, não podia mais ter filhos. Diplomaticamente informou que, se desejado, poderia enviar um bom mágico e um médico hábil: eles poderiam preparar para ela algumas drogas para a procriação. Papiros médicos que eram utilizados desde o tempo das pirâmides permitiam que as jovens esposas letradas, consultando-os, pudessem cuidar de diversos males que viessem a acometer os seus familiares ou a si mesma. Grande parte destes textos eram dedicados à ginecologia e tratavam das doenças específicas do sexo feminino. As indicações médicas haviam sido redigidas depois de muitos anos de acúmulo de experiências práticas. Tais papiros descrevem sintomas, estabelecem um diagnóstico baseado em tais sintomas e prescrevem o tratamento adequado. Os médicos egípcios distinguiam claramente as afecções do útero, da vulva ou da vagina e foram capazes até de diagnosticar o câncer do útero, descrevendo-o como uma doença que devorava os tecidos. A egiptóloga Christiane Noblecourt nos conta que uma jovem dona-de-casa egípcia, com 21 anos, mais ou menos depois do nascimento de seus sete filhos, começou a sentir fraqueza e enxaquecas, além de incômodos de todo tipo. Isso a obrigou a consultar seu rolo-dicionário de medicina. Ela não havia melhorado com os remédios indicados por sua mãe e por sua antiga ama. Por outro lado, não conseguia estabelecer muito bem a identidade entre aquilo que sentia e os sintomas descritos nos papiros. Para garantir tratamento eficaz, precisou consultar um médico e fazer um exame clínico. O especialista acreditava que poderia ter ocorrido um desvio do útero e era necessário a colocação de uma espécie de pessário. Havia ocorrido uma inflamaçõo daquele órgão e antes de mais nada era preciso fazer injeções vaginais. O instrumento apropriado para a tarefa era um chifre de bezerra adaptado para esse uso. Depois, a dama devia cuidar-se com fumigações. O produto era vertido sobre um tijolo aquecido até se tornar branco e sobre o qual ela devia se manter agachada, o mais perto possível do calor. O médico recomendou que seguisse as instruções à risca, caso contrário ela seria obrigada a aplicar um meio de limitar os nascimentos e usar um dos medicamentos anticoncepcionais conhecidos para tornar uma mulher estéril por dois ou três anos. Caso engravidasse, ele seria obrigado a fazê-la abortar, o que só seria praticado devido a razões muito sérias. O remédio receitado para torná-la infecunda foi o seguinte: Fazer com que uma mulher deixe de engravidar durante um ano, dois anos, três anos: vagens (?) de acácia, coloquíntidas, tâmaras, trituradas em meio litro de mel. Impregnar com isso um tampão. Colocar na vagina.Ao que se sabe, a jovem doente cuidou-se com empenho, pois ainda queria dar filhos a seu marido e evitar que ele se visse tentado a tomar uma concubina entre as servas ou empregadas da casa, o que era socialmente aceito. Num país onde a taxa de mortalidade era tão elevada, a fertilidade era importante para as mulheres. Os filhos eram vitais pela sua contribuição ao trabalho e para continuidade da família. Vários textos ginecológicos apresentam receitas para perturbações reprodutivas, prognósticos de nascimento, contracepção e aborto. Arqueólogos encontraram numerosas pequenas figuras de gesso representando mulheres cujas formas realçam os órgãos genitais. Provavelmente eram oferecidas pelas mulheres que buscavam a própria fertilidade. Essas figuras fogem aos padrões da representação egípcia. A oferta de tais objetos foi sempre considerada um meio tão eficaz de contribuir para a conepção de um filho quanto ir ao médico.
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