A FENIX OU AVE BENU


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PÁSSARO FÊNIX A CONSTRUÇÃO DAS pirâmides estava ligada ao culto do deus . Os obeliscos, por sua vez, também eram objetos do culto daquela divindade. Heliópolis era o maior centro teológico dos primórdios do Egito antigo. Lá estava localizado o principal templo de Rá, deus que representa o Sol no auge do seu esplendor e que nos tempos mais primitivos recebia o nome de Atum. Os Textos das Pirâmides, a maior coleção de textos religiosos descoberos pelos arqueólogos, foram escritos, na sua maior parte, pelos sacerdotes heliopolitanos. Segundo a cosmogonia de Heliópolis, esse deus criador — Atum — surgiu como uma grande colina que emergiu do Oceano Primordial.

SEMELHANTE IDÉIA — escreve T. Rundle Clark, professor de História Antiga da Universidade de Birmingham — podia facilmente ser derivada dos montes de terra que todo ano emergiam das águas quando a enchente do Nilo baixava. Logo as ervas daninhas brotavam nos pequenos outeiros enlameados e fervilhavam de insetos e vida animal. A própria terra parecia ser a fonte de miríades de novas criaturas. Como as águas se encontravam em absoluta escuridão, a emersão do deus significava o aparecimento da luz, a primeira manhã. Para os heliopolitanos — prossegue Clark —, a manhã era simbolizada pelo brilho da luz sobre um pilar ereto, ou um topo de pirâmide apoiado em uma base refletindo os raios do Sol nascente. No início um pássaro de luz, a Fênix, pousara no suporte sagrado, conhecido como Benben, a fim de começar a grande era do deus visível. A elevação da colina e o aparecimento da Fênix não são acontecimentos consecutivos, mas atos paralelos, dois aspectos do supremo momento criador. No entendimento dos egípcios, essa aparição original da divindade não foi única, mas, num certo sentido, repetia-se a cada alvorecer. Também se repetia quando a alma renascia após a morte. A cerimônia de entronização dos reis, por sua vez, partia do princípio de que os ritos solenes eram, de certo modo, um retorno aos eventos originais da criação. O templo que guardava a pedra Benben era o local onde se repetiam de forma cerimonial os mistérios da criação.

OUTRA VERSÃO HELIOPOLITANA da origem da Fênix nos conta que Geb, o deus terra, e Nut, a deusa céu, produziram o Grande Ovo do qual se originou o deus-Sol na forma daquele pássaro. Em síntese a Fênix, conhecida dos egípcios como Ave Benu, era uma das formas primitivas do Deus Supremo. É, essencialmente, um aspecto de Deus e não uma divindade menor. É a primeira e mais profunda manifestação da alma do Deus Supremo. Associada à criação do mundo, quando a Fênix deu seu primeiro grito, iniciou os ciclos do tempo e, portanto, seu templo em Heliópolis tornou-se centro regulador do calendário. Sendo um arauto de cada nova revelação divina, tornou-se um portador de bons agouros. Era ainda uma síntese das principais formas de vida, um símbolo que incluía todos os outros. Durante o Império Médio (c. 2040 a 1640 a.C.) a Ave Benu torna-se a "alma" de Osíris e símbolo do planeta Vênus, a estrela da manhã que precede o Sol vindo do mundo inferior e anuncia um novo dia.

UM OUTRO ENTENDIMENTO da origem da vida afirmava que a essência vital, chamada de Hiquê, era trazida de uma terra mágica e distante, conhecida como Ilha de Fogo. Esse era um lugar além dos limites do mundo, de luz duradoura, onde os deuses nasciam ou reviviam e de onde eram enviados ao nosso mundo. A Fênix era o principal mensageiro dessa terra inacessível dos deuses. Assim, a Fênix veio do longínquo mundo da vida eterna, trazendo a mensagem da luz e da vida que se encontrava antes engolfada no desamparo da noite primeva. Ao terminar seu vôo desceu em Heliópolis, centro simbólico da Terra, onde anunciou a nova era.