Os faraós, líderes de uma sociedade complexa e sofisticada que se caracterizou por um grande florescimento artístico e técnico, empunharam um poderio total e, através dos séculos, incorporaram a si mesmos atributos divinos. Mas eles eram, a despeito disso, apenas seres humanos e é o que justamente os torna interessantes. Mesmo as gigantescas imagens estilizadas esculpidas sob a forma de deuses trai a sua mortalidade, pois o conceito do homem-deus é uma das fraquezas da humanidade.
É lógico que sob suas ricas e lindíssimas coroas os faraós possuíam uma dimensão humana. Sem nenhuma sombra de dúvida eram, como qualquer mortal, sensíveis ao amor e ao ódio, à ambição e à desconfiança, à cólera e ao desejo. Embora durante toda a história do Egito antigo a arte e a literatura tenham mostrado os faraós de forma esteriotipada, enquadrados em um ideal perfeccionista, a arqueologia nos permite hoje conhecer muitos deles como indivíduos que são, dotados de personalidade própria. Alguns estiveram à altura do desafio, como Tutmósis III (c. 1479 a 1425 a.C.) que teria sido um grande rei em qualquer época; outros apresentaram falhas e o poderio do Egito foi humilhado mais de uma vez; outros ainda tiveram pouca importância, como Tutankhamon (c. 1333 a 1323 a.C.) que hoje é celebrado apenas porque sua tumba foi encontrata intacta e, finalmente, um deles, Akhenaton (c. 1353 a 1335 a.C.), desafiou os valores do seu próprio mundo e abalou o Egito até os alicerces.
No alto desta página vemos uma estatueta inacabada que mostra Akhenaton beijando uma figura feminina. Este é um dos trabalhos inacabados mais incomuns achados no Egito. Feito de pedra calcária, mede 39,5 centímetros de altura. A cena retratada foge totalmente do repertório clássico da arte egípcia. As duas figuras são representadas num grau de intimidade que tem poucos paralelos na arte do vale do Nilo.
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