ESTELA DE TUTMÓSIS IV Entre as enormes patas da esfinge de Gizé existe uma estela com formato retangular, medindo 144 cm de altura por 40 cm de largura, que registra um sonho que Tutmósis IV (c. 1401 a 1391) teria tido quando ainda era apenas um príncipe. Ele sonhou que durante uma expedição de caça no deserto parou para descansar à sombra da esfinge. Enquanto dormia, a esfinge lhe dirigiu a palavra e revelou que ele se tornaria rei se removesse a areia na qual ela estava quase que totalmente enterrada. Depois de atender ao pedido da esfinge ele se tornou faraó e ergueu uma estela que conta a história do seu sonho. Uma capela foi construída próximo ao monumento para venerar esta divindade solar.

A estela está datada do Ano 1, terceiro mês da primeira estação, dia 19, sob a majestade de Horus (...) o Rei do Alto e do Baixo Egito Menkheprure, ou seja, do primeiro ano do rei. Esta deve ser a data na qual a inscrição foi feita. O texto sugere que houve um período prolongado de tempo entre a promessa feita pela divindade para o príncipe e seu cumprimento eventual. Talvez tivessem sido decorridos 20 ou 30 anos e o faraó estaria na meia-idade; com certeza ele não era mais o homem jovem de quando o incidente aconteceu. O rei começa sua narrativa com uma lista extensa de epítetos e continua documentando os seus despreocupados dias da mocidade, provavelmente quando se achava nos meados ou no final de sua adolescência, a julgar pelos eventos que descreve.

A versão detalhada desta história é a seguinte:

Quando sua majestade era um moço como Hórus, o jovem em Khemmis, sua beleza era como a do protetor de seu pai, ele se parecia com o próprio deus. O exército se regozijava por causa do amor a ele, aos filhos do rei e a todos os nobres. Então sua força transbordou e ele repetiu o circuito do seu poder como o filho de Nut. Houve época na qual ele praticava arremesso de lança para seu próprio divertimento nos altiplanos do nomo menfita, em suas estradas do sul e do norte, onde ele arremessava dardos de bronze no alvo e caçava leões no vale das gazelas. Ele ia montado em sua carruagem de dois cavalos e estes eram mais rápidos do que o vento. Com ele iam dois de seus criados. Ninguém os reconhecia.

Então chegava a hora na qual ele concedia descanço aos seus criados. Ele se aproveitava disto para apresentar a Horemkhu, junto ao [templo de] Seker na cidade dos mortos, e para a deusa Rannu, uma oferenda das sementes das flores em seu apogeu [e para rezar à grande mãe Isis, a senhora da] muralha norte e a senhora da muralha sul, e para Sekhet de Xois, e para Seth. Por um grande encantamento repousa neste lugar desde o início dos tempos, até onde chegam as regiões dos senhores da Babilônia, a estrada sagrada dos deuses para o horizonte ocidental de On (Heliópolis), porque a forma da Esfinge é um retrato de Kheper-Ra, o grande deus que ali habita, o maior de todos os espíritos, o ser mais venerável que ali repousa. Para ele os habitantes de Menfis e de todas as aldeias da região elevam as mãos para rezar ante seu semblante e lhe presentear com ricas oferendas.

Num destes dias aconteceu, quando Tutmósis, o filho do rei, havia chegado de sua viagem por volta do meio-dia e se deitara para descansar na sombra desta grande divindade, que o sono tomou conta dele. Ele sonhou em seu repouso, no momento em que o sol estava no zênite, e lhe pareceu que este grande deus falava com ele com sua própria boca, da mesma maneira que um pai fala com seu filho, dizendo-lhe assim:

Olhe para mim, observe-me, meu filho Tutmósis. Eu sou teu pai, Harmakhis-Khepra-Rá-Atum. O império te será dado (....) e tu usarás a coroa branca e a coroa vermelha no trono do deus-terra Geb, o mais jovem (entre os deuses). O mundo será teu em sua extensão e em sua amplitude, até onde a luz do olho do senhor do universo brilha. Abundância e riqueza serão tuas; o melhor do interior da terra e ricos tributos de todas as nações; longos anos te serão concedidos como tempo de vida. Meu semblante é afável contigo e meu coração te abraça; [eu te darei] o melhor de todas as coisas.

Minha condição é como a de alguém que está doente, todos os meus membros estão sendo arruinados. A areia da região na qual levo minha existência, me cobriu. Prometa-me que farás o que eu desejo em meu coração; então eu ficarei sabendo se tu és meu filho, meu ajudante. Vá em frente e deixe me unir contigo. Eu sou. . .

Depois disto [Tutmósis despertou e repetiu todo este discurso] e entendeu [o significado] das palavras do deus e as depositou em seu coração, dizendo para si mesmo:

Eu vejo como no templo da cidade os moradores honram este deus com presentes sacrificatórios [sem pensarem em livrar da areia o trabalho do rei] Khaf-Ra, a estátua que foi feita a Atum-Harmakhis.

O restante do texto se perdeu, mas como Tutmósis se tornou faraó, não é difícil imaginar o que aconteceu.

No alto da página vemos a foto de uma réplica da estela
pertencente ao Rosicrucian Egyptian Museum.



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