Existem na pirâmide de Kéops quatro condutos que sempre intrigaram os arqueólogos e fizeram nascer várias teorias sobre suas respectivas finalidades. Na figura ao lado eles aparecem assinalados em vermelho. Dois deles saem da câmara do rei, atravessam todo o monumento e abrem-se para o exterior. Os outros dois saem da câmara da rainha, mas não alcançam o exterior da pirâmide. Na realidade, originalmente esses dois últimos estavam totalmente selados e invisíveis. Foi somente em 1872 que o arqueólogo britânico Waynman Dixon, num misto de intuição e sorte, perfurou as paredes do recinto e expôs as aberturas inferiores dos condutos. A idéia de inspecionar esses quatro condutos partiu de um engenheiro alemão, Rudolf Gantenbrink, especializado em robótica. Ele buscou a colaboração do Instituto Alemão de Arqueologia e, empregando um robô que ele mesmo projetou e construiu, iniciou em 1992 a exploração do interior daquelas passagens misteriosas da Grande Pirâmide. Estou convencido — ele afirmou — de que os condutos marcam a primeira fase de construção da pirâmide. Eles são elementos básicos de grande importância. De maneira simplificada, uma estrutura de pedra de tal magnitude, construída em camadas por um período de muitos anos, é um empreendimento suficientemente gigantesco para amedrontar qualquer construtor. Mas adicionar condutos diagonais através de tal estrutura complica tanto a tarefa que ela se torna o pesadelo de um construtor. Os construtores devem ter atribuído grande significado aos condutos, caso contrário eles nunca teriam se imposto uma tão volumosa dor de cabeça em termos construtivos. De modo geral os quatro condutos foram construídos com o mesmo sistema. O teto do conduto e as duas paredes laterais são formadas por um único bloco criando uma espécie de canal. A parte inferior é constituída por um segundo bloco que fecha o conjunto por baixo. Assim, as junções de conexão dos blocos superiores normalmente correm perpendiculares ao chão do conduto. Cada um destes conjuntos de dois blocos teve que ser ajustado nas camadas horizontais da pirâmide com o emprego de blocos em forma de cunha. Assim, cada seção do conduto requereu a fabricação especial de quatro blocos: o bloco A que forma o conduto propriamente dito; o bloco B que forma o piso do conduto; e os dois blocos C que se encaixam nas camadas normais do monumento. Este sistema construtivo deu origem a uma linha diagonal contínua em cada conduto, traspassando quase a metade da pirâmide. O perigo era evidente, pois formou-se uma espécie de tobogã. O deslizamento das pedras ao longo dessa diagonal necessariamente conduziria ao colapso das câmaras. Os construtores sabiam disso e criaram um sistema de encaixe dos blocos para evitar o desastre: os blocos D da figura elaborada por Gantenbrink, que vemos ao lado. Com a ajuda do robô, a equipe de pesquisadores foi capaz de medir a largura e a altura dos dois condutos da câmara do rei, ao longo de todo os seus comprimentos. Normalmente — escreveu Gantenbrink em seu site — a largura dos condutos nunca varia por mais de cinco milímetros, mas a altura dos condutos flutua em até dois centímetros (com exceção das seções dos condutos que estão incompletas). Em média, os condutos medem 20,5 centímetros de largura por 21,5 centímetros de altura. Mas nas proximidades das câmaras e nos segmentos dos condutos que formam ângulos acentuados, as flutuações são maiores. Nesses caso, a largura dos condutos varia entre 17 e 22 centímetros e suas alturas entre 14 e 23,5 centímetros. Ele informa ainda que o conduto do lado sul emerge para o exterior na centésima primeira camada da pirâmide, numa altura de 77,55 m com relação ao pavimento da base original do monumento, ao passo que o conduto do lado norte o faz na centésima segunda camada, a 78,43 m de altura. As numerosas imperfeições detectadas nos blocos que formam os condutos levam a acreditar que eles foram confeccionados, provavelmente e em sua maioria, com a pedra calcária local. |