O ABRIDOR DOS CAMINHOS


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DE ACORDO COM A concepção dos egípcios, o inferno dividia-se em doze regiões e o deus-Sol, no decorrer das doze horas noturnas, levava uma hora para atravessar cada uma delas em sua barca. Ele se fazia acompanhar de uma tripulação de deuses, entre os quais a divindade conhecida como Wepwawet, Upuaut, Apuat ou, em grego, Ofoís, que ficava junto à proa da embarcação. Além desse posto, às vezes Wepwawet assumia a mesma função do deus Shu, ou seja, separava o céu da terra. Nas imagens a deidade aparece representada como um homem com cabeça de lobo ou como um lobo em postura ereta. Sua cabeça geralmente era desenhada nas cores cinza ou branca, ao contrário de Anúbis que sempre é representado com a cabeça preta. Alguns estudiosos pensam que não se trata de um lobo e sim de um chacal. Junto da imagem da divindade geralmente é mostrado um uraeus e um hieróglifo que se acredita represente a placenta do rei.

SEU NOME SIGNIFICA Abridor de Caminhos ou de Estradas, uma provável alusão ao seu papel de guia protetor do falecido pelos caminhos do além-túmulo. Era considerado deus das necrópoles e vingador de Osíris, estando intimamente associado ao deus Anúbis, e visto ainda como companheiro do rei nas caçadas e seu mensageiro, razão pela qual também recebia o epíteto de mensageiro das estradas. Ele foi um dos primeiros deuses adorado em Abido, onde ganhou os títulos de Senhor de Abido e Senhor da Necrópole, e ali uma procissão em sua homenagem dava início às festividades dos Mistérios de Osíris, durante as quais se fazia uma reconstituição ritual da morte e ressurreição do marido de Ísis, atraíndo peregrinos de todo o país. Nesse drama ritual, Wepwawet afasta os ataques ao barco de Osíris efetuados pelos inimigos que simbolizam os partidários de Seth. Naquela cidade, posteriormente, a divindade foi substituída como deus da necrópole por Khentamentiu, um deus mumiforme, o qual, por sua vez, durante a XII dinastia (1991 a 1783 a.C.), foi substituído pelo próprio Osíris, o rei dos mortos. Outras cidades onde Wepwawet era cultuado foram Mênfis e Sais. Entretanto, seu centro principal de culto foi Asyut, capital do 13º nomo do Alto Egito, que os gregos denominaram de Licópolis, Cidade do Lobo, e na qual havia um templo a ele dedicado. Já no decorrer do Império Antigo (c. 2575 a 2134 a.C.) seu culto se espalhara por todo o país.

UM ESTANDARTE DESSA DIVINDADE era carregado na frente do faraó durante as campanhas ou desfiles militares e procissões religiosas e, no decorrer do Império Novo (c. 1550 a 1070 a.C.), ele precedia até mesmo o pendão de Osíris. Esse costume é bem velho e a divindade surge já representada em vetustas bandeiras, denominadas shedshed pelos egípcios, que são transportadas adiante do rei nas celebrações de triunfos militares em peças tão antigas quanto, por exemplo, a famosa paleta do rei Narmer (c. 3000 a.C.), na qual se vê um porta-bandeiras carregando o estandarte de Wepwawet. Ao que parece, portanto, além de desempenhar um papel dentro do culto funerário, abrindo o caminho para as almas, o deus também abria o caminho para o faraó e seu exército em suas conquistas guerreiras.

SEM DÚVIDA, abridor de caminhos era um nome bem adquado para um deus que marchava à frente do faraó no campo de batalha estendendo as fronteiras do Egito. O estandarte de Wepwawet simbolizava, nos cortejos reais, o Alto Egito, enquanto que o Baixo Exito era simbolizado pelo pendão do touro Ápis de Mênfis. Entretanto, os arqueólogos encontraram uma inscrição que informa que Wepwawet nasceu no santuário da deusa Wadjit, em Buto, no delta do Nilo, mas ao que parece trata-se de um registro inspirado em razões políticas, já que as evidências apontam o Alto Egito como sua origem. Seja como for, ele simbolizava a união do Alto e do Baixo Egito. Outra inscrição o identifica com Hórus e, assim, por extensão, com o faraó. A exemplo do que ocorria com o deus Anúbis, como divindade funerária que era, Wepwawet também usava um artefato parecido com uma enxó para abrir a boca do falecido na cerimônia da abertura da boca, a qual assegurava que o indivíduo teria restauradas todas as suas faculdades no além-túmulo.